Manoelina – A Santa dos Coqueiros
Santa
Manoelina
Lenitivo
dos doentes
Rogai a
Deus por nós
Filhos de
amparo carentes (bis)
Queremos
agradecer
Tantas
graças alcançadas
E te pedir
muita luz
Nas nossas
caminhadas
Santa
Manoelina
Digna de
supremo amor
Ponha suas
bênçãos em nós
Acalme a
nossa dor
Santa
Manoelina rogai por nós
Geraldo Gomes Rodrigues (Daditto), Hino
à Santa Manoelina
Monumento à memória de Manoelina Maria de Jesus.
Manoelina
Maria de Jesus nasceu na zona rural do município de Entre Rios de Minas, no
local conhecido como Coqueiros, no Sítio Retiro Velho, em 1911. Seus pais eram
Miguel José da Rocha e Rosária Maria de Jesus; o casal teve dezenove filhos e
perdeu quatro. Coqueiros está a cerca de 10 km do centro da cidade, mas naqueles
tempos era distante de tudo e com acesso por estrada de terra, com manutenção
precária. Ainda menina foi trabalhar numa fazenda, socava café, batia e limpava
arroz e lavava roupa no rio; depois que deixou a fazenda, costurava em casa. Aos
17 anos, Manoelina adoeceu, seus pais recorreram a tudo que foi possível para
sua recuperação; aos 19 anos não havia mais esperança para a cura. O médico de
Entre Rios de Minas, Dr. José Cunha, realizou seus exames no Hospital Cassiano
Campolina e constatou a turberculose, ele a acompanhou no período crônico da
enfermidade. Nas crises, a família se reunia em torno dela e rezava
fervorosamente. O vigário local, padre Rodolfo das Mercês de Oliveira Pena
(1890-1975), chegou a lhe dar a extrema-unção, porque já a considerava um caso
perdido. Certo dia, a jovem se levantou e não tinha mais sintoma da doença.
Depois, passou a se dedicar às rezas, cantava os cânticos processionais e
outros desconhecidos, só saía para as missas dominicais.
Manoelina se vestia com roupas rústicas, uma saia larga e comprida, em tons claros, blusa de manga comprida geralmente branca, um longo lenço branco cobria-lhe a cabeça. Às vezes usava um sobretudo de cor mais intensa. Na cintura amarrava um cordão à moda franciscana e um “rosário” robusto no pescoço. A que tudo indica, gostava de ser fotografada e nas poses colocava o Crucifixo junto ao peito. Construiu um visual forte e impactante. Quem apreciar uma de suas fotografias, jamais esquecerá a imagem típica, com a indumentária a contrastar com sua tez escura. O primeiro a registrá-la fotograficamente foi o Sr. Gonçalves, que mantinha seu studio em Entre Rios de Minas, mais tarde, fotógrafos dos principais jornais do país fizeram registros de Manoelina.
Manoelina dos Coqueiros, 1931. Fotografia do Sr. Gonçalves,
acervo Secretaria de Cultura,
Entre Rios de Minas.
Sr. Gonçalves em seu studio, Entre Rios de Minas. Fotografia acervo da família.
Não
se sabe exatamente como tudo começou, mas ela rezou, benzeu a água, deu para a
mãe que sofria de uma coceira terrível. Dona Rosário era incrédula, jogou a
água fora; sem sair do quarto e sem ver a ação dela, Manoelina a perguntou por
que tinha jogado a água fora. Depois, recebeu menina doente, benzeu a água e a
aspergiu, ela acabou curada de seus males. Este fato circulou rapidamente e
outras pessoas vieram procurá-la para as rezas e as curas.
A
cada pessoa que recebia suas orações e sua água benta, tantas outras passaram a
encontrá-la para a cura de doenças e dos males em geral. Mesmo com saúde
debilitada, Manoelina recebia o povo em três horários diariamente – às 6, 12 e
18h. Começaram a chegar muitas cartas com pedido de orações e as vezes até com
dinheiro. Gente vinda de inúmeros lugares se aportava em Coqueiros para o
atendimento. Muitos iam a pé, a cavalo, em caminhões, automóveis, jardineiras e
em parte de trem, que chegava até a Estação João Ribeiro e depois seguiam até lá.
Ela acabou afamada por suas orações, a água benta e as curas. O número de
doentes só aumentava e sua casa se tornou um ponto de romaria. Por isso, gente
de outros estados e até do exterior se aportou no local, em busca da solução para
as enfermidades.
Com
a circulação de tanta gente pelos Coqueiros, muitos acampados, os inúmeros
vendedores ambulantes e até os acidentes automobilísticos, os vizinhos
fazendeiros acabaram irritados com a movimentação e, então, iniciaram as denúncias.
A Igreja reagiu, o vigário local negou a comunhão à Manoelina; o bispo de
Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira (1876-1960), renegava suas atribuições
de rezadeira e curandeira. Então, ao mesmo tempo que chegavam a Coqueiros
doentes de toda sorte tomados por fé e em busca da cura, tantos outros a criticavam,
eram os seus detratores, certos até zombavam de sua atuação.
Porém,
Manoelina atraiu também a atenção da imprensa e se tornou notícia em O
Cruzeiro – revista semanal lançada no Rio de Janeiro, que circulou entre
1928 e 1975; foi capa do Jornal das Moças – Revista Semanal
Illustrada, de 14 de maior de 1931, ainda nos jornais cariocas A Noite,
Diário da Noite e tantos outros, conforme o quadro abaixo:
Manoelina dos Coqueiros, na revista O Cruzeiro, edição de 6 de junho de 1931. Acervo Secretaria de Cultura de ERM.
Manoelina dos Coqueiros, capa e matéria do Jornal das Moças – Revista Semanal Illustada, RJ, 1931.
Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro – RJ
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Hemeroteca Digital – Brasil – Ano 193
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Fonte |
Ocorrência de Notícias |
A Noite (RJ) – 1930 a
1939 |
164 |
Diário da Noite (RJ) – 1930 a
1939 |
89 |
Gazeta Popular (SP) – 1931 a
1938 |
55 |
Diário de
Notícias (RJ) – 1930 a 1939 |
34 |
Praça de Santos (SP) – 1926 a
1931 |
31 |
Correio da
Manhã
(RJ) – 1936 a 1939 |
29 |
Diário Carioca (RJ) – 1930 a
1938 |
28 |
Estado de
Florianópolis (SC) – 1915 a 1975 |
26 |
O Estado (SC) – 1930 a
1939 |
25 |
Diário da Manhã (PE) – 1930 a
1939 |
22 |
O Jornal (RJ) – 1930 a
1939 |
14 |
Pequeno Jornal
– Jornal Pequeno (PE) – 1898 a 1955 |
12 |
Diário de
Santos (SP) – 1887 a 1939 |
12 |
Diário da Manhã: Órgão do Partido Constructor (ES)1908 a 1937 |
11 |
Diário de
Pernambuco (PE) – 1930 - 1939 |
10 |
O Dia (PR) – 1923 a
1961 |
10 |
Merece
destaque o impresso A Santa de Coqueiros – Sua vida e seus milagres, (Collectannea
organizada por um grupo de crentes), em três partes: I – Antes, durante e
depois da revelação, II – Lendas e Orações, III – Os Milagres, lançado no Rio
de Janeiro, em junho de 1931, com diversos depoimentos de médicos, relatos dos
milagres ocorridos, lendas, orações e poemas a ela dedicados. É exatamente
nesta publicação que se confirma o impacto que sua atuação alcançou,
principalmente após à veiculação na imprensa nacional. Pelos registros,
indubitavelmente a maioria dos atendidos era de Minas Gerais, Rio de Janeiro e
São Paulo, mas constata-se muitos de diversos estados; nos finais de semana, em
certos sábados, segundo a publicação, aglomeravam-se mais de oito mil pessoas
no entorno de sua morada, que assim ficou descrita:
Entramos
na cabana de Manoelina. [...] As paredes sopapeadas de barro, cheias de
orifícios por onde os raios de sol se côam, estão enegrecidas pela fuligem.
Também o vigamento é preto como carvão. Na salinha de entrada há, dispersos
pelo chão, milhares de cartas e telegramas, aos montes. Tropeça-se nestes
papéis de todas as cores. À direita, uma escadinha de cinco degraos carcomidos
leva ao quarto de Manoelina. É sórdido na sua humildade impressionantemente
christã. Um metro e meio de largura por dois de comprimento. O mobiliário
consta da cama, de uma canastra e um oratório. Paredes cobertas de santos.
Todos os santos. Em estampa e imagem. (1931, p.8 e 9).
A casa
edificada com as técnicas vernaculares, com o emprego do adobe e do pau a
pique, ficava em situação mais crítica de conservação porque certos devotos
queriam levar uma relíquia da santa e acabavam retirando “o barro sopapeado nas
paredes da choupana. Dellas vão arrancando torrões. Os buracos já são muitos. E
se isso continuar...” (1931, p. 21).
Ela
foi tema do documentário A Santa de Coqueiros, de 1931, dirigido por Ramon
Garcia, produzido para a empresa A. Sonschein, que registrou sua atuação,
a movimentação nas estradas e em torno de sua casa. Trata-se de registro precioso
a comprovar sua generosidade e a fé das inúmeras pessoas que recorriam às suas dádivas.
Manoelina dos
Coqueiros em sua casa, com devotos. Imagem do documentário de Ramon Garcia, A
Santa Manoelina dos Coqueiros, 1931.
A
multidão a percorrer os caminhos para os Coqueiros provocou a ira dos vizinhos
fazendeiros, da Igreja e da área de segurança – embora, conforme se observa no
documentário, os militares acabavam por se tornar aliados ou até mesmo
solidários aos transeuntes e aos aglomerados em torno da morada de Manoelina.
Curiosamente, muitos militares e até padres procuraram a rezadeira para cuidar dos
seus males, conforme os registros.
De Tiradentes partiam grupos de vendedores ambulantes para participar e vender suas produções artesanais em prata no Jubileu do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas. Os grupos seguiam a pé e havia os pontos de parada para o descanso e o pouso. Eles passavam pelos Coqueiros para receber as bençãos de Manoelina. Um dos mais habilidosos artesãos/ourives destes grupos foi José Gomes de Matos, mais conhecido como Sô Zico. Seu filho, José Gomes, o Zezé, seguiu carreira militar e serviu em Crucilândia-MG. Certo dia, chegou a ele um conhecido, o Euler, filho do João Pereira e lhe mostrou uma medalha que achara no curral. Zezé viu a peça e logo reconheceu a figura histórica de Manoelina dos Coqueiros. Euler lhe presenteou a medalha e Sô Zico fez cópias e distribuiu aos devotos da Santa. Outro tiradentino que visitou a moradora dos Coqueiros foi o fotógrafo amador João Batista Ramalho, que a registrou em pose.
Manoelina dos Coqueiros, fotografada pelo tiradentino João Batista Ramalho, na década de 1930. Acervo Eliane Ramalho, cópia arquivo Luiz Cruz.
A
Igreja e o Governo de Minas Gerais resolveram intervir para coibir a
movimentação em torno de Manoelina. Pressionada, a família teve que mudar para
a zona rural, em Dom Silvério, distrito de Bonfim-MG. Porém, o afluxo de
pessoas à sua residência continuou e chegavam inúmeras correspondências – as
quais ela benzia, aspergia e logo queimava. As notícias sobre Manoelina Maria
de Jesus inquietavam o governador Olegário Maciel (1855-1933), que ordenou ao
seu Secretário do Interior e Justiça, Gustavo Capanema Filho (1900-1985),
providências severas para coibir a atuação dela. Então, por ordem do
Secretário, a Polícia Militar a conduziu coercitivamente até a presença do
governador e ele determinou sua internação no IRS – Instituto Raul Soares, em
Belo Horizonte. O IRS teve inauguração em 1922 e estava vinculado à Secretaria
do Interior e Justiça; posteriormente, à Secretaria de Segurança Pública, com o
objetivo de se tornar referência no tratamento e na pesquisa da área de saúde
mental.
Manoelina
não era doente mental. No IRS ela fez greve de fome, enquanto seu pai, Miguel José da Rocha,
tentava a soltura com habeas corpus. Segundo o pesquisador Elson de
Oliveira Resende (2021, p. 302):
Um psiquiatra não
identificado, ouvido no Raul Soares, concluiu que Manoelina é apenas uma débil
mental, nada mais. Não é uma louca e, como tal, não deve ficar internada entre
loucos.
Foi
solta, mas continuou sob vigilância da Polícia Militar. Mais uma vez a família
foi obrigada a deixar Dom Silvério e se instalou no Capão, em Crucilândia-MG.
Com a saúde sempre debilitada, não se alimentava e nem tomava água, por isso, Manoelina
foi vitimada de anemia profunda e veio a óbito, em 14 de março de 1960.
Manoela
Maria de Jesus – a menina nascida em lugar distante de tudo, vivia numa tapera,
em núcleo familiar numeroso, pobre, preta, analfabeta, de saúde frágil, mas com
inabalada devoção à Nossa Senhora, recebeu a graça ou dom para aliviar os males
dos que a procuravam. Ela não receitava medicamentos, chás ou ervas, apenas
rezava, benzia a água e aspergia a pessoa com o hissope – utensílio de cunho
religioso, usado para aspergir água-benta, composto de um cabo e de bola de
metal oca e com ofícios, nas outra extremidade. Por isso, atraiu muita gente
por onde viveu. Mas atraiu também a ira da Igreja e do Governo de Minas Gerais.
Não havia possibilidade alguma de ela ser acusada de qualquer crime. Quem diria, o Secretário de Estado que mandou
buscá-la em prisão coercitiva logo viria obter a nomeação para o cargo de
Ministro da Educação e Saúde, no Governo Vargas, em 1934, onde permaneceu até
outubro de 1945, com o fim do Estado Novo. O padre Rodolfo, que negou a
comunhão a Manoelina, recebeu a sagração episcopal das mãos de Dom Helvécio
Gomes de Oliveira, em 8 de setembro de 1935; após sua renúncia, em 9 de
dezembro de 1960, voltou a residir em Entre Rios de Minas, onde faleceu a 9 de
dezembro de 1975 e foi sepultado no corredor central da Matriz de Nossa Senhora
das Brotas.
A
menina dos Coqueiros cativou a atenção do documentarista Ramon Garcia, da
imprensa nacional e de certos intelectuais brasileiros, dentre eles o poeta
Carlos Drummond de Andrade, que trabalhava no SPHAN – Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (atual IPHAN), que funcionava no prédio do
Ministério da Educação e Cultura, no Rio de Janeiro. Com o pseudônimo Antônio
Crispim, publicou uma crônica no Minas Gerais, de 25 de fevereiro de
1931, posteriormente reeditada na Revista do Arquivo Público Mineiro, em
1984 e assim destacou:
[...]
as pessoas que antigamente, no dia mais ocupado da semana, também chamado dia
de descanso, seguiam para Santa Luzia, Morro Velho ou Acaba Mundo, vão hoje a
Entre Rios, onde uma santa faz milagres no alto de um morro. [...] A maioria,
porém, vai a Coqueiros porque Coqueiros é um lugar de bênçãos onde um diálogo
se estabelece ardente e puro, entre os anjos do céu e uma cafusa da terra [...].
A santa, que é pobre, inspira mais confiança aos pobres que outras
santas, e sendo trabalhadora humilde da fazenda, tudo a recomenda ao carinho
dos humildes, dos pequeninos, que até agora não tinham uma representante direta
na classe das taumaturgas [...]. (grifo nosso).
Através
de iniciativa do médico José Pedro Borges, foi realizado o projeto de Resgate
da História de Santa Manoelina. Surgiu a proposta de se criar o Memorial
de Santa Manoelina, com a participação e o apoio de Maurílio de Oliveira
Resende, proprietário da área dos Coqueiros, onde ainda existe a tal morada,
que foi restaurada e adequada para receber visitantes. Ela ganhou uma estátua
na casa e outra no centro, na Praça Cel. Joaquim de Resende. As esculturas foram
realizadas em Coronel Xavier Chaves, em gnaisse, obra de David Eduardo Fuzatto,
com a imagem reconstruída através dos relatos de Daditto. A Secretaria de
Cultura passou a promover anualmente a Caminhada Manoelina do Coqueiros,
com saída em frente ao seu monumento até a casa nos Coqueiros. Os ciclistas
entrerrianos, devotos da Santa, também realizam atividades a homenageá-la.
Caminhada de Peregrinação até os Coqueiros, onde viveu Manoelina Maria de Jesus. Edição de 2024, Entre Rios de Minas. Fotografia acervo da Secretaria de Cultura.
Ciclistas entrerrianos prestam homenagem à Santa, indo até os Coqueiros onde ela viveu, Entre Rios de Minas, 2024. Fotografia acervo Luciano Carvalho.
Em
2021, com os recursos do Fundo Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural do
Munícipio de Entre Rios de Minas – FUMPAC, da Secretaria de Cultura local e o apoio
cultural do Sicoob Credicampo, a obra De Bromado a Entre Rios de Minas
...sua arte, ...sua história, do pesquisador Elson Oliveira de Resende,
recebeu o Prêmio do Edital de Chamada Pública, assim seu trabalho construído ao
longo de uma década foi publicado. O livro apresenta a história do município e
seus personagens, dentre eles e em grande destaque, a saga de Manoelina Maria
de Jesus, ricamente ilustrada com fotografias do acervo de Maria Elisa Batista.
Obra do historiador Elson de Oliveira Resende, a contemplar a saga
de
Manoelina Maria de Jesus, com diversos registros fotográficos,
2021.
Finalmente,
em 2024, em narrativa livre e poética, o Teatro da Pedra transformou em filme a
história da moradora dos Coqueiros e levou para a tela do cinema. Na manhã de
domingo de 3 de novembro, em São João del-Rei, o Cine Glória abriu suas portas
para exibir A Santa, com elenco do grupo Teatro da Pedra e de Entre Rios
de Minas. Obra sensível, delicada e com bela fotografia. Foi lindo e
emocionante! Os recursos da Lei Paulo Gustavo foram muito bem aplicados e o
filme expõe a personagem Manoelina de forma encantadora, telúrica e a despertar
o sentimento de pertencimento a Entre Rios de Minas.
Manoelina ainda jovem, interpretada pela atriz Daiane Jaqueline, filme A Santa, 2024.
Manoelina jovem e sua mãe Rosário, em cena do filme A Santa, 2024,
com as atrizes Daiane Jaqueline e Soraia Santos.
As atrizes Daiane Jaqueline e Soraia Santos, personagens do filme
A Santa e a
entrerriana Regina Carvalho dos Santos.
Cine Glória, São João del-Rei. Fotografia: Luiz Cruz.
Atores e parte da equipe técnica do filme A Santa, após sua
exibição, Cine Glória,
São João del-Rei-MG. Fotografia: Luiz Cruz.
Após
os tempos de obscurantismo e tantas ações do racismo estrutural, o filme A
Santa é um alento e tanto. Por isso, ao final da exibição abraçamos e
parabenizamos os atores e os produtores. A arte nos salva sempre e nos eleva
para novos caminhos e possibilidades. O esporte também, Entre Rios de Minas tem
agregado a cultura e a tradição às atividades esportivas, a conquistar e
envolver boa parte da comunidade. E tem sido com sucesso.
Desde
2023, na Secretaria de Cultura, reúne-se semanalmente voluntários da Governança
Manoelina dos Coqueiros, com o objetivo de promover a difusão histórica,
cultural e ambiental em torno da famosa entrerriana, além de estruturar o Caminho
de Manoelina dos Coqueiros, uma rota para os devotos, caminhantes, ciclista
e interessados, a sair de Entre Rios de Minas – dos Coqueiros, até Crucilândia,
onde ela viveu seus últimos tempos e foi sepultada. O percurso terá três
partes, de Coqueiros até Sebastião do Gil, deste ponto até Piedade dos Gerais e
daí até Crucilândia – um trajeto com paisagens esplêndidas, matas, campos,
córregos límpidos e cachoeiras. Será muito mais que um caminho religioso, uma
rota cultural, para contemplar cenários bucólicos, repletos de recursos
hídricos – tudo de bom para o alívio das tensões do corpo e da alma.
Grupo da Governança Manoelina dos Coqueiros. Entre Rios de Minas, fotografia acervo da Secretaria de Cultura.
Aos
poucos o resgate da história da Santa dos Coqueiros acontece e quem passar pela
Secretaria de Cultura de Entre Rios de Minas, pode obter mais informações e até
ganhar uma fitinha para a proteção.
Fitinhas da Santa Manoelina dos Coqueiros, produzidas pela
Secretaria de Cultura,
de Entre Rios de Minas. Fotografia: Luiz Cruz.
No
século passado Manoelina foi contemplada com muitas orações e poemas, mas
recentemente, neste processo de “reabilitação”, volta a chamar atenção dos
poetas, como a oração que abre este ensaio, de Daditto e o poema/canção do
professor e musicista Tuca:
Manoelina (Filha
da Luz) Água santa,
terra boa, comunhão De quem
planta... Um sacramento,
um juramento, uma semente... De esperança Consagrando
nossos caminhos... Raio de Luz Água santa,
reza boa, comunhão De quem
planta... Um sacramento,
um juramento, uma semente... De esperança Ouro e prata,
sol e lua, ar e fogo. Sinal da Cruz... Iluminando
nossos caminhos... Filha da luz Consagrando, iluminando...
Filha da Luz Tuca Boelsums – Grupo Cordas Rurais |
E
quem diria, em São João del-Rei, no domingo que o filme A Santa foi
exibido na parte da manhã, à tarde ocorreu a prova do Enem. A redação teve o
tema: Desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Caso os
candidatos tivessem assistido ao filme, teriam muitos subsídios a serem
abordados para redigir belas “redações”; afinal, Manoelina incomodou, foi
perseguida, vigiada, presa coercitivamente e internada em sanatório. Tudo que
as autoridades almejaram para ela era a invisibilidade, por ser mulher, preta,
pobre, analfabeta, viver em uma tapera e se tornar notícia na imprensa nacional,
em consequência de suas rezas e bênçãos com a água, a atrair multidões; por
isso, foi vítima da ira da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana e do
governador Olegário Maciel.
Pouco
a pouco, a cidade de Entre Rios de Minas se fortalece com o bom emprego dos
seus recursos financeiros, a cidade ganhou o belo e essencial livro De
Bromado a Entre Rios de Minas ...sua arte, ...sua história – de Elson de
Oliveira Resende, depois vieram Rock in Rios, de Iraty Boelsums e Pedro
Duarte, Ribeiro da Silva – 100 anos de amor e paixão, de João Marcos
Alyark e Eduardo Maia, ambos com os recursos da Prefeitura e apoio cultural do
Sicoob Credicampo. Depois, a publicação Histórias da Serra do Camapuã,
numa iniciativa do Teatro da Pedra, a narrar diversos aspectos da localidade e
suas lendas. Agora, a saga de Manoelina dos Coqueiros que chegou às telas do
cinema, para nos deixar emocionados. Aplicar os recursos em bons projetos
culturais é promover condignamente a Cultura. Parabéns aos autores, editores, produtores,
atores, apoiadores e a todos que de certa forma se unem para promover a vida sociocultural
de Entre Rios de Minas.
O
filme A Santa teve o lançamento no Auditório Nossa Senhora das Brotas,
em Entre Rios de Minas, depois no Cine Glória, em São João del-Rei e o próximo
será no Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes, aguarde, logo será divulgada
a data. Não perca!
Luiz Antonio da Cruz
Agradecimentos: Elson de Oliveira Resende e sua esposa Alessandra, Felipe Resende Ribeiro de Oliveira, Prefeitura Municipal de Entre Rios de Minas / Secretaria de Cultura – Lei Paulo Gustavo Municipal, Soraia Santos, Luiza Cassano, José Gomes, Maria José Boaventura, Luciano Carvalho dos Santos, Regina Carvalho dos Santos, Wondel Resende Gonçalves, Nelson de Resende, Rodolfo Gonçalves.
Referências:
A Santa de Coqueiros – Sua vida e seus milagres (Collectanea
organizada por um grupo de crentes. Rio de
Janeiro, junho de 1931.
ANDRADE, Carlos Drummond. Revista do Arquivo Público Mineiro, Ano
XXXV, 1984, p.80-81.
BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico Geográfíco de Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1995.
GARCIA, Ramon. A Santa Manoelina dos Coqueiros - 1931.
Disponível: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=Qhp8_RNgNEU
MENEZES, Agostinho. A Santa de Coqueiros. Jornal das Moças –
Revista Semanal Illustrada. Rio de Janeiro, 14 de maio de1931, Ano XVII, Nº
830, páginas sem numeração. Disponível em:
https://hemeroteca-pdf.bn.gov.br/111031/per111031_1931_00830.pdf
OLIVEIRA, Felipe Resende Ribeiro de. Histórico de Manoelina dos
Coqueiros – Relatório. Entre Rios de Minas: Edição do autor, 2024.
RESENDE, Elson de Oliveira. De Bromado a Entre Rios de Minas
...sua arte, ...sua história. Tiradentes: Mandala Produção, 2022.
Linda história
ResponderExcluirMuito obrigado. A história de Manoelina é linda e emocionante. Abraço
ExcluirFiquei muito feliz de conhecer tão significante relato sobre essa pessoa que passou por esse mundo e deixou um rastro de humildade, bondade, amor ao próximo e fé.
ResponderExcluirObrigada Luiz, de coração
Muito obrigado pelo registro. Manoelina construiu sobre tudo uma história de Fé, associada a um dos elementos essenciais para a vida: a Água, que limpa e purifica. Abraço
ResponderExcluir