Bandeiras
devocionais do
século
XVII ao século XXI
A
obra de arte, como qualquer outro produto, cria um público sensível e apto a
sentir prazer com a beleza. Por conseguinte, a produção não cria apenas um
objecto para o sujeito, mas um sujeito para o objecto.
Karl
Marx, Contribuição para a Crítica da Economia Política (1859).
Gravura. Procissão de Nossa Senhora do Rosário, 1578, em Pavia, Itália. (POEL, 1981).
Bandeira
é palavra de muitos significados e adequação ao linguajar do cotidiano.
Geralmente, trata-se de um pano de uma ou mais cores, com símbolos heráldicos, às
vezes com legenda, distintivos de uma nação, corporação, comunidade, partido ou
grupo. Pendão, estandarte, flâmula, lábaro, balção, auriflama são alguns de
seus sinônimos. Para os mineiros, a palavra bandeira também se vincula aos
paulistas, ou melhor, aos grupos organizados em bandeiras que adentraram os
Sertões dos Cataguases para a captura de indígenas, à procura de ouro e de
pedras preciosas. Numa vasta região ocupada por diversos povos pioneiros, os
bandeirantes se valeram de recursos bélicos para dominar, aprisionar e escravizar
os indígenas, logo promover a dizimação desses povos; os resistentes, aos
poucos tiveram que se misturar aos núcleos urbanos para assegurar a
sobrevivência. Após as descobertas auríferas, turbilhões ocorreram, a atrair
muita gente ao território do que veio a ser as Minas Gerais – para arrancar o
ouro das entranhas da terra, milhares de homens, mulheres e crianças foram
capturados, sequestrados e trazidos para a colônia brasileira, como escravizados.
Como afirmou o poeta:
[...]
Existe um povo que a bandeira
empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transforma-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira
é esta,
Que imprudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu
pranto
Auriverde pendão de minha terra
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
[...]
Castro Alves, O Navio Negreiro,
Poesias Escolhidas, p. 335.
(grifos nossos)
Em seu
poema mais conhecido e provavelmente um dos mais fortes da poesia brasileira, Castro
Alves, poeta romântico, abolicionista e republicano empregou a palavra bandeira
e seus sinônimos. Bandeira, objeto impregnado de representações, teve origem em
tempos longevos, praticamente impossível de se determinar exatamente quando
surgiu, mas na Idade Média, quando houve a necessidade de se distinguir grupos em
campo de batalha e evitar o temido “fogo amigo”, as bandeiras foram utilizadas.
Valeram-se dos signos aplicados nos materiais rígidos nos tecidos, em cores
acentuadas, elaboradas pelos romanos, algumas com recortes e formas distintas,
como no vexillum – estandarte. Em diversas obras artísticas, na gravura
em metal, na pintura a fresco, em tábuas, em telas e outros suportes cenas
foram registradas e nelas bandeiras inseridas. Um dos pintores a perpetuá-las
com bandeiras específicas foi Piero Della Francesca (1414-1492), artista
italiano do Quatrocento.
A vitória de Constantino sobre Maxêncio na batalha da ponte de Milvio. Afresco de Piero Della Francesca, 1464. Disponível em: https://www.wikiart.org/pt/piero-della-francesca.
Gravura em água-forte de Louis Merval,
do livro L’entrée de Henri II Roi de France à Rouen au mois d’octobre de
1550. Imprimerie de Henry de Boissel, Rouen, 1868. Coleção José Mindlin,
São Paulo-SP.
As
bandeiras devocionais também passaram a ser usadas há tempos distantes. Em
certas manifestações religiosas, principalmente as procissões, lá, ao abrir o
cortejo, estavam elas. Segundo o Aurélio, a palavra “procissão” também
tem sentido amplo, além do religioso:
Procissão [Do lat. processione, ‘marcha
para adiante’, com metafonia do e.] S. f. 1.
Cerimônia religiosa em que sacerdotes e secretários de um culto seguem,
geralmente em filas, entoando preces, levando expostas imagens ou relíquias
dignas de veneração etc. 2. P. ext. Qualquer acompanhamento ou
cortejo; séquito, cortejo. 3. Fam. Série de pessoas que seguem
umas atrás das outra. [Cf. processão.]
(FERREIRA, 1999, p.1642).
Diversos
artífices registraram as saídas e os percursos de cortejos com as bandeiras a
propiciar maior visibilidade aos eventos, conforme podemos observar em
gravuras, desenhos e pinturas tanto de origens europeias quanto brasileiras. No
Brasil, dois viajantes estrangeiros nos legaram importantes registros do
cotidiano sociocultural, em diversas cenas, lá estão as bandeiras, em especial
as devocionais. Um deles foi francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848),
integrante da Missão Artística Francesa (1817) e autor de Viagem Pitoresca e
Histórica ao Brasil. A obra de Debret se tornou da maior relevância, pois
transformou as cenas do cotidiano, de várias partes do Brasil colonial em obras
de arte, belas, mas sobretudo com expressividade. As festas dedicadas ao Divino
Espírito Santo ficaram registradas, com suas bandeiras e os esmoleiros em ação,
bem como o mastro e a bandeira hasteada, a demarcar o tempo de festa do
provável padroeiro da edificação.
O
outro viajante foi o alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), integrante da Expedição
Langsdorff – apoiada financeiramente pela Academia de Ciências de St.
Petersburgo, autor de Viagem Pitoresca através do Brasil. Rugendas, ao
visitar a Bahia, registrou a saída de uma procissão, em Asilo de Nossa
Senhora da Piedade da Bahia. Em outra obra, Festa de Nossa Senhora do
Rosário, a padroeira dos negros – “que era a principal comemoração
religiosa autorizada aos escravos, que logo a revestiam de rituais sincréticos
e transformaram-na em reisados e procissões que estão as raízes profundas do
Carnaval atual”. (DIENER, COSTA, 2012, p.574). A devoção à Nossa Senhora do
Rosário ou de Pompeia vem de tempos remotos, teve divulgação na Europa e na
África pelos dominicanos e no Brasil pelos capuchinhos. Em Minas:
Onde a invocação data dos primeiros tempos da colonização, ela foi adotada como orago de confrarias e irmandades, sobretudo as de negros, existindo em Ouro Preto, já na primeira metade do século XVIII, três sodalícios a ela dedicados. (CUNHA, 1993, p.31).
A devoção ao Rosário já havia sido introduzida em diversas áreas da África e Nossa Senhora do Rosário acabou eleita como a protetora dos africanos escravizados, principalmente na travessia do oceano, rumo à colônia brasileira.
Carros de bois com alimentos para presos. Vivrers portés aux prisionniers par l’Irmandade do Espírito Santo. Aquarela sobre papel, assinada e datada: J.B.Debret, Rio de Janeiro, 1822. Acervo: Museu Castro Maya, Rio de Janeiro-RJ.
Rio de Janeiro, aquarela sobre papel, assinada J.B.D., cerca de 1817-1818. Debret. Acervo: Museu Castro Maya, Rio de Janeiro-RJ.
Asilo de Nossa Senhora da Piedade da Bahia. Rugendas, s/d.Casa litográfica: Tierry Frères, cité Bergère.
Festa de Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros. Rugendas, s/d.Casa litográfica: Thierry Frères, succ. De Engelmann & C.ie.
No Brasil, em seu amplo território, encontramos bandeiras processionais, as de carregar a abrir o cortejo ou as de hastear, ao anunciar o período festivo de certa devoção, algumas já recolhidas e expostas em museus e tantas outras ainda em uso, conforme registramos em regiões distintas. Muitas são bi-faces, ou seja, tem os dois lados com cenas, frente e verso.
Bandeira processional, bi-face, óleo sobre tela, século XVII. Figura masculina com objetos da Crucificação de Cristo. Coleção particular. São Paulo-SP. (Fonte: BARDI, 1981, p. 27).
As bandeiras devocionais em Minas Gerais
Em
região tão distante do reino e com a proibição da entrada das ordens e dos
clérigos no território das Minas, coube então às lideranças dos povoados a
organização política e religiosa das comunidades. Com o incentivo da Coroa
Portuguesa, surgiram as irmandades, que se proliferaram por toda a área; a mais
antiga de todas, devidamente constituída, foi a Irmandade de Nossa Senhora dos
Homens Pretos, da Vila de São João del-Rei, em 1708. (BOSCHI, 1986, p. 1708).
Inicialmente, hospedadas nas matrizes, algumas colaboraram na construção do
templo, inclusive ao edificar e ornamentar os seus retábulos; logo que
possível, estas irmandades construíram os seus templos próprios e deixam as
matrizes, cada grupo social e étnico com seus templos e suas devoções. Em comum
entre todas, os esforços para celebrar os padroeiros e as padroeiras, com toda
pompa e esmero.
A
partir da localização de um recibo da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês dos
Pretos Crioulos, de São José, atual cidade de Tiradentes, a registrar o
pagamento ao artífice Manoel Victor de Jesus, nos deparamos com situação que
pode nos propor reflexões: – estamos diante documento comprobatório da fatura
de “Bandeira para o mastro das festividades” da irmandade; porém, não há
informação sobre o paradeiro da referida peça. Então, recorremos à A Cripto
História da Arte – Análise de obras de arte inexistente (SERRÃO,
2001), para nos ajudar a compreender tal situação:
É certo que os monumentos
e as obras de arte também desaparecem, fruto de descuidos e abusos, de maus
tratos e insolências, de actos de iconoclastia e de maus restauros, a que se
junta a imprevisibilidade das tragédias naturais e as incúrias de gestão. Nem
por isso, porém, deixam de ter identidade histórica que, na sua sucessão de
perdas, precisa de ser contada e investigada, algo a que e pode chamar registro
cripto-artístico, ou seja, uma arqueologia de memórias e indícios, ancorada nos
testemunhos remanescentes [...]. (SERRÃO, 2020, p. 85).
O
professor, pesquisador, conferencista, autor e historiador de arte português Vitor
Manuel Guimarães Veríssimo Serrão (1952) nos propôs que para se obter maior
compreensão da arte, há que se considerar as obras vivas – as existentes, as
mortas – as desaparecidas nas mais diversas circunstâncias, as inacabadas e
ainda as que foram idealizadas, mas não executadas. Para tal sugeriu as
seguintes vertentes para análise: 1. criptanalysis, 2. dedução, 3.
reconstituição, 4. incriação. (2001, p.12). O autor enfatiza que a partir da
cripto-história artística é possível à História da Arte, através dos exercícios
científicos e de análises interpretativas, pode-se rememorar à luz propiciada
pela documentação primária e tornar as obras “lisíveis” e ainda “visíveis”.
Ao
considerar as propostas de Vitor Serrão, há que se considerar também o ambiente
de produção artística, o sociocultural – pois, a cultura resgatada não é nunca
algo separado das condições materiais existentes. (MARTIN-BARBERO, 2008, p.115).
Então, no contexto cultural de São José, daquele tempo, a Irmandade de Nossa Senhora das Mercês dos Pretos Crioulos – ou seja, os pretos nascidos em solo da colônia brasileira, encomendou e pagou a Manoel Victor de Jesus, o artífice que ornamentou igrejas, capelas, consistórios, que atuou como pintor, ilustrador e arquiteto, para pintar a sua “Bandeira para o mastro de festividades”. Tal irmandade, por ser de irmãos não brancos, deveria ter seus recursos limitados, mas se esmerou para edificar e ornamentar a capela no melhor gosto da época, o Rococó. Todos os pagamentos aos mestres executores dos trabalhos da igreja ficaram registrados, arquivados e são subsistentes.
Recebi do Thizoreiro da Irmde
de Nossa Senhoras as Mercez Ignacio Pereira Rangel duas oitavas e meia da
pintura da Bandeira para o mastro das festividades, e por verdade passo
o presente de minha letra e sinal. Villa de S. Jozé 11 de fevereiro de 1817.
Manoel Victor de Jesus
(Reconhecido Pereira)
Livro da Irmandade de Nossa Senhora das
Mercês dos Pretos Crioulos, 1787-188, folhas 18 vº. (grifo nosso).
Ao seguir os princípios apontados pela cripto-história da arte e diante tantas obras documentadas da fatura de Manoel Vitor de Jesus, podemos imaginar como teria sido a tal “bandeira” por ele pintada. O artífice executou a pintura do teto da nave da capela, uma estrutura de arquitetura fingida, com a cena central a apresentar a Virgem das Mercês, ali aplicou o seu conjunto de estilema, obra iniciada a partir de 1804. Para a mesma agremiação, ilustrou o Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês dos Pretos Crioulos, datado de 1796. Provavelmente, o pintor deve ter se valido de suas próprias referências para pintar a tal bandeira, em 1817.
Ainda em Tiradentes, no acervo do Museu Casa Padre Toledo, encontra-se uma bandeira processional bi-face, dedicada à Nossa Senhora do Rosário. Trata-se de peça em madeira recortada e pintada a óleo, datável do século XVIII. Em uma face é apresentada a Senhora coroada, com o Menino Deus ao colo, ambos a ostentar grande rosário. Na outra face aparece São Domingos de Gusmão, com ramo de líros, o rosário e um missal. A solução pictórica é bastante satisfatória, com detalhes do rendilhado das vestes da Senhora, bom contraste das cores e apresenta certo clima de erudição.
Na
antiga Vila Rica, atual Ouro Preto, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos
Homens Pretos surgiu na Freguesia de Antônio Dias, ereta na Matriz de Nossa
Senhora da Conceição, por volta de 1717. Logo construiu sua capela, em local
que passou e ser conhecido como Alto da Cruz do Padre Faria. Recentemente, após
o resgate do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São
Benedito, foi encontrada a bandeira de mastro dos festejos, mas ainda sem
referência documental. Trata-se de peça em chapa metálica e ferro batido,
pintada com a cena da Virgem e o Menino Deus, ambos coroados, a entregar o
Rosário aos santos não brancos: a carmelita Efigênia e o franciscano Benedito. Pelo
material e soluções pictóricas, não resta dúvida de que se trata de peça do
século XVIII. Esta deve ser a única bandeira devocional original ainda
utilizada nas festividades do Reinado, quando a Paróquia de Santa Efigênia
promove intensa programação cultural e devocional para celebrar este reinado. É
também a ocasião em que se conta com a participação de diversas guardas de
congados locais e de diferentes localidades. Com certeza a comunidade de Santa
Efigênia promove um dos reinados mais expressivos do Brasil, conforme destacado
por Kedison Guimarães, atual Capitão da Guarda de Moçambique de Nossa Senhora
do Rosário e Santa Efigênia, além de diretor de Promoção e Igualdade Racial de
Ouro Preto:
O
Reinado, que é Patrimônio Imaterial de Ouro Preto, fortalece a memória e a fé
ancestral deixada pelos nossos antepassados, vem para abençoar e mostrar a
importância do patrimônio afro-cultural-religioso em nosso município. (Fonte: https://ouropreto.mg.gov.br/noticia/3843).
A cena da Senhora e o Menino Deus a entregar o
rosário circulou amplamente pelos mais longínquos cantos de Minas. A que tudo
indica o pintor teve contato com as imagens circulantes ao longo do século
XVIII, sobretudo os registros de santos. A gravura original apresenta os
personagens de santos brancos, Domingo de Gusmão e Catarina de Siena a receber
o rosário, mas os pintores tinham acesso às informações visuais, apropriavam-se
das ideias e adaptavam de acordo com as circunstâncias do momento e
principalmente para atender ao “gosto” das comitentes – as irmandades. A mesma
cena da bandeira de mastro da Matriz de Santa Efigênia, podemos apreciar no
teto da capela-mor da Ermida de Nossa Senhora do Rosário, em Itabira-MG,
executada por pintor ainda desconhecido.
Bandeira de mastro, chapa metálica e ferro fundido, pintada a óleo. Provavelmente de meados do século XVIII. Autor desconhecido. Acervo Matriz de Santa Efigênia, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Cena da Senhora e o Menino Deus a entregar o rosário para os santos Efigênia e Benedito. Teto da capela-mor da Ermida de Nossa Senhora do Rosário, autor ainda desconhecido. Têmpera sobre madeira. Início do século XIX. Itabira-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Os
registros de santos circularam, por serem de produção mais econômica e de formatos
pequenos, tornaram-se populares. No Museu da Inconfidência há uma matriz
litográfica de tal cena, mas com os santos brancos: Domingos de Gusmão e
Catarina de Siena.
Matriz
litográfica de registro de santo, com a cena da Virgem e o Menino Deus a
entregar o rosário para os santos Domingos e Catarina de Siena. Acervo Museu da
Inconfidência. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Na
Matriz de Nossa Senhora do Pilar ouropretana, registramos outra bandeira
processional, pintada, com a imagem da Senhora do Rosário e o Menino Deus
coroados a entregar o rosário a duas cabeças aladas. A Senhora tem o seu manto
aberto, vermelho, e está sob a lua crescente. Há a possibilidade de esta
bandeira ter sido pintada por um dos dois artífices que atuaram na ornamentação
pictórica da Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, da Paróquia
do Pilar: José Gervásio de Souza e Manuel Ribeiro da Rosa.
Bandeira processional de Nossa Senhora do Rosário. Pintura óleo sobre tela, século XIX. Acervo da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
O
Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, em seu gigantesco e primoroso acervo,
apresenta-nos algumas bandeiras devocionais. Uma delas é bi-face, pintada em
madeira recortada, com a cena tradicional da Senhora do Rosário – também
denominada de Pompeia, o Menino Deus e os santos brancos: Domingos de Gusmão e
Santa Catarina de Siena. Enquanto na outra face está a cena da Anunciação.
A que tudo indica, as duas cenas foram inspiradas nos impressos circulantes.
Na face em que aparecem os dois santos, aos pés da Senhora e entre eles, figura um cachorro com a tocha acesa (Domini canis – cão do Senhor) símbolo de defensor da fé contra as heresias, elemento distinto da iconografia de São Domingos de Gusmão (Lorêdo, 2002, p. 157). Ou seja, o pintor tinha conhecimento das informações iconográficas, além das impressas em gravuras.
Bandeira processional bi-face, madeira recortada e pintada, óleo sobre madeira, século XVIII. Autoria desconhecida. Museu da Inconfidência. Ouro Preto-MG.
Detalhe da pintura, com o cachorro e a tocha acesa na boca, elemento da iconografia de São Domingos de Gusmão. Bandeira processional. Museu da Inconfidência. Ouro Preto-MG. Fotografia: Acervo do Museu da Inconfidência. Ouro Preto-MG.
Estão
expostas ainda mais duas bandeiras processionais, pinturas a óleo sobre tela,
do século XVIII, uma com a cena da Pregação de Santo Inácio de Loiola e
a outra de Nossa Senhora da Boa Morte, ambas são bi-faces, com os
personagens inseridos em ambientes arquitetônicos imponentes. São provenientes
do Seminário Maior de Mariana, provavelmente executadas por um mesmo pintor.
Ainda em Ouro Preto, no distrito de Cachoeira do Campo, no Sinete Antiquário, propriedade de Edson Elias Xavier, registramos uma imponente bandeira processional, bi-face, em madeira recortada, entalhada e pintada, com a cena da Senhora do Rosário coroada, o Menino Deus e o rosário. Na outra face aparece um santo sem os atributos necessário para a identificação.
Bandeira processional, Nossa Senhora do Rosário, bi-face.Madeira recortada, entalhada e pintada. Acervo Edson Elias Xavier. Cachoeira do Campo, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
No Museu Regional de Caeté se encontra, na reserva técnica, um curioso conjunto de bandeiras processionais, em madeira recortada, pintada e bi-faces, de gosto mais popular, com símbolos da Ladainha de Nossa Senhora. Pelas soluções da carapina e da pintura, ambas devem ter sido executadas pelo mesmo artífice. Peças datáveis do século XVIII e procedentes da Capela de Nossa Senhora do Ó, de Sabará-MG.
Conjunto de bandeiras
processionais, madeira recortada e pintada. Acervo Museu Regional de Caeté-MG.
Peças procedentes da Capela de Nossa Senhora do Ó, de Sabará-MG. Fotografias: Arquivo
do Museu Regional de Caeté.
No
Museu Regional de São João del-Rei, encontra-se bandeira processional de forma
ovalada, pintura a têmpera sobre madeira e equivocadamente colada sobre
eucatex. Apresenta a Senhora com o Menino Deus que segura pequena cruz. Ela está
sentada sobre tufos de nuvens, com veste branca, manto azul e véu amarelo
movimentado, calça sandália e coloca o pé sobre a lua crescente, tem sobre a
cabeça diadema formado por estrelas e entrega o rosário a São Domingos de
Gusmão, ajoelhado, a trajar o hábito dominicano, com a cruz latina e o missal.
Os três personagens estão envoltos por tufos de nuvens com cabecinhas aladas, sobre
um deles se encontra a Senhora, figuram pequenas flores. Aparece luz dourada no
entorno da cabeça do Menino Deus. Pela organização da composição, esta bandeira
processional deve ter sido inspirada em um dos impressos circulantes do século
XVIII.
Esta
bandeira processional tem sido atribuída ao pintor, dourador e riscador de
retábulos Joaquim José da Natividade (1771-1841), porém, o cromatismo, as
estruturas anatômicas dos personagens e da florística diferem das soluções
desenvolvidas e aplicadas por este artífice, que ornamentou diversos tetos e
retábulos de igrejas com pinturas estruturadas a partir de elementos da
arquitetura fingida.
Bandeira processional, têmpera sobre madeira, século XIX. Acervo Museu Regional de São João del-Rei. Fotografia: Arquivo do MRSJDR.
Na
Capela da Venerável Ordem Terceira do Monte Carmelo, de São João del-Rei,
encontra-se outra bandeira processional, em tecido recortado, bordado e com a
estampa de Nossa Senhora do Carmo. A que tudo indica, teve uso intenso e foi
recolhida e exposta para a sua preservação. As bandeiras processionais em
tecidos ainda se encontram em diversas edificações religiosas, como a que
registramos na Capela de Nossa Senhora do Rosário, em Matias Barbosa – peça
ainda em uso nas festividades da padroeira. Há peças bastante preservadas,
outras em precárias condições, a necessitar de intervenção de restauração.
Existiu em São João del-Rei, segundo registro do pesquisador Antônio Gaio Sobrinho, a Bandeira da Misericórdia, que saia no cortejo para acompanhar os condenados à pena capital; as execuções ocorriam no Morro da Forca. De acordo com o pesquisador, esta bandeira foi recolhida e incinerada por um padre da cidade.
Em
Portugal, a instituição da Misericórdia teve fundação há mais de 500 anos, para
praticar ações de misericórdia corporais e espirituais. Elas vieram preencher o
espaço na sociedade moderna para a assistência na pobreza e na morte, aos
presos e aos condenados às execuções capitais. Como a Bandeira da Misericórdia
de São João del-Rei não existe mais, apresentamos aqui a Bandeira da
Misericórdia de Lisboa, pintada em óleo sobre tela, bi-face, datada de 1784 e
de autoria do artífice Bernardo Pereira Pegado.
Bandeira processional da Misericórdia, bi-face, óleo sobre tela, de 1784, autoria de Bernardo Pereira Pegado. Acervo e fotografia: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Portugal.
A Senhora da Misericórdia,
ou Senhora do Manto, é representada com seu amplo manto materno para a proteção
dos necessitados, doentes, encarcerados e dos condenados à morte. Na composição
está o povo cristão que se identifica com a sociedade organizada, de um lado,
figuras diversas representativas da Igreja e do outro lado a sociedade civil – reis,
nobres e povo, a encontrar com representação popular – os pobres e os presos
sob os pés da Mãe Misericordiosa. Na bandeira lisboeta, a Senhora aparece sobre
um encarcerado.
Além desta bandeira da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em Portugal outras instituições também ainda se preservam exemplares deste artefato devocional, como em Arouca e no Porto, que pode ser referenciado, ainda, como Pendão da Misericórdia.
Bandeira processional da Misericórdia, bi-face, óleo sobre tela, datada de 1775, autor Domingos Teixeira Barreto.Acervo e fotografia: Museu e Igreja da Misericórdia do Porto, Portugal.
As bandeiras devocionais e o patrimônio
imaterial
Ouro
Preto abre o calendário anual de reinados – o Reinado de Nossa Senhora do
Rosário – que homenageia também Chico Rei, com a programação Fé que canta e
dança. Geralmente, tem início no dia 6 de janeiro, Dia dos Santos Reis, com
o levantamento dos mastros e hasteamento das bandeiras. A programação cultural
durante a festa é vasta. No último dia se realiza o cortejo que conta com a
participação de dezenas de guardas de congados, locais e vindos de outras
cidades.
Na
Matriz de Santa Efigênia as guardas se encontram, formam longo cortejo, a
frente de cada uma vai a bandeira devocional. Elas se direcionam até a Mina do
Chico Rei, para saudar a Corte do Reinado, com os reis, rainhas, princesas e
príncipes. Ao retornar, param na Matriz de Santa Efigênia e apanham os andores
de Nossa Senhora do Rosário, de Santa Efigênia, de São Benedito e seguem em
procissão até a Capela do Padre Faria. Ao final da tarde se procede o
arreamento dos mastros e das bandeiras.
Bandeiras de mastros do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito, Paróquia de Santa Efigênia, Ouro Preto-MG. Fotografias: Luiz Cruz, 2021, 2024.
A bandeira de Santa Efigênia abre o longo cortejo do Reinado de Ouro Preto, com certeza o mais bonito e representativo de Minas Gerais. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Saudação do Capitão da Guarda de
Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia à corte do Reinado de
Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito de Ouro Preto, na Mina
do Chico Rei. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
O terno de congado de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Graças e demais no retorno à Matriz de Santa Efigênia. Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Terminado
o reinado, em Ouro Preto e seus distritos, tantas outras festas devocionais são
promovidas, diversas delas fazem o levantamento do mastro e o hasteamento da
bandeira do santo homenageado.
Mastro e bandeira de Nossa Senhora do Rosário, da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Bandeira de Nossa Senhora da Piedade, Igreja de São Francisco de Paula, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Bandeira de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Graças, APAE, Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022.
As
manifestações devocionais e culturais, como as congadas, reinados, reisados e
folias são componentes do Patrimônio Imaterial. Juntamente a elas, deve-se
considerar as suas particularidades, como as bandeiras, os objetos tais como coroas,
espadas, cetros, indumentárias, instrumentos, ritmos, cânticos, danças e a
própria celebração em si.
No
Brasil, em 1936, o visionário pesquisador e modernista Mário de Andrade, em seu
Anteprojeto de Criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional, já
destacava a necessidade de se preservar a “Arte Popular”, como se conta:
Da arte popular (3). Incluem-se nesta terceira categoria todas as manifestações
de arte pura ou aplicada, tanto nacional como estrangeira, que de alguma forma
interessem à Etnografia [...]. (ANDRADE, 1981 p.41).
Porém, apenas a partir da promulgação da Constituição Federal, de 1988, a arte popular e as suas manifestações passaram a ser reconhecidas, conforme o:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os
bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira [...].
Desde
então, a materialidade e a imaterialidade patrimonial têm recebido atenção por
parte dos governos federal, estadual e municipal. O IPHAN, assim definiu:
Patrimônio
Imaterial é um conceito adotado em muitos países e
fóruns internacionais como complementar ao conceito de patrimônio
material na formulação e condução de políticas de proteção e
salvaguarda dos patrimônios culturais, sob a perspectiva antropológica e
relativista de cultura. Usa-se, também, patrimônio intangível como
termo sinônimo para designar as referências simbólicas dos processos e
dinâmicas socioculturais de invenção, transmissão e prática contínua de
tradições fundamentais para as identidades de grupos, segmentos sociais,
comunidades, povos e nações.
Dicionário
do Patrimônio Cultural do IPHAN. Patrimônio Imaterial, VIANNA,
Letícia C.R.
Disponível
em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234
O
patrimônio imaterial ou patrimônio intangível tem recebido atenção e atualmente
os Congados/Congadas/Reinados se encontram em processo de registro e brevemente
serão reconhecidos como Patrimônio Nacional, pelo IPHAN.
As bandeiras devocionais em Oliveira
Há muitos anos a cidade promove um dos mais tradicionais reinados de Nossa Senhora do Rosário. Provavelmente, deve ser o mais completo de Minas Gerais; durante a festa, todos os dias ocorrem expressivas manifestações, inclusive com a saída do famoso Boi do Rosário, que é recebido pelos festeiros e percorre as ruas a atrair significativa multidão. O povo segue atrás dele a gritar: “Êh, Boi. Êh, Boi”. É o Boi mais aclamado e dos mais amados dos festejos devocionais. O reinado começa com o levantamento dos mastros e o hasteamento das bandeiras e para se encerrar, conta com todas as guardas juntas, numa expressiva comoção, cada mastro é arreado e a bandeira recolhida. Este é um dos momentos mais emocionantes do reinado, os capitães se ajoelham diante às bandeiras, agradecem, rezam e certos não contém as lágrimas. Em Oliveira, tudo é muito forte, impactante e sobretudo respeitoso. O povo oliveirense faz um reinado com força, fé, devoção e muita tradição.
O Boi do Rosário do Reinado de Nossa Senhora do Rosário e ao ser recebido por um dos festeiros. Oliveira-MG. Fotografias: Luiz Cruz, 2010.
Guarda de Nossa Senhora Aparecia e sua bandeira. Oliveira-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022.
Guarda de Nossa Senhora das Mercês e sua bandeira. Oliveira-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022.
Bandeiras de mastros das guardas de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia, São Benedito e Nossa Senhora das Mercês. Oliveira-MG. Fotografias: Luiz Cruz, 2022.
Bandeira de mastros da guarda de Nossa Senhora do Rosário.Oliveira-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022.
Congadeiros ao receber a bandeira de mastro da Guarda de Nossa Senhora do Rosário. Oliveira-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022.
Congadeiros ao receber a bandeira de mastro da Guarda de Nossa Senhora do Rosário. Oliveira-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022.
As manifestações devocionais populares de São João del-Rei
Cidade
é detentora de arraigadas tradições religiosas, mantém uma das mais completas
celebrações de Semana Santa do Brasil, também prima por abrigar e incentivar
outras manifestações, inclusive as de origem afro-brasileira. Algumas delas já
devidamente reconhecidas e registradas como Patrimônio Imaterial.
Folias dos Santos Reis, São João del-Rei-MG. Fotografias: Luiz Cruz, 2013.
Folia dos Santos Reis,
São João del-Rei-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2013.
Folia do Divino Espírito Santo, São João del-Rei-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2013.
A
partir do momento que ocorreu o seu resgate, São João del-Rei promove o Jubileu
do Divino Espírito Santo com grande pompa, a seguir a tradição e conseguir a
mobilização da comunidade em torno desta devoção tão arraigada na cultura
brasileira. Na festa do Divino, ocorrem cortejos e todos são precedidos pelas
bandeiras.
É
necessário registrar que nos bairros e distritos de São João del-Rei também
ocorrem imponentes celebrações, como no Cajuru, Caburu, Rio das Mortes, São
Sebastião da Vitória e outros.
Bandeiras do Divino Espírito Santo, Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. São João del-Rei-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2010.
Festa de São Gonçalo do Amarante, com a
bandeira do orago. São João del-Rei-MG, Distrito do Caburu. Fotografia: Luiz
Cruz, 2023.
Bandeira de São Sebastião. Festa do
padroeiro do Distrito de São Sebastião da Vitória, São João del-Rei-MG.
Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Praticamente
em todas as manifestações, as bandeiras abrem o cortejo e imprimem significação
e delimitam a ação em torno de uma devoção, seja de uma procissão da Igreja
Católica, de uma Folia ou de um Congado. Segundo um dos mais renomados
estudiosos da cultura popular, em especial o Congado, Frei Francisco van der
Poel, afirma que “A bandeira da festa deve ser benta.” (1981, p. 233). Para
compreender mais sobre estes elementos simbólicos da cultura popular,
entrevistamos o folclorista Ulisses Passarelli:
Habitualmente as bandeiras recebem a
benção do padre, na Igreja. Conforme o breviário, as bandeiras, como casas,
santos, objetos e animais são benzidos. Todas as bandeiras de folias e congados
passam pelas bençãos de Igreja, inclusive com a aspersão de água benta.
Independente da benção da Igreja, em caso de folias e congados, mas muito mais
as de congados, esta benção pode se ampliar para bençãos populares ou benção de
religião de axé, que são muito específicas. Por exemplo, as vezes nelas se
penduram pequenos objetos, peças, que não são exatamente enfeites, eles ficam
ali misturados a eles. Pode ser uma medalha, estrela, cruz, figa ou patoá.
Ainda, pendurar uma fita que estava na imagem do Preto Velho, troca-se a fita
por outra nova. Aspergir a bandeira com a água que estava na quartinha de
Iansã, ou na quartinha de Xangô. Ou aspergir com água do mar. As vezes submeter
a bandeira à defumação, ou colocá-la nas mãos de uma entidade incorporada, um
Caboclo ou Preto Velho. Isso é uma prática comum, não individual. A bandeira da
Folia de Reis Embaixada Santa passou por todo este processo e quem vê uma
bandeira na rua, não tem ideia da sua representatividade física e espiritual.
Ainda, a bandeira pode dormir uma noite
no sereno, ou passar um momento na chuva, ficar exposta à luz do luar ou num
dia de sol, tudo isso conta e deve ser feito. De certa forma, isso não é
revelado e cada grupo segue a tradição herdada.
De maneira geral, as pessoas em sua
simplicidade, mas na profunda devoção popular, têm respeito imenso pelas
bandeiras, ela é a referência maior do grupo. Pode ter bengala, coroa, cetro,
espada, capa e outros objetos, mas a bandeira é mais importante. Por exemplo,
quando chega uma Folia de Reis, a gente vai e encontra com os companheiros, mas
o folieiro deve primeiro ir até à bandeira, beijá-la, pedir benção, para depois
cumprimentar o folião e os colegas. A
bandeira é o centro de tudo, ela é o eixo e não pode perdê-la de jeito nenhum.
Depoimento
de Ulisses Passarelli, folclorista, folião, congadeiro e líder espiritual da
Tenda de Umbanda Ogum de Ronda, no bairro Caieira, em São João del-Rei,
registrado em 15 de fevereiro de 2024, especialmente para esta publicação.
A
partir deste conjunto de informações, torna-se necessário apreciar as bandeiras
com outros olhares. Bandeira e bandeireiro/a se complementam, para conduzir o
símbolo da agremiação, corporação ou da devoção, a pessoa precisa ser
conscientizada da importância do símbolo e sua função de conduzi-la.
Folia de Reis Embaixada Santa, de São João del-Rei, na Matriz de São Sebastião. Santa Cruz de Minas-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2015.
Festa de São Sebastião, padroeiro de Santa Cruz de Minas-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2016.
Festa de Nossa Senhora Auxiliadora, Comunidade da Candonga. Participação do Congado de Nossa Senhora do Rosário e São Miguel. Santa Cruz de Minas-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2017.
O Patrimônio Intangível
de Tiradentes
Fundada
nos primeiros anos do século XVIII, a antiga Vila de São José cresceu e dotou a
localidade com sua matriz, capelas, passos da paixão e um dos mais imponentes
chafarizes do período colonial. A Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens
Pretos – ou seja, os nascidos em solo africano, abrigou a Matriz de Santo
Antônio, em determinado período da década de 1720. A partir desta informação,
denota-se que se trata de uma das mais antigas de Minas Gerais dessa devoção.
Edificada em pedra, com retábulos policromados e dourados, tem o teto da
capela-mor pintado com exuberante arquitetura fingida e o da nave executado
pelo artífice Manoel Vitor de Jesus. É um elegante exemplar da arquitetura
colonial brasileira.
Em
certos períodos do século XX, esta capela esteve praticamente abandonada e a
situação de conservação acabou bastante comprometida. Basta olhar rapidamente
para a situação do teto da nave que logo se compreende o que se sucedeu ali em
termos de manutenção. O mesmo ocorreu com o culto à Senhora do Rosário, que ficou
esquecido e coube ao Corpo de Bombeiros Voluntários de Tiradentes o resgate da
festa e para abrilhantar era necessário buscar ternos de congados na redondeza,
Coronel Xavier Chaves, Barroso ou Resende Costa.
Numa iniciativa do Instituto Cultural Biblioteca do Ó, promoveu-se o Projeto Recontando o Rosário, com o apoio da Fundação Palmares, a resultar na criação e formação do Congado de São Benedito, a partir de ampla investigação sobre a indumentária, instrumentos, ritmos, cânticos, formação do cortejo e outros aspectos. Acompanhamos o desenvolvimento deste projeto e registramos que não foi nada fácil, principalmente pelo “preconceito estrutural”. Enquanto mantido, o Congado de São Benedito promoveu a Festa do Rosário, inclusive com a procissão da Senhora e de São Benedito – logo que sua imagem foi retirada do retábulo, constatou-se que a imagem do santo estava sendo devorada pelos cupins.
Bandeireiras outros integrantes do Congado de São Benedito.
Instituto Cultural Biblioteca do Ó, Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2010.
Pela
perda do espaço onde se encontrava instalado o Instituto Cultural Biblioteca do
Ó, por falta de apoio e participantes, o Congado de São Benedito acabou
desarticulado. Está no aguardo de interessados para se reestruturar e seguir a fazer
história.
Inspirado
nas experiências do Congado de São Benedito, o Capitão Prego criou o Congado de
Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia, que anualmente promove a Festa do
Congado de Tiradentes, com a participação de várias guardas da região. É uma
bela festa dedicada à Nossa Senhora do Rosário e aos santos não brancos.
O
Congado de Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia já foi reconhecido e
registrado como Patrimônio Imaterial de Tiradentes, através do Conselho
Municipal de Políticas Públicas e Patrimônio. Tem sido tema de intervenções
artísticas e em 2023, com obras do artista visual Yhuri Cruz, intitulada Monumento
à voz de Anastácia e Pintura mural, risografia de santinhos, ambas
de 2019, estiveram expostas na grande Galeria do Lago, em Inhotim,
Brumadinho-MG, atualmente considerado um dos maiores museus a céu aberto do
mundo e dos mais visitados do Brasil.
Congado de Nossa Senhora do Rosário e
Escrava Anastácia, com o prefeito Nilzio Barbosa. Tiradentes-MG. Fotografia:
Luiz Cruz, 2022.
Mastros e bandeiras da Festa do Congado
de Tiradentes. Largo das Mercês, Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Guarda de congada na capela-mor da Igreja do Rosário. Festa do Congado de Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Bandeira, instalação artística colaborativa em homenagem ao Capitão Prego e à Escrava Anastácia. Beco do Zé Moura. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2020.
Bandeira do Congado de Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Muito
além dos grandes eventos que a cidade recebe, Tiradentes mantém seus grupos,
tanto na sede quanto nos distritos. Dentre eles as folias de Reis e São Sebastião
que marcam presença anualmente, visitam as casas, os presépios e abençoam cada
família que as recebem.
A
família que abre as portas para uma folia, deve conduzir a bandeira pelos
cômodos da casa. É importante que ela fique ou passe sobre cada cama dos
familiares, para abençoar e proteger.
Folia de Reis, folião Gilson Costa. Tiradentes-MG. Fotografia Luiz Cruz, 2014.
Folia de Reis, folião Gilson Costa. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Bandeira da Folia de Reis, sobre a cama, para a benção e proteção. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Ricardo Monte Negro – Presidente do
Conselho Municipal de Políticas Culturais e Patrimônio e Maria Lídia Montenegro
– Presidente o Conselho Deliberativo do Centro Cultural Yves Alves ao receber a
Folia de Reis, de César de Pina, Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Folia de Reis, de César de Pina, Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
A pérola do Campo das
Vertentes
O
antigo povoado do Mosquito, a atual cidade de Coronel Xavier Chaves se tornou na
mais charmosa pérola do Patrimônio Imaterial da região. É uma cidade pequenina,
mas referência em limpeza urbana e tratamento de seus resíduos. Suas ruas e
praças são mantidas impecavelmente. Em seu conjunto arquitetônico singelo,
predomina a harmonia e o grande destaque é a Capela de Nossa Senhora do
Rosário, edificação do século XVIII.
Coronel
Xavier Chaves mantém seu calendário cultural bastante concorrido e ao longo do
ano tudo transcorre perfeitamente e a cidade com os seus grupos, recebem
atenciosamente os convidados e juntos promovem eventos expressivos. No Carnaval
tem o Boi Riscado, a Semana Santa é realizada com dedicação e mobilização da
comunidade, além dos encontros de folias e congados. É das poucas cidades da
região em que as mulheres se unem, fortalecem e participam ativamente de tudo.
São mulheres empoderadas, lindas e um dos orgulhos desta localidade.
Encontro de Folias de Coronel Xavier
Chaves, promovido pelo Grupo de Folia de Reis de Coronel Xavier Chaves, com o apoio da Prefeitura. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Grupo de mulheres que compõem a Folia de São Sebastião. Coronel Xavier Chaves-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Encontro de Folias de Coronel Xavier Chaves, promovido pelo Grupo de Folia de Reis de Coronel Xavier Chaves, com o apoio da Prefeitura. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Bandeiras de mastros do Encontro de Congados de Coronel Xavier Chaves-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
A
Banda de Congado de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, do Capitão Zé
Carreiro, é reconhecida e registrada como Patrimônio Imaterial da cidade. É
organizadora de um dos encontros de congados mais significativos do Campo das
Vertentes.
O
Capitão Zé Carreiro e sua banda sempre estiveram presentes em Tiradentes, desde
o final da década de 1980, nas tentativas do resgate da Festa do Rosário. Foi o
primeiro terno de congado que entrou na Igreja do Rosário para louvar e bater
tambor em homenagem à padroeira do povo preto.
Zé Carreiro é homem dos mais admirados e respeitados do nosso Patrimônio
Imaterial e do Patrimônio Humano. Homem simples, mas iluminado, gigante em sua
humanidade, alegria e fé. É um líder espontâneo e carismático. Breve estará a
completar 90 primaveras.
Capitão Zé Carreiro e o saudoso bandeireiro de
Moçambique Marco Aurélio. Festa do Congado de Tiradentes, Largo do Sol,
Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2016.
Capitão Zé Carreiro no Encontro de Folias de Coronel Xavier Chaves-MG. Adro da Capela de Nossa Senhora do Rosário. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Bandeira, pendão, flâmula, galhardete...
Conforme o poema de Castro Alves, bandeira é palavra com muitos sinônimos e o próprio objeto ou artefato pode ser empregado em formas distintas e em inúmeras manifestações devocionais, muito além das de origem afro-brasileira. Em Ouro Branco, na festa do padroeiro Santo Antônio, tudo começa com o levantamento do mastro e o hasteamento da bandeira.
No
nosso tempo de criança, na Rua Direita, de Tiradentes, uma das celebrações mais
emocionantes era a Festa de Nosso Senhor dos Passos, que é promovida desde
1722. Para abrir a procissão, a frente vinha o Pendão dos Passos. Roxo, forte,
impactante, altíssimo e cinco homens a conduzi-lo. No roxo intenso, destacavam
as letras SPQR - Senatus Populus Que Romanus, ou Senado e o Povo de
Roma. Naquele silêncio profundo, o Pendão dos Passos imprimia respeito a todos.
Tudo convergia para uma autêntica viagem ao tempo: a arquitetura, o urbanismo,
as indumentárias, a música, a imaginária, os perfumes do incenso e do
rosmaninho, o toque doloroso dos sinos e arraigada devoção ao Senhor dos
Passos.
A Festa de Passos antecede a Semana Santa e predomina a cor roxa e para o encerramento da programação, acorre a procissão da Ressurreição, ou de Pascoal, na abertura do cortejo ia a bandeira da Irmandade do Santíssimo Sacramento, bem vermelha.
Pendão da Procissão de Passos, Capela de Nossa Senhora das Mercês. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2015.
Pendão dos Passos, Rua Direita,Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2015.
Curiosamente, depois que os postes e a fiação elétrica do núcleo antigo de Tiradentes foram removidos e substituídos por lampiões, a vara original do Pendão dos Passos foi cortada. Ficou bem mais curta e perdeu a aquele impacto de outrora. Praticamente em todas as cidades antigas de Minas que promovem a Semana Santa, o Pendão dos Passos faz parte da tradição.
Andor de Nosso Senhor dos Passos e o
Pendão dos Passos. Capela de Nossa Senhora do Rosário, Coronel Xavier Chaves-MG.
Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Bandeira a Irmandade do Santíssimo Sacramento, Procissão da Ressurreição. Tiradentes-MG, década de 1990. Fotografia: Luiz Cruz.
Bandeiras de Carnaval
Bloco carnavalesco que se preze, tem sua bandeira para abrir o cortejo e arrastar a multidão pelas ruas, assim ocorre com um dos mais antigos de Minas Gerais, o Bloco Zé Pereira da Chácara. Bloco com os seus bonecos monumentais, que há 177 anos circula pelas tricentenárias ruas da cidade primaz de Minas.
Bandeira do Zé Pereira da Chácara, de Mariana-MG. Carnaval de 2024.Fotografia: disponível em:https://mundodosinconfidentes.com.br/bloco-ze-pereira-da-chacara-sai-as-ruas-no-carnaval-de-mariana-em-seus-177-anos-de-tradicao/
Blocos
carnavalescos mais recentes também mantém suas bandeiras, como O Balanço da
Cobra, de Ouro Preto e os blocos de Tiradentes, Os Abandonados, Roma
foi Pouco, Beatões da Santíssima e outros.
Bandeira do bloco O Balanço da Cobra e sua fundadora, a botânica Cida Zurlo. Ouro Preto-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2022.
Bandeira do Bloco dos Abandonados, um dos mais antigos de Tiradentes-MG.Fotografia: Acervo do Instituto Cultural Biblioteca do Ó.
Bandeira do bloco Roma Foi Pouco, um dos mais irreverentes de Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2016.
Os tiradentinos de coração César Fernandes e Syvio Túlio com a bandeira do bloco Beatões da Santíssima. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
O
Aymorés Futebol Clube, fundado em 1919, com sede na Rua Direita, no núcleo
antigo de Tiradentes, mantém a tradição e tem colocado o seu bloco carnavalesco
na rua. É o clube tricolor: vermelho, verde e branco. De quando em quando sua
diretoria lança uma flâmula comemorativa do seu aniversário, que acaba por se
tornar também um elemento memorável.
Flâmula comemorativa do aniversário do Aymorés Futebol Clube. Tiradentes-MG. Acervo: Luiz Cruz.
As
bandeiras devocionais ou processionais, bandeirinhas, pendões, flâmulas,
galhardetes, estandartes e tantas outras denominações para este elemento, acaba
por constituir expressivos aspectos da imaterialidade do nosso Patrimônio
Cultural, seja religioso, profano ou cívico. Que ventos soprem a tremular
bandeiras pelos céus deste Brasil, com sua vasta cultura diversa e tantos bens
imateriais.
Luiz
Antonio da Cruz
Agradecimentos: Eugênio José dos Santos, Ulisses
Passarelli, Maria Clara Caldas Soares Ferreira, Eleni Cassia Vieira, Maria José
Boaventura, Olivia M. C. Lopes da Cruz, Charles Faria, Museu Casa Padre Toledo,
Instituto Cultural Biblioteca do Ó, Gilson Costa, Gelcimara Costa, Maria de
Fátima Loureiro Vasconcelos, Ricardo Ribeiro Resende, Walquir Avelar e a todos que preservam as bandeiras de suas
agremiações.
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Belíssima esplanação sobre os estandartes e bandeiras devocionais e outras. A quantidade de bandeiras e estandartes ainda existentes nas cidades mineiras é impressionante e maravilhosa. Infelizmente em Paraty muito se perdeu destas peças sacras. Parece-me que a única que restou, uma do mastro da festa do divino Espírito Santo, se encontra no Museu de Arte Sacra. Na festa que fizemos, a Família Silva, uma pintor amigo nosso e mineiro, Marcio Franco, copiou esta bandeira que foi então utilizada na festa. Porém, alguns anos depois, o novo festeiro resolveu pintar outa imagem por cima, infelizmente. Também existe a bandeira do mastro da Santa Cruz do Gragoatá, datada do início de 1900. Mais uma vez muito agradeço ao Luiz Cruz tão importantes e relevantes informações sobre religião e cultura popular.
ResponderExcluirDiuner Mello, o tema Bandeira Devocionais é muito rico. As bandeiras estão integradas às cerimônias e aos cortejos. Algumas são preciosas obras de arte, mas todas são expressivas, pois representam a devoção e a corporação. Infelizmente muitas bandeiras desapareceram, ou foram substituídas. Todas precisam de cuidados para ter mais longevidade. Paraty e Tiradentes são cidades com características muito próximas, em tudo. Muito obrigado por sua presença aqui e abraço para você.
ExcluirQuero informar que a postagem colocada como anônimo é minha, Diuner Mello. Esqueci de de identificar
ResponderExcluirCaro Diuner Mello, muito obrigado por sua presença e registro neste blog. Abraço
ExcluirQue maravilha as bandeiras e estandartes que ainda existem nas nossas cidades de Minas Gerais. Belo texto, uma aula! Parabéns Luiz Cruz! Um abraço da Thelma
ResponderExcluirThelma, muito obrigado pela presença e registro neste blog. Desde o momento que peguei o documento redigido e assinado por Manoel Dias de Oliveira sobre a Bandeira de mastro da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês, passei a pesquisar sobre o tema, que é vasto e fabuloso. Pelo Brasil afora vamos encontrar muitas Bandeiras Devocionais, elas são muito expressivas. Abraço e gratidão
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