Bandeiras devocionais do

século XVII ao século XXI

 

A obra de arte, como qualquer outro produto, cria um público sensível e apto a sentir prazer com a beleza. Por conseguinte, a produção não cria apenas um objecto para o sujeito, mas um sujeito para o objecto.

Karl Marx, Contribuição para a Crítica da Economia Política (1859). 



                        

   Gravura. Procissão de Nossa Senhora do Rosário, 1578, em Pavia, Itália. (POEL, 1981). 


Bandeira é palavra de muitos significados e adequação ao linguajar do cotidiano. Geralmente, trata-se de um pano de uma ou mais cores, com símbolos heráldicos, às vezes com legenda, distintivos de uma nação, corporação, comunidade, partido ou grupo. Pendão, estandarte, flâmula, lábaro, balção, auriflama são alguns de seus sinônimos. Para os mineiros, a palavra bandeira também se vincula aos paulistas, ou melhor, aos grupos organizados em bandeiras que adentraram os Sertões dos Cataguases para a captura de indígenas, à procura de ouro e de pedras preciosas. Numa vasta região ocupada por diversos povos pioneiros, os bandeirantes se valeram de recursos bélicos para dominar, aprisionar e escravizar os indígenas, logo promover a dizimação desses povos; os resistentes, aos poucos tiveram que se misturar aos núcleos urbanos para assegurar a sobrevivência. Após as descobertas auríferas, turbilhões ocorreram, a atrair muita gente ao território do que veio a ser as Minas Gerais – para arrancar o ouro das entranhas da terra, milhares de homens, mulheres e crianças foram capturados, sequestrados e trazidos para a colônia brasileira, como escravizados. Como afirmou o poeta:

 

[...]

Existe um povo que a bandeira empresta

P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transforma-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!...

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que imprudente na gávea tripudia?

Silêncio. Musa... chora, e chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto

Auriverde pendão de minha terra

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra

E as promessas divinas da esperança... [...]

 

Castro Alves, O Navio Negreiro, Poesias Escolhidas, p. 335.

(grifos nossos)

 

Em seu poema mais conhecido e provavelmente um dos mais fortes da poesia brasileira, Castro Alves, poeta romântico, abolicionista e republicano empregou a palavra bandeira e seus sinônimos. Bandeira, objeto impregnado de representações, teve origem em tempos longevos, praticamente impossível de se determinar exatamente quando surgiu, mas na Idade Média, quando houve a necessidade de se distinguir grupos em campo de batalha e evitar o temido “fogo amigo”, as bandeiras foram utilizadas. Valeram-se dos signos aplicados nos materiais rígidos nos tecidos, em cores acentuadas, elaboradas pelos romanos, algumas com recortes e formas distintas, como no vexillum – estandarte. Em diversas obras artísticas, na gravura em metal, na pintura a fresco, em tábuas, em telas e outros suportes cenas foram registradas e nelas bandeiras inseridas. Um dos pintores a perpetuá-las com bandeiras específicas foi Piero Della Francesca (1414-1492), artista italiano do Quatrocento.

 

A vitória de Constantino sobre Maxêncio na batalha da ponte de MilvioAfresco de Piero Della Francesca, 1464. Disponível em: https://www.wikiart.org/pt/piero-della-francesca.


Gravura em água-forte de Louis Merval, do livro L’entrée de Henri II Roi de France à Rouen au mois d’octobre de 1550. Imprimerie de Henry de Boissel, Rouen, 1868. Coleção José Mindlin, São Paulo-SP.

  

As bandeiras devocionais também passaram a ser usadas há tempos distantes. Em certas manifestações religiosas, principalmente as procissões, lá, ao abrir o cortejo, estavam elas. Segundo o Aurélio, a palavra “procissão” também tem sentido amplo, além do religioso:

 

Procissão [Do lat. processione, ‘marcha para adiante’, com metafonia do e.] S. f. 1. Cerimônia religiosa em que sacerdotes e secretários de um culto seguem, geralmente em filas, entoando preces, levando expostas imagens ou relíquias dignas de veneração etc. 2. P. ext. Qualquer acompanhamento ou cortejo; séquito, cortejo. 3. Fam. Série de pessoas que seguem umas atrás das outra. [Cf. processão.]

(FERREIRA, 1999, p.1642). 

 

Diversos artífices registraram as saídas e os percursos de cortejos com as bandeiras a propiciar maior visibilidade aos eventos, conforme podemos observar em gravuras, desenhos e pinturas tanto de origens europeias quanto brasileiras. No Brasil, dois viajantes estrangeiros nos legaram importantes registros do cotidiano sociocultural, em diversas cenas, lá estão as bandeiras, em especial as devocionais. Um deles foi francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), integrante da Missão Artística Francesa (1817) e autor de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. A obra de Debret se tornou da maior relevância, pois transformou as cenas do cotidiano, de várias partes do Brasil colonial em obras de arte, belas, mas sobretudo com expressividade. As festas dedicadas ao Divino Espírito Santo ficaram registradas, com suas bandeiras e os esmoleiros em ação, bem como o mastro e a bandeira hasteada, a demarcar o tempo de festa do provável padroeiro da edificação.

O outro viajante foi o alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), integrante da Expedição Langsdorff – apoiada financeiramente pela Academia de Ciências de St. Petersburgo, autor de Viagem Pitoresca através do Brasil. Rugendas, ao visitar a Bahia, registrou a saída de uma procissão, em Asilo de Nossa Senhora da Piedade da Bahia. Em outra obra, Festa de Nossa Senhora do Rosário, a padroeira dos negros – “que era a principal comemoração religiosa autorizada aos escravos, que logo a revestiam de rituais sincréticos e transformaram-na em reisados e procissões que estão as raízes profundas do Carnaval atual”. (DIENER, COSTA, 2012, p.574). A devoção à Nossa Senhora do Rosário ou de Pompeia vem de tempos remotos, teve divulgação na Europa e na África pelos dominicanos e no Brasil pelos capuchinhos. Em Minas:

 

Onde a invocação data dos primeiros tempos da colonização, ela foi adotada como orago de confrarias e irmandades, sobretudo as de negros, existindo em Ouro Preto, já na primeira metade do século XVIII, três sodalícios a ela dedicados. (CUNHA, 1993, p.31).

 

A devoção ao Rosário já havia sido introduzida em diversas áreas da África e Nossa Senhora do Rosário acabou eleita como a protetora dos africanos escravizados, principalmente na travessia do oceano, rumo à colônia brasileira. 

 

Carros de bois com alimentos para presos. Vivrers portés aux prisionniers par l’Irmandade do Espírito Santo. Aquarela sobre papel, assinada e datada: J.B.Debret, Rio de Janeiro, 1822. Acervo: Museu Castro Maya, Rio de Janeiro-RJ.

 

Rio de Janeiro, aquarela sobre papel, assinada J.B.D., cerca de 1817-1818. Debret. Acervo: Museu Castro Maya, Rio de Janeiro-RJ. 

 

Asilo de Nossa Senhora da Piedade da Bahia. Rugendas, s/d.Casa litográfica: Tierry Frères, cité Bergère.

 

Festa de Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros. Rugendas, s/d.Casa litográfica: Thierry Frères, succ. De Engelmann & C.ie. 

 

No Brasil, em seu amplo território, encontramos bandeiras processionais, as de carregar a abrir o cortejo ou as de hastear, ao anunciar o período festivo de certa devoção, algumas já recolhidas e expostas em museus e tantas outras ainda em uso, conforme registramos em regiões distintas. Muitas são bi-faces, ou seja, tem os dois lados com cenas, frente e verso. 

  

Bandeira processional, bi-face, óleo sobre tela, século XVII. Figura masculina com objetos da Crucificação de Cristo. Coleção particular. São Paulo-SP. (Fonte: BARDI, 1981, p. 27). 

     



Bandeira processional do Sagrado Coração de Jesus. Século XIX. Laranjeiras-SE. Fotografia: Luiz Cruz, 2016.


 

 Bandeira de mastro da festividade de São Benedito, século XX. Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Vitória-ES. Fotografia: Luiz Cruz, 2015.

 


As bandeiras devocionais em Minas Gerais

 

Em região tão distante do reino e com a proibição da entrada das ordens e dos clérigos no território das Minas, coube então às lideranças dos povoados a organização política e religiosa das comunidades. Com o incentivo da Coroa Portuguesa, surgiram as irmandades, que se proliferaram por toda a área; a mais antiga de todas, devidamente constituída, foi a Irmandade de Nossa Senhora dos Homens Pretos, da Vila de São João del-Rei, em 1708. (BOSCHI, 1986, p. 1708). Inicialmente, hospedadas nas matrizes, algumas colaboraram na construção do templo, inclusive ao edificar e ornamentar os seus retábulos; logo que possível, estas irmandades construíram os seus templos próprios e deixam as matrizes, cada grupo social e étnico com seus templos e suas devoções. Em comum entre todas, os esforços para celebrar os padroeiros e as padroeiras, com toda pompa e esmero.

A partir da localização de um recibo da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês dos Pretos Crioulos, de São José, atual cidade de Tiradentes, a registrar o pagamento ao artífice Manoel Victor de Jesus, nos deparamos com situação que pode nos propor reflexões: – estamos diante documento comprobatório da fatura de “Bandeira para o mastro das festividades” da irmandade; porém, não há informação sobre o paradeiro da referida peça. Então, recorremos à A Cripto História da ArteAnálise de obras de arte inexistente (SERRÃO, 2001), para nos ajudar a compreender tal situação:

 

É certo que os monumentos e as obras de arte também desaparecem, fruto de descuidos e abusos, de maus tratos e insolências, de actos de iconoclastia e de maus restauros, a que se junta a imprevisibilidade das tragédias naturais e as incúrias de gestão. Nem por isso, porém, deixam de ter identidade histórica que, na sua sucessão de perdas, precisa de ser contada e investigada, algo a que e pode chamar registro cripto-artístico, ou seja, uma arqueologia de memórias e indícios, ancorada nos testemunhos remanescentes [...]. (SERRÃO, 2020, p. 85).

 

O professor, pesquisador, conferencista, autor e historiador de arte português Vitor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão (1952) nos propôs que para se obter maior compreensão da arte, há que se considerar as obras vivas – as existentes, as mortas – as desaparecidas nas mais diversas circunstâncias, as inacabadas e ainda as que foram idealizadas, mas não executadas. Para tal sugeriu as seguintes vertentes para análise: 1. criptanalysis, 2. dedução, 3. reconstituição, 4. incriação. (2001, p.12). O autor enfatiza que a partir da cripto-história artística é possível à História da Arte, através dos exercícios científicos e de análises interpretativas, pode-se rememorar à luz propiciada pela documentação primária e tornar as obras “lisíveis” e ainda “visíveis”.  

Ao considerar as propostas de Vitor Serrão, há que se considerar também o ambiente de produção artística, o sociocultural – pois, a cultura resgatada não é nunca algo separado das condições materiais existentes. (MARTIN-BARBERO, 2008, p.115).

Então, no contexto cultural de São José, daquele tempo, a Irmandade de Nossa Senhora das Mercês dos Pretos Crioulos – ou seja, os pretos nascidos em solo da colônia brasileira, encomendou e pagou a Manoel Victor de Jesus, o artífice que ornamentou igrejas, capelas, consistórios, que atuou como pintor, ilustrador e arquiteto, para pintar a sua “Bandeira para o mastro de festividades”. Tal irmandade, por ser de irmãos não brancos, deveria ter seus recursos limitados, mas se esmerou para edificar e ornamentar a capela no melhor gosto da época, o Rococó. Todos os pagamentos aos mestres executores dos trabalhos da igreja ficaram registrados, arquivados e são subsistentes. 

 


Recebi do Thizoreiro da Irmde de Nossa Senhoras as Mercez Ignacio Pereira Rangel duas oitavas e meia da pintura da Bandeira para o mastro das festividades, e por verdade passo o presente de minha letra e sinal. Villa de S. Jozé 11 de fevereiro de 1817.

Manoel Victor de Jesus

                                       (Reconhecido Pereira)

Livro da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês dos Pretos Crioulos, 1787-188, folhas 18 vº. (grifo nosso).

 

Ao seguir os princípios apontados pela cripto-história da arte e diante tantas obras documentadas da fatura de Manoel Vitor de Jesus, podemos imaginar como teria sido a tal “bandeira” por ele pintada. O artífice executou a pintura do teto da nave da capela, uma estrutura de arquitetura fingida, com a cena central a apresentar a Virgem das Mercês, ali aplicou o seu conjunto de estilema, obra iniciada a partir de 1804. Para a mesma agremiação, ilustrou o Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês dos Pretos Crioulos, datado de 1796. Provavelmente, o pintor deve ter se valido de suas próprias referências para pintar a tal bandeira, em 1817. 

     


Cena central do teto da nave da Capela de Nossa Senhora das Mercês, século XIX, Manoel Victor de Jesus. Tiradentes-MG. Desenho, aguada de nanquim, do Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês dos Pretos Crioulos, de São José (Tiradentes-MG), 1796. Coleção: José Mindlin, São Paulo-SP.

 

Ainda em Tiradentes, no acervo do Museu Casa Padre Toledo, encontra-se uma bandeira processional bi-face, dedicada à Nossa Senhora do Rosário. Trata-se de peça em madeira recortada e pintada a óleo, datável do século XVIII. Em uma face é apresentada a Senhora coroada, com o Menino Deus ao colo, ambos a ostentar grande rosário. Na outra face aparece São Domingos de Gusmão, com ramo de líros, o rosário e um missal.  A solução pictórica é bastante satisfatória, com detalhes do rendilhado das vestes da Senhora, bom contraste das cores e apresenta certo clima de erudição. 

       



Bandeira processional de Nossa Senhora do Rosário, madeira recortada e pintada a óleo. Na outra face, São Domingos de Gusmão. Provavelmente do século XVIII. Autor desconhecido. Acervo: Museu Casa Padre Toledo, Tiradentes-MG. Fotografias: Luiz Cruz, 2024.
 

Na antiga Vila Rica, atual Ouro Preto, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos surgiu na Freguesia de Antônio Dias, ereta na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, por volta de 1717. Logo construiu sua capela, em local que passou e ser conhecido como Alto da Cruz do Padre Faria. Recentemente, após o resgate do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito, foi encontrada a bandeira de mastro dos festejos, mas ainda sem referência documental. Trata-se de peça em chapa metálica e ferro batido, pintada com a cena da Virgem e o Menino Deus, ambos coroados, a entregar o Rosário aos santos não brancos: a carmelita Efigênia e o franciscano Benedito. Pelo material e soluções pictóricas, não resta dúvida de que se trata de peça do século XVIII. Esta deve ser a única bandeira devocional original ainda utilizada nas festividades do Reinado, quando a Paróquia de Santa Efigênia promove intensa programação cultural e devocional para celebrar este reinado. É também a ocasião em que se conta com a participação de diversas guardas de congados locais e de diferentes localidades. Com certeza a comunidade de Santa Efigênia promove um dos reinados mais expressivos do Brasil, conforme destacado por Kedison Guimarães, atual Capitão da Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, além de diretor de Promoção e Igualdade Racial de Ouro Preto:


O Reinado, que é Patrimônio Imaterial de Ouro Preto, fortalece a memória e a fé ancestral deixada pelos nossos antepassados, vem para abençoar e mostrar a importância do patrimônio afro-cultural-religioso em nosso município. (Fonte: https://ouropreto.mg.gov.br/noticia/3843).

 

A cena da Senhora e o Menino Deus a entregar o rosário circulou amplamente pelos mais longínquos cantos de Minas. A que tudo indica o pintor teve contato com as imagens circulantes ao longo do século XVIII, sobretudo os registros de santos. A gravura original apresenta os personagens de santos brancos, Domingo de Gusmão e Catarina de Siena a receber o rosário, mas os pintores tinham acesso às informações visuais, apropriavam-se das ideias e adaptavam de acordo com as circunstâncias do momento e principalmente para atender ao “gosto” das comitentes – as irmandades. A mesma cena da bandeira de mastro da Matriz de Santa Efigênia, podemos apreciar no teto da capela-mor da Ermida de Nossa Senhora do Rosário, em Itabira-MG, executada por pintor ainda desconhecido.


Bandeira de mastro, chapa metálica e ferro fundido, pintada a óleo. Provavelmente de meados do século XVIII. Autor desconhecido. Acervo Matriz de Santa Efigênia, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.


Cena da Senhora e o Menino Deus a entregar o rosário para os santos Efigênia e Benedito. Teto da capela-mor da Ermida de Nossa Senhora do Rosário, autor ainda desconhecido. Têmpera sobre madeira. Início do século XIX. Itabira-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.

 

Os registros de santos circularam, por serem de produção mais econômica e de formatos pequenos, tornaram-se populares. No Museu da Inconfidência há uma matriz litográfica de tal cena, mas com os santos brancos: Domingos de Gusmão e Catarina de Siena.

 

Matriz litográfica de registro de santo, com a cena da Virgem e o Menino Deus a entregar o rosário para os santos Domingos e Catarina de Siena. Acervo Museu da Inconfidência. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.


Na Matriz de Nossa Senhora do Pilar ouropretana, registramos outra bandeira processional, pintada, com a imagem da Senhora do Rosário e o Menino Deus coroados a entregar o rosário a duas cabeças aladas. A Senhora tem o seu manto aberto, vermelho, e está sob a lua crescente. Há a possibilidade de esta bandeira ter sido pintada por um dos dois artífices que atuaram na ornamentação pictórica da Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, da Paróquia do Pilar: José Gervásio de Souza e Manuel Ribeiro da Rosa.

 

Bandeira processional de Nossa Senhora do Rosário. Pintura óleo sobre tela, século XIX. Acervo da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.

 

O Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, em seu gigantesco e primoroso acervo, apresenta-nos algumas bandeiras devocionais. Uma delas é bi-face, pintada em madeira recortada, com a cena tradicional da Senhora do Rosário – também denominada de Pompeia, o Menino Deus e os santos brancos: Domingos de Gusmão e Santa Catarina de Siena. Enquanto na outra face está a cena da Anunciação. A que tudo indica, as duas cenas foram inspiradas nos impressos circulantes.

Na face em que aparecem os dois santos, aos pés da Senhora e entre eles, figura um cachorro com a tocha acesa (Domini canis – cão do Senhor) símbolo de defensor da fé contra as heresias, elemento distinto da iconografia de São Domingos de Gusmão (Lorêdo, 2002, p. 157). Ou seja, o pintor tinha conhecimento das informações iconográficas, além das impressas em gravuras.


                                

Bandeira processional bi-face, madeira recortada e pintada, óleo sobre madeira, século XVIII. Autoria desconhecida. Museu da Inconfidência. Ouro Preto-MG.

 

Detalhe da pintura, com o cachorro e a tocha acesa na boca, elemento da iconografia de São Domingos de Gusmão. Bandeira processional. Museu da Inconfidência. Ouro Preto-MG. Fotografia: Acervo do Museu da Inconfidência. Ouro Preto-MG.   

 


Bandeira processional com a cena da Anunciação e imagem de missal.Fotografias: Luiz Cruz, 2024.
 

Estão expostas ainda mais duas bandeiras processionais, pinturas a óleo sobre tela, do século XVIII, uma com a cena da Pregação de Santo Inácio de Loiola e a outra de Nossa Senhora da Boa Morte, ambas são bi-faces, com os personagens inseridos em ambientes arquitetônicos imponentes. São provenientes do Seminário Maior de Mariana, provavelmente executadas por um mesmo pintor.


    
Bandeiras processionais, Pregação de Santo Inácio de Loiola e Nossa Senhora da Boa Morte, ambas bi-faces, óleo sobre tela, século XVIII, procedentes do Seminário Maior de Mariana. Fotografias: Arquivo do Museu da Inconfidência.


Ainda em Ouro Preto, no distrito de Cachoeira do Campo, no Sinete Antiquário, propriedade de Edson Elias Xavier, registramos uma imponente bandeira processional, bi-face, em madeira recortada, entalhada e pintada, com a cena da Senhora do Rosário coroada, o Menino Deus e o rosário.  Na outra face aparece um santo sem os atributos necessário para a identificação. 


 

Bandeira processional, Nossa Senhora do Rosário, bi-face.Madeira recortada, entalhada e pintada. Acervo Edson Elias Xavier. Cachoeira do Campo, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.

 

No Museu Regional de Caeté se encontra, na reserva técnica, um curioso conjunto de bandeiras processionais, em madeira recortada, pintada e bi-faces, de gosto mais popular, com símbolos da Ladainha de Nossa Senhora. Pelas soluções da carapina e da pintura, ambas devem ter sido executadas pelo mesmo artífice. Peças datáveis do século XVIII e procedentes da Capela de Nossa Senhora do Ó, de Sabará-MG. 

     

Conjunto de bandeiras processionais, madeira recortada e pintada. Acervo Museu Regional de Caeté-MG. Peças procedentes da Capela de Nossa Senhora do Ó, de Sabará-MG. Fotografias: Arquivo do Museu Regional de Caeté.


No Museu Regional de São João del-Rei, encontra-se bandeira processional de forma ovalada, pintura a têmpera sobre madeira e equivocadamente colada sobre eucatex. Apresenta a Senhora com o Menino Deus que segura pequena cruz. Ela está sentada sobre tufos de nuvens, com veste branca, manto azul e véu amarelo movimentado, calça sandália e coloca o pé sobre a lua crescente, tem sobre a cabeça diadema formado por estrelas e entrega o rosário a São Domingos de Gusmão, ajoelhado, a trajar o hábito dominicano, com a cruz latina e o missal. Os três personagens estão envoltos por tufos de nuvens com cabecinhas aladas, sobre um deles se encontra a Senhora, figuram pequenas flores. Aparece luz dourada no entorno da cabeça do Menino Deus. Pela organização da composição, esta bandeira processional deve ter sido inspirada em um dos impressos circulantes do século XVIII.

Esta bandeira processional tem sido atribuída ao pintor, dourador e riscador de retábulos Joaquim José da Natividade (1771-1841), porém, o cromatismo, as estruturas anatômicas dos personagens e da florística diferem das soluções desenvolvidas e aplicadas por este artífice, que ornamentou diversos tetos e retábulos de igrejas com pinturas estruturadas a partir de elementos da arquitetura fingida.


Bandeira processional, têmpera sobre madeira, século XIX. Acervo Museu Regional de São João del-Rei. Fotografia: Arquivo do MRSJDR.


Na Capela da Venerável Ordem Terceira do Monte Carmelo, de São João del-Rei, encontra-se outra bandeira processional, em tecido recortado, bordado e com a estampa de Nossa Senhora do Carmo. A que tudo indica, teve uso intenso e foi recolhida e exposta para a sua preservação. As bandeiras processionais em tecidos ainda se encontram em diversas edificações religiosas, como a que registramos na Capela de Nossa Senhora do Rosário, em Matias Barbosa – peça ainda em uso nas festividades da padroeira. Há peças bastante preservadas, outras em precárias condições, a necessitar de intervenção de restauração.

 

     

Bandeiras processionais, de Nossa Senhora do Carmo, São João del-Rei-MG e de Nossa Senhora do Rosário, Matias Barbosa-MG. Ambas em tecido, bordado e com estampas. Fotografias: Luiz Cruz, 2023.

 

Existiu em São João del-Rei, segundo registro do pesquisador Antônio Gaio Sobrinho, a Bandeira da Misericórdia, que saia no cortejo para acompanhar os condenados à pena capital; as execuções ocorriam no Morro da Forca. De acordo com o pesquisador, esta bandeira foi recolhida e incinerada por um padre da cidade.

Em Portugal, a instituição da Misericórdia teve fundação há mais de 500 anos, para praticar ações de misericórdia corporais e espirituais. Elas vieram preencher o espaço na sociedade moderna para a assistência na pobreza e na morte, aos presos e aos condenados às execuções capitais. Como a Bandeira da Misericórdia de São João del-Rei não existe mais, apresentamos aqui a Bandeira da Misericórdia de Lisboa, pintada em óleo sobre tela, bi-face, datada de 1784 e de autoria do artífice Bernardo Pereira Pegado.

 

Bandeira processional da Misericórdia, bi-face, óleo sobre tela, de 1784, autoria de Bernardo Pereira Pegado. Acervo e fotografia: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Portugal. 

 

A Senhora da Misericórdia, ou Senhora do Manto, é representada com seu amplo manto materno para a proteção dos necessitados, doentes, encarcerados e dos condenados à morte. Na composição está o povo cristão que se identifica com a sociedade organizada, de um lado, figuras diversas representativas da Igreja e do outro lado a sociedade civil – reis, nobres e povo, a encontrar com representação popular – os pobres e os presos sob os pés da Mãe Misericordiosa. Na bandeira lisboeta, a Senhora aparece sobre um encarcerado.

Além desta bandeira da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em Portugal outras instituições também ainda se preservam exemplares deste artefato devocional, como em Arouca e no Porto, que pode ser referenciado, ainda, como Pendão da Misericórdia. 

  

 

Bandeira processional da Misericórdia, bi-face, óleo sobre tela, datada de 1775, autor Domingos Teixeira Barreto.Acervo e fotografia: Museu e Igreja da Misericórdia do Porto, Portugal.

 

 

As bandeiras devocionais e o patrimônio imaterial

 

Ouro Preto abre o calendário anual de reinados – o Reinado de Nossa Senhora do Rosário – que homenageia também Chico Rei, com a programação Fé que canta e dança. Geralmente, tem início no dia 6 de janeiro, Dia dos Santos Reis, com o levantamento dos mastros e hasteamento das bandeiras. A programação cultural durante a festa é vasta. No último dia se realiza o cortejo que conta com a participação de dezenas de guardas de congados, locais e vindos de outras cidades.

Na Matriz de Santa Efigênia as guardas se encontram, formam longo cortejo, a frente de cada uma vai a bandeira devocional. Elas se direcionam até a Mina do Chico Rei, para saudar a Corte do Reinado, com os reis, rainhas, princesas e príncipes. Ao retornar, param na Matriz de Santa Efigênia e apanham os andores de Nossa Senhora do Rosário, de Santa Efigênia, de São Benedito e seguem em procissão até a Capela do Padre Faria. Ao final da tarde se procede o arreamento dos mastros e das bandeiras.   

 

Bandeiras de mastros do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito, Paróquia de Santa Efigênia, Ouro Preto-MG. Fotografias: Luiz Cruz, 2021, 2024.


A bandeira de Santa Efigênia abre o longo cortejo do Reinado de Ouro Preto, com certeza o mais bonito e representativo de Minas Gerais. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.

 

Saudação do Capitão da Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia à corte do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito de Ouro Preto, na Mina do Chico Rei. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.


O terno de congado de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Graças e demais no retorno à Matriz de Santa Efigênia. Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.

 

Terminado o reinado, em Ouro Preto e seus distritos, tantas outras festas devocionais são promovidas, diversas delas fazem o levantamento do mastro e o hasteamento da bandeira do santo homenageado.

 

Mastro e bandeira de Nossa Senhora do Rosário, da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.


Bandeira de Nossa Senhora da Piedade, Igreja de São Francisco de Paula, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.

 

Bandeira de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Graças, APAE, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022.

 

As manifestações devocionais e culturais, como as congadas, reinados, reisados e folias são componentes do Patrimônio Imaterial. Juntamente a elas, deve-se considerar as suas particularidades, como as bandeiras, os objetos tais como coroas, espadas, cetros, indumentárias, instrumentos, ritmos, cânticos, danças e a própria celebração em si.

No Brasil, em 1936, o visionário pesquisador e modernista Mário de Andrade, em seu Anteprojeto de Criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional, já destacava a necessidade de se preservar a “Arte Popular”, como se conta:


Da arte popular (3). Incluem-se nesta terceira categoria todas as manifestações de arte pura ou aplicada, tanto nacional como estrangeira, que de alguma forma interessem à Etnografia [...]. (ANDRADE, 1981 p.41).


Porém, apenas a partir da promulgação da Constituição Federal, de 1988, a arte popular e as suas manifestações passaram a ser reconhecidas, conforme o:

 

Art. 216.  Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira [...].

 

Desde então, a materialidade e a imaterialidade patrimonial têm recebido atenção por parte dos governos federal, estadual e municipal. O IPHAN, assim definiu:


Patrimônio Imaterial é um conceito adotado em muitos países e fóruns internacionais como complementar ao conceito de patrimônio material na formulação e condução de políticas de proteção e salvaguarda dos patrimônios culturais, sob a perspectiva antropológica e relativista de cultura. Usa-se, também, patrimônio intangível como termo sinônimo para designar as referências simbólicas dos processos e dinâmicas socioculturais de invenção, transmissão e prática contínua de tradições fundamentais para as identidades de grupos, segmentos sociais, comunidades, povos e nações.

 

Dicionário do Patrimônio Cultural do IPHAN. Patrimônio Imaterial, VIANNA, Letícia C.R.

Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234

 

O patrimônio imaterial ou patrimônio intangível tem recebido atenção e atualmente os Congados/Congadas/Reinados se encontram em processo de registro e brevemente serão reconhecidos como Patrimônio Nacional, pelo IPHAN.

 


As bandeiras devocionais em Oliveira


Há muitos anos a cidade promove um dos mais tradicionais reinados de Nossa Senhora do Rosário. Provavelmente, deve ser o mais completo de Minas Gerais; durante a festa, todos os dias ocorrem expressivas manifestações, inclusive com a saída do famoso Boi do Rosário, que é recebido pelos festeiros e percorre as ruas a atrair significativa multidão. O povo segue atrás dele a gritar: “Êh, Boi. Êh, Boi”. É o Boi mais aclamado e dos mais amados dos festejos devocionais. O reinado começa com o levantamento dos mastros e o hasteamento das bandeiras e para se encerrar, conta com todas as guardas juntas, numa expressiva comoção, cada mastro é arreado e a bandeira recolhida. Este é um dos momentos mais emocionantes do reinado, os capitães se ajoelham diante às bandeiras, agradecem, rezam e certos não contém as lágrimas. Em Oliveira, tudo é muito forte, impactante e sobretudo respeitoso. O povo oliveirense faz um reinado com força, fé, devoção e muita tradição.

 

 

O Boi do Rosário do Reinado de Nossa Senhora do Rosário e ao ser recebido por um dos festeiros. Oliveira-MG. Fotografias: Luiz Cruz, 2010.

 

Guarda de Nossa Senhora Aparecia e sua bandeira. Oliveira-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022.

 

Guarda de Nossa Senhora das Mercês e sua bandeira. Oliveira-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022. 

   

Bandeiras das guardas de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. Catedral de Nossa Senhora de Oliveira. Oliveira-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022. 

               


 
Bandeiras de mastros das guardas de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia, São Benedito e Nossa Senhora das Mercês. Oliveira-MG. Fotografias: Luiz Cruz, 2022.

 

Bandeira de mastros da guarda de Nossa Senhora do Rosário.Oliveira-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022.

 

Congadeiros ao receber a bandeira de mastro da Guarda de Nossa Senhora do Rosário. Oliveira-MG.  Fotografia: Luiz Cruz, 2022. 

 

Congadeiros ao receber a bandeira de mastro da Guarda de Nossa Senhora do Rosário. Oliveira-MG.  Fotografia: Luiz Cruz, 2022.

 

 

As manifestações devocionais populares de São João del-Rei

 

Cidade é detentora de arraigadas tradições religiosas, mantém uma das mais completas celebrações de Semana Santa do Brasil, também prima por abrigar e incentivar outras manifestações, inclusive as de origem afro-brasileira. Algumas delas já devidamente reconhecidas e registradas como Patrimônio Imaterial.

    

Folias dos Santos Reis, São João del-Rei-MG. Fotografias: Luiz Cruz, 2013.

 

Folia dos Santos Reis, São João del-Rei-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2013.


Folia do Divino Espírito Santo, São João del-Rei-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2013.


A partir do momento que ocorreu o seu resgate, São João del-Rei promove o Jubileu do Divino Espírito Santo com grande pompa, a seguir a tradição e conseguir a mobilização da comunidade em torno desta devoção tão arraigada na cultura brasileira. Na festa do Divino, ocorrem cortejos e todos são precedidos pelas bandeiras.

É necessário registrar que nos bairros e distritos de São João del-Rei também ocorrem imponentes celebrações, como no Cajuru, Caburu, Rio das Mortes, São Sebastião da Vitória e outros.


Bandeiras do Divino Espírito Santo, Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. São João del-Rei-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2010.

 

Festa de São Gonçalo do Amarante, com a bandeira do orago. São João del-Rei-MG, Distrito do Caburu. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.

 

Bandeira de São Sebastião. Festa do padroeiro do Distrito de São Sebastião da Vitória, São João del-Rei-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.

 

Praticamente em todas as manifestações, as bandeiras abrem o cortejo e imprimem significação e delimitam a ação em torno de uma devoção, seja de uma procissão da Igreja Católica, de uma Folia ou de um Congado. Segundo um dos mais renomados estudiosos da cultura popular, em especial o Congado, Frei Francisco van der Poel, afirma que “A bandeira da festa deve ser benta.” (1981, p. 233). Para compreender mais sobre estes elementos simbólicos da cultura popular, entrevistamos o folclorista Ulisses Passarelli:


Habitualmente as bandeiras recebem a benção do padre, na Igreja. Conforme o breviário, as bandeiras, como casas, santos, objetos e animais são benzidos. Todas as bandeiras de folias e congados passam pelas bençãos de Igreja, inclusive com a aspersão de água benta. Independente da benção da Igreja, em caso de folias e congados, mas muito mais as de congados, esta benção pode se ampliar para bençãos populares ou benção de religião de axé, que são muito específicas. Por exemplo, as vezes nelas se penduram pequenos objetos, peças, que não são exatamente enfeites, eles ficam ali misturados a eles. Pode ser uma medalha, estrela, cruz, figa ou patoá. Ainda, pendurar uma fita que estava na imagem do Preto Velho, troca-se a fita por outra nova. Aspergir a bandeira com a água que estava na quartinha de Iansã, ou na quartinha de Xangô. Ou aspergir com água do mar. As vezes submeter a bandeira à defumação, ou colocá-la nas mãos de uma entidade incorporada, um Caboclo ou Preto Velho. Isso é uma prática comum, não individual. A bandeira da Folia de Reis Embaixada Santa passou por todo este processo e quem vê uma bandeira na rua, não tem ideia da sua representatividade física e espiritual.

Ainda, a bandeira pode dormir uma noite no sereno, ou passar um momento na chuva, ficar exposta à luz do luar ou num dia de sol, tudo isso conta e deve ser feito. De certa forma, isso não é revelado e cada grupo segue a tradição herdada.

De maneira geral, as pessoas em sua simplicidade, mas na profunda devoção popular, têm respeito imenso pelas bandeiras, ela é a referência maior do grupo. Pode ter bengala, coroa, cetro, espada, capa e outros objetos, mas a bandeira é mais importante. Por exemplo, quando chega uma Folia de Reis, a gente vai e encontra com os companheiros, mas o folieiro deve primeiro ir até à bandeira, beijá-la, pedir benção, para depois cumprimentar o folião e os colegas.  A bandeira é o centro de tudo, ela é o eixo e não pode perdê-la de jeito nenhum.

Depoimento de Ulisses Passarelli, folclorista, folião, congadeiro e líder espiritual da Tenda de Umbanda Ogum de Ronda, no bairro Caieira, em São João del-Rei, registrado em 15 de fevereiro de 2024, especialmente para esta publicação.

 

A partir deste conjunto de informações, torna-se necessário apreciar as bandeiras com outros olhares. Bandeira e bandeireiro/a se complementam, para conduzir o símbolo da agremiação, corporação ou da devoção, a pessoa precisa ser conscientizada da importância do símbolo e sua função de conduzi-la.

 

 Santa Cruz de Minas e o Patrimônio Imaterial


 É bastante jovem enquanto municipalidade e é o menor município do Brasil, mas se trata de cidade que tem apoiado suas manifestações do Patrimônio Imaterial. O Conselho Municipal de Política Cultural e Patrimônio atua junto aos grupos com apoio, reconhecimento e registro. Desta forma, valoriza e incentiva a cultura, ao mesmo tempo eleva a autoestima da população e principalmente dos agentes das devidas áreas culturais. A grande festa do lugar é do padroeiro São Sebastião.

 

Folia de Reis Embaixada Santa, de São João del-Rei, na Matriz de São Sebastião. Santa Cruz de Minas-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2015.

 

 

Folia do Divino Espírito Santo, de São João del-Rei, Matriz de São Sebastião.Santa Cruz de Minas-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2015.


Festa de São Sebastião, padroeiro de Santa Cruz de Minas-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2016.

 

Festa de Nossa Senhora Auxiliadora, Comunidade da Candonga. Participação do Congado de Nossa Senhora do Rosário e São Miguel. Santa Cruz de Minas-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2017.

 


O Patrimônio Intangível de Tiradentes

 

Fundada nos primeiros anos do século XVIII, a antiga Vila de São José cresceu e dotou a localidade com sua matriz, capelas, passos da paixão e um dos mais imponentes chafarizes do período colonial. A Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos – ou seja, os nascidos em solo africano, abrigou a Matriz de Santo Antônio, em determinado período da década de 1720. A partir desta informação, denota-se que se trata de uma das mais antigas de Minas Gerais dessa devoção. Edificada em pedra, com retábulos policromados e dourados, tem o teto da capela-mor pintado com exuberante arquitetura fingida e o da nave executado pelo artífice Manoel Vitor de Jesus. É um elegante exemplar da arquitetura colonial brasileira.

Em certos períodos do século XX, esta capela esteve praticamente abandonada e a situação de conservação acabou bastante comprometida. Basta olhar rapidamente para a situação do teto da nave que logo se compreende o que se sucedeu ali em termos de manutenção. O mesmo ocorreu com o culto à Senhora do Rosário, que ficou esquecido e coube ao Corpo de Bombeiros Voluntários de Tiradentes o resgate da festa e para abrilhantar era necessário buscar ternos de congados na redondeza, Coronel Xavier Chaves, Barroso ou Resende Costa. 

 

               

Resgate da Festa de Nossa Senhora do Rosário. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, década de 1990.

 

Numa iniciativa do Instituto Cultural Biblioteca do Ó, promoveu-se o Projeto Recontando o Rosário, com o apoio da Fundação Palmares, a resultar na criação e formação do Congado de São Benedito, a partir de ampla investigação sobre a indumentária, instrumentos, ritmos, cânticos, formação do cortejo e outros aspectos.  Acompanhamos o desenvolvimento deste projeto e registramos que não foi nada fácil, principalmente pelo “preconceito estrutural”. Enquanto mantido, o Congado de São Benedito promoveu a Festa do Rosário, inclusive com a procissão da Senhora e de São Benedito – logo que sua imagem foi retirada do retábulo, constatou-se que a imagem do santo estava sendo devorada pelos cupins.

 

Bandeireiras  outros integrantes do Congado de São Benedito. Instituto Cultural Biblioteca do Ó, Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2010.

 

Pela perda do espaço onde se encontrava instalado o Instituto Cultural Biblioteca do Ó, por falta de apoio e participantes, o Congado de São Benedito acabou desarticulado. Está no aguardo de interessados para se reestruturar e seguir a fazer história.

Inspirado nas experiências do Congado de São Benedito, o Capitão Prego criou o Congado de Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia, que anualmente promove a Festa do Congado de Tiradentes, com a participação de várias guardas da região. É uma bela festa dedicada à Nossa Senhora do Rosário e aos santos não brancos.

O Congado de Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia já foi reconhecido e registrado como Patrimônio Imaterial de Tiradentes, através do Conselho Municipal de Políticas Públicas e Patrimônio. Tem sido tema de intervenções artísticas e em 2023, com obras do artista visual Yhuri Cruz, intitulada Monumento à voz de Anastácia e Pintura mural, risografia de santinhos, ambas de 2019, estiveram expostas na grande Galeria do Lago, em Inhotim, Brumadinho-MG, atualmente considerado um dos maiores museus a céu aberto do mundo e dos mais visitados do Brasil.

 

Congado de Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia, com o prefeito Nilzio Barbosa. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022.

 

Mastros e bandeiras da Festa do Congado de Tiradentes. Largo das Mercês, Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.


Guarda  de congada na capela-mor da Igreja do Rosário. Festa do Congado de Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.

 

Bandeira, instalação artística colaborativa em homenagem ao Capitão Prego e à Escrava Anastácia. Beco do Zé Moura. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2020.  

 

Monumento à Voz de Escrava Anastácia, obra do artista visual Yhuri Cruz, de 2019, em homenagem ao Congado de Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia. Exposta na Galeria do Lago, Inhotim, Brumadinho-MG. Fotografias: Luiz Cruz, 2023. 

 

Bandeira do Congado de Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023. 

 

Muito além dos grandes eventos que a cidade recebe, Tiradentes mantém seus grupos, tanto na sede quanto nos distritos. Dentre eles as folias de Reis e São Sebastião que marcam presença anualmente, visitam as casas, os presépios e abençoam cada família que as recebem.

A família que abre as portas para uma folia, deve conduzir a bandeira pelos cômodos da casa. É importante que ela fique ou passe sobre cada cama dos familiares, para abençoar e proteger.

 

Folia de Reis, folião Gilson Costa. Tiradentes-MG. Fotografia Luiz Cruz, 2014. 


Folia de Reis, folião Gilson Costa. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024. 


Bandeira da Folia de Reis, sobre a cama, para a benção e proteção. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.

 

Ricardo Monte Negro – Presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais e Patrimônio e Maria Lídia Montenegro – Presidente o Conselho Deliberativo do Centro Cultural Yves Alves ao receber a Folia de Reis, de César de Pina, Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.

 

Folia de Reis, de César de Pina, Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.

 


A pérola do Campo das Vertentes

 

O antigo povoado do Mosquito, a atual cidade de Coronel Xavier Chaves se tornou na mais charmosa pérola do Patrimônio Imaterial da região. É uma cidade pequenina, mas referência em limpeza urbana e tratamento de seus resíduos. Suas ruas e praças são mantidas impecavelmente. Em seu conjunto arquitetônico singelo, predomina a harmonia e o grande destaque é a Capela de Nossa Senhora do Rosário, edificação do século XVIII.

Coronel Xavier Chaves mantém seu calendário cultural bastante concorrido e ao longo do ano tudo transcorre perfeitamente e a cidade com os seus grupos, recebem atenciosamente os convidados e juntos promovem eventos expressivos. No Carnaval tem o Boi Riscado, a Semana Santa é realizada com dedicação e mobilização da comunidade, além dos encontros de folias e congados. É das poucas cidades da região em que as mulheres se unem, fortalecem e participam ativamente de tudo. São mulheres empoderadas, lindas e um dos orgulhos desta localidade.


Encontro de Folias de Coronel Xavier Chaves, promovido pelo Grupo de Folia de Reis de Coronel Xavier Chaves, com o apoio da Prefeitura. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.

 

Grupo de mulheres que compõem a Folia de São Sebastião. Coronel Xavier Chaves-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024. 

 

Encontro de Folias de Coronel Xavier Chaves, promovido pelo Grupo de Folia de Reis de Coronel Xavier Chaves, com o apoio da Prefeitura. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.

 

Bandeiras de mastros do Encontro de Congados de Coronel Xavier Chaves-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.

 

A Banda de Congado de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, do Capitão Zé Carreiro, é reconhecida e registrada como Patrimônio Imaterial da cidade. É organizadora de um dos encontros de congados mais significativos do Campo das Vertentes.

O Capitão Zé Carreiro e sua banda sempre estiveram presentes em Tiradentes, desde o final da década de 1980, nas tentativas do resgate da Festa do Rosário. Foi o primeiro terno de congado que entrou na Igreja do Rosário para louvar e bater tambor em homenagem à padroeira do povo preto.  Zé Carreiro é homem dos mais admirados e respeitados do nosso Patrimônio Imaterial e do Patrimônio Humano. Homem simples, mas iluminado, gigante em sua humanidade, alegria e fé. É um líder espontâneo e carismático. Breve estará a completar 90 primaveras.


Capitão Zé Carreiro e o saudoso bandeireiro de Moçambique Marco Aurélio. Festa do Congado de Tiradentes, Largo do Sol, Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2016.

 

Capitão Zé Carreiro no Encontro de Folias de Coronel Xavier Chaves-MG. Adro da Capela de Nossa Senhora do Rosário. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.

 

 

Bandeira, pendão, flâmula, galhardete...

 

Conforme o poema de Castro Alves, bandeira é palavra com muitos sinônimos e o próprio objeto ou artefato pode ser empregado em formas distintas e em inúmeras manifestações devocionais, muito além das de origem afro-brasileira. Em Ouro Branco, na festa do padroeiro Santo Antônio, tudo começa com o levantamento do mastro e o hasteamento da bandeira.

    

 


Mastro e bandeira de Santo Antônio, Matriz de Santo Antônio. Ouro Branco-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2013.
 

No nosso tempo de criança, na Rua Direita, de Tiradentes, uma das celebrações mais emocionantes era a Festa de Nosso Senhor dos Passos, que é promovida desde 1722. Para abrir a procissão, a frente vinha o Pendão dos Passos. Roxo, forte, impactante, altíssimo e cinco homens a conduzi-lo. No roxo intenso, destacavam as letras SPQR - Senatus Populus Que Romanus, ou Senado e o Povo de Roma. Naquele silêncio profundo, o Pendão dos Passos imprimia respeito a todos. Tudo convergia para uma autêntica viagem ao tempo: a arquitetura, o urbanismo, as indumentárias, a música, a imaginária, os perfumes do incenso e do rosmaninho, o toque doloroso dos sinos e arraigada devoção ao Senhor dos Passos.

A Festa de Passos antecede a Semana Santa e predomina a cor roxa e para o encerramento da programação, acorre a procissão da Ressurreição, ou de Pascoal, na abertura do cortejo ia a bandeira da Irmandade do Santíssimo Sacramento, bem vermelha. 

 

Pendão da Procissão de Passos, Capela de Nossa Senhora das Mercês. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2015.

 

Pendão dos Passos, Rua Direita,Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2015.


Curiosamente, depois que os postes e a fiação elétrica do núcleo antigo de Tiradentes foram removidos e substituídos por lampiões, a vara original do Pendão dos Passos foi cortada. Ficou bem mais curta e perdeu a aquele impacto de outrora. Praticamente em todas as cidades antigas de Minas que promovem a Semana Santa, o Pendão dos Passos faz parte da tradição.

 

Andor de Nosso Senhor dos Passos e o Pendão dos Passos. Capela de Nossa Senhora do Rosário, Coronel Xavier Chaves-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.

 

                               

Bandeira a Irmandade do Santíssimo Sacramento, Procissão da Ressurreição. Tiradentes-MG, década de 1990. Fotografia: Luiz Cruz.



Bandeiras de Carnaval


Bloco carnavalesco que se preze, tem sua bandeira para abrir o cortejo e arrastar a multidão pelas ruas, assim ocorre com um dos mais antigos de Minas Gerais, o Bloco Zé Pereira da Chácara. Bloco com os seus bonecos monumentais, que há 177 anos circula pelas tricentenárias ruas da cidade primaz de Minas.  


Bandeira do Zé Pereira da Chácara, de Mariana-MG. Carnaval de 2024.Fotografia: disponível em:https://mundodosinconfidentes.com.br/bloco-ze-pereira-da-chacara-sai-as-ruas-no-carnaval-de-mariana-em-seus-177-anos-de-tradicao/ 

 

Blocos carnavalescos mais recentes também mantém suas bandeiras, como O Balanço da Cobra, de Ouro Preto e os blocos de Tiradentes, Os Abandonados, Roma foi Pouco, Beatões da Santíssima e outros.

 

Bandeira do bloco O Balanço da Cobra e sua fundadora, a botânica Cida Zurlo. Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022. 

 

Bandeira do Bloco dos Abandonados, um dos mais antigos de Tiradentes-MG.Fotografia: Acervo do Instituto Cultural Biblioteca do Ó.

 

Bandeira do bloco Roma Foi Pouco, um dos mais irreverentes de Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2016. 

 

Os tiradentinos de coração César Fernandes e Syvio Túlio com a bandeira do  bloco Beatões da Santíssima. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.


O Aymorés Futebol Clube, fundado em 1919, com sede na Rua Direita, no núcleo antigo de Tiradentes, mantém a tradição e tem colocado o seu bloco carnavalesco na rua. É o clube tricolor: vermelho, verde e branco. De quando em quando sua diretoria lança uma flâmula comemorativa do seu aniversário, que acaba por se tornar também um elemento memorável.

 

Flâmula comemorativa do aniversário do Aymorés Futebol Clube. Tiradentes-MG. Acervo: Luiz Cruz.

 

As bandeiras devocionais ou processionais, bandeirinhas, pendões, flâmulas, galhardetes, estandartes e tantas outras denominações para este elemento, acaba por constituir expressivos aspectos da imaterialidade do nosso Patrimônio Cultural, seja religioso, profano ou cívico. Que ventos soprem a tremular bandeiras pelos céus deste Brasil, com sua vasta cultura diversa e tantos bens imateriais.


Luiz Antonio da Cruz

 

Agradecimentos: Eugênio José dos Santos, Ulisses Passarelli, Maria Clara Caldas Soares Ferreira, Eleni Cassia Vieira, Maria José Boaventura, Olivia M. C. Lopes da Cruz,  Charles Faria, Museu Casa Padre Toledo, Instituto Cultural Biblioteca do Ó, Gilson Costa, Gelcimara Costa, Maria de Fátima Loureiro Vasconcelos, Ricardo Ribeiro Resende, Walquir Avelar e a todos que preservam as bandeiras de suas agremiações.

 

 Referências:

ANDRADE. Mário de. 1893-1945. Cartas de Trabalho: correspondência com Rodrigo Mello Franco de Andrade, 1936-1945. Brasília: SPHAN, Fundação Pró-Memória, 1981. 

BANDEIRA, Julio. LAGO, Pedro Corrêa do. Debret e o Brasil. Rio de Janeiro: Capivara, 2008.

BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos Viajantes – O imaginário do Novo Mundo. São Paulo: FAU da USP, Metalivros. Vol. I, 1994.

BARDI, P. M. Mestres, artífices, oficiais e aprendizes no Brasil. São Paulo Banco Sudameris Brasil, 1981.

BOSCHI, Caio César. Os leigos e o poder. São Paulo: Editora Ática, 1986.

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CASTRO ALVES, Antônio Frederico. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966.

Compromissos de Irmandades Mineiras do século XVIII. Amilcar Vianna Martins Filho (org.); estudo crítico Caio Boschi. Belo Horizonte: Claro Enigma / Instituto Cultural Amilcar Martins, 2007.

CRUZ, Luiz Antonio da. BOAVENTURA, Maria José. Glossário do Patrimônio de Tiradentes. Tiradentes: IHGT, 2015.

CUNHA, Maria José de Assunção da. Iconografia Cristã. Ouro Preto: UFOP/IAC, 1993.

DIENER, Pablo. COSTA, Maria de Fátima. Rugendas e o Brasil. Rio de Janeiro: Capivara, 2012.

FREITAG, Barbara. Viajantes de língua alemã no Brasil do século XIX. Brasília: FUNAG, Instituto Guimarães Rosa, 2023.

Patrimônio Imaterial. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234 

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

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https://www.gov.br/iphan/pt-br/assuntos/noticias/congado-congadas-reinados-podem-se-tornar-patrimonio-cultural-do-brasil (consultado em 19/02/2024). 

LIMA, José Arnaldo Coêlho Aguiar. Novenas em Mariana. Mariana: Ed. do autor, 2010. 

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LORÊDO, Wanda Martins. Iconografia Religiosa – Dicionário Prático de Identificação. Rio de Janeiro: Pluri Edições, 2002.

MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações – Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2008.

PERES, Léa Freitas. (coord). Festas viajantes em Minas Gerais no século XIX: compêndio de citações. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2018.

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SERRÃO, Vítor. A Cripto-história da Arte: Análise de Obas de Arte Inexistente. Lisboa: Livros Horizonte, LTDA, 2001.

SERRÃO, Vítor. Análise Cripto-Artística face ao patrimônio histórico de Santarém. In: Santarém – Rumo e Itinerário Histórico 150 anos. Associação Mais Santarém, 2020.

VIANNA, Letícia C.R. Patrimônio Imaterial. Dicionário do Patrimônio Cultural do IPHAN.

Comentários

  1. Belíssima esplanação sobre os estandartes e bandeiras devocionais e outras. A quantidade de bandeiras e estandartes ainda existentes nas cidades mineiras é impressionante e maravilhosa. Infelizmente em Paraty muito se perdeu destas peças sacras. Parece-me que a única que restou, uma do mastro da festa do divino Espírito Santo, se encontra no Museu de Arte Sacra. Na festa que fizemos, a Família Silva, uma pintor amigo nosso e mineiro, Marcio Franco, copiou esta bandeira que foi então utilizada na festa. Porém, alguns anos depois, o novo festeiro resolveu pintar outa imagem por cima, infelizmente. Também existe a bandeira do mastro da Santa Cruz do Gragoatá, datada do início de 1900. Mais uma vez muito agradeço ao Luiz Cruz tão importantes e relevantes informações sobre religião e cultura popular.

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    1. Diuner Mello, o tema Bandeira Devocionais é muito rico. As bandeiras estão integradas às cerimônias e aos cortejos. Algumas são preciosas obras de arte, mas todas são expressivas, pois representam a devoção e a corporação. Infelizmente muitas bandeiras desapareceram, ou foram substituídas. Todas precisam de cuidados para ter mais longevidade. Paraty e Tiradentes são cidades com características muito próximas, em tudo. Muito obrigado por sua presença aqui e abraço para você.

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  2. Quero informar que a postagem colocada como anônimo é minha, Diuner Mello. Esqueci de de identificar

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    1. Caro Diuner Mello, muito obrigado por sua presença e registro neste blog. Abraço

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  3. Que maravilha as bandeiras e estandartes que ainda existem nas nossas cidades de Minas Gerais. Belo texto, uma aula! Parabéns Luiz Cruz! Um abraço da Thelma

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    1. Thelma, muito obrigado pela presença e registro neste blog. Desde o momento que peguei o documento redigido e assinado por Manoel Dias de Oliveira sobre a Bandeira de mastro da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês, passei a pesquisar sobre o tema, que é vasto e fabuloso. Pelo Brasil afora vamos encontrar muitas Bandeiras Devocionais, elas são muito expressivas. Abraço e gratidão

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