Lagoa
Dourada e seus tesouros
A
cidade é um acontecimento contínuo, que se manifesta
ao
longo dos séculos por obras materiais, traçados ou
construções
que lhe conferem sua personalidade própria
e
dos quais emana pouco a pouco a sua alma.
Carta
de Atena, 1933.
O
Campo das Vertentes, em especial a região do Rio das Mortes, teve ocupação
muito antiga. O vasto território que acabou conhecido como os Sertões dos
Cataguases abrigou comunidades indígenas, povos nômades, que circulavam em
busca da caça, pesca e áreas férteis para o cultivo de certos alimentos. Da
presença destes povos, ainda subsistem diversos vestígios arqueológicos e uma
destas localidades é o município de Lagoa Dourada. Muitos moradores sempre
estiveram em contato com eles, em especial os artefatos em rochas e cerâmicos.
Graças a sensibilidade e cultura do padre José Walter Silva de Carvalho, estes
objetos/fragmentos passaram a ser recolhidos e guardados em uma sala da Matriz
de Santo Antônio. As informações sobre estes achados sempre circularam em Lagoa
Dourada, até que mais recentemente os seus sítios arqueológicos se tornaram
tema de pesquisas acadêmicas, a valorizar e reconhecer este legado patrimonial
fabuloso e tão necessário para a compreensão mais detida da ocupação e
circulação dos povos originários por aqui. As pesquisas arqueológicas de
Cristiano Lima Sales (UFSJ, 2012) e (UFJF, 2022) nos possibilitam entender
melhor sobre estes povos, mas como o próprio pesquisador salientou, há muito
que se fazer nesta área, muito a se descobrir e mais ainda a se entender:
Novas investigações devem gerar informações decisivas para que possamos conhecer mais a fundo o processo de ocupação do nosso território e as relações dos diferentes grupos indígenas entre si e com o ambiente que herdamos, onde vivemos hoje. Nesse sentido, julgamos imprescindível o desenvolvimento da pesquisa científica, na medida em que esta contribui para a formação de consciências que se identifiquem e se relacionem com o patrimônio cultural legado pelos nossos ancestrais, e promove a sensibilização, valorização e envolvimento da comunidade, ampliando, assim, a capacidade de observação da realidade local para compreender as relações sociais globais existentes no nosso próprio tempo. (SALES, UFJF, 2022).
Catauá,
Cataguá, Cataguases são referências muito presentes em Lagoa Dourada, tanto que
Catauá é o topônimo de um de seus povoados e comumente, na localidade, circulam
informações sobre os indígenas catauá e os seus descendentes inseridos nas
redes familiares lagoenses. Muitos indígenas foram renitentes:
Ao revisitarmos Minas Gerais colonial, deparamos com populações indígenas vivendo nas vilas e lugarejos. Naquele contexto, a despeito da “invisibilidade” de parcela dos índios coloniais – porque estavam na condição de misturados, de mestiços –, eles reconstruíram nova identidade baseada na sua “indianidade”. (RESENDE, 2007, p.245).
Com o avanço das pesquisas acadêmicas e a conscientização ambiental da comunidade, Lagoa Dourada ganha relevância no cenário da arqueologia e destaca como um campo fértil para a Educação Patrimonial e um potencial turístico diferenciado.
Ferramentas em elementos rochosos polidos e vaso de cerâmica neo-brasileira (colonial) encontrados em Lagoa Dourada e conservados pelos moradores. Fotografia: Arquivo Cristiano Lima Sales, 2017.
Povoado de Catauá, Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2011.
No
período colonial, pelo menos no último quartel do século XVII, os desbravadores
paulistas já conheciam bem os Sertões dos Cataguases. Eles seguiam as trilhas
indígenas e passavam pelos campos, matas e serras. Ao longo dos caminhos,
surgiram as povoações, os primeiros arraiais e num desses pontos encontraram uma
lagoa onde acharam robustas pepitas de ouro: a Alagoa Dourada, depois denominação
adaptada para Lagoa Dourada, termo integrante da Vila de São José del-Rei, a
atual Tiradentes. Em 1717, o lugar já
estava bem ocupado e a Capela de Santo Antônio fundada por Dom Frei Antônio de
Guadalupe, benta pelo padre Manuel da Encarnação Justiniano, em 1734. A criação
do município ocorreu através da Lei Nº 556, de 30 de agosto de 1911, seu
território teve desmembramento de Prados. (BARBOSA, 1995, p.181).
Lagoa
Dourada teve um conjunto arquitetônico singelo, porém, significativo, com suas
casas, casarões, matriz, capelas, os espaços cheios e os vazios em estreito
diálogo. Até o presente ainda nos propicia entendimento de como ocorria a
ocupação “longilínea” – ou seja, ao longo de um caminho antigo. Infelizmente,
este conjunto não foi devidamente protegido pelos órgãos competentes do Patrimônio.
Rua Tiradentes, Lagoa Dourada-MG, década
de 1920. Fotografia disponível em: https://www.facebook.com/lagoaesuasmaravilhas/
No
início do século XIX, o viajante reverendo Robert Walsh passou por Lagoa
Dourada, quando seguia para Vila Rica e anotou:
O arraial e Lagoa Dourada
consiste numa rua comprida, ladeira abaixo, contando aproximadamente com
cinquenta casas e três igrejas. Trata-se de uma proporção muito elevada de
prédios religiosos para um lugar tão pequeno, mas seus moradores pareciam muito
devotos, pois havia cruzes erguidas diante de um número incontável de portas,
dando-nos a impressão de que a cada habitante da cidade correspondia uma cruz.
(WALSH, 1985, V. I, p.86).
Os
viajantes bávaros – o zoólogo Johann Baptist von Spix e o botânico Carl
Friedrich Martius, numa das mais importantes expedições culturais realizadas no
Brasil, também passaram pela localidade e registraram:
[...] Lagoa Dourada, em
cujos arredores várias lavagens de ouro, muito ricas antigamente, são
exploradas. Neste último lugarejo, festeja-se justamente o padroeiro ou outro
santo. Algumas barracas ofereciam à venda chitas, tecidos de algodão, chapéus,
artigos de ferro, pólvora, etc.; os negros ali presentes formavam grupos e
faziam ressoar a sua música plangente, num instrumento de madeira com fios de
seda retorcidos e esticados, acompanhando-a com os sons rangentes da fricção de
dois paus. Pouco a pouco, foram chegando os vizinhos, montados em bestas, para
assistir à missa de festa; [...]. (SPIX e MARTIUS, 1981, V. I, p.196).
Até o
presente, para a festa do padroeiro Santo Antônio ocorre solene celebração e
mobiliza significativo número de devotos do santo lisboeta. Ainda, como
observado pelos viajantes, Lagoa Dourada foi produtora de ouro, mas se destacou
na produção e comércio de gêneros alimentícios, através de suas atividades
agropastoris, desenvolvidas em diversas fazendas setecentistas, muitas delas
bem preservadas e a conformar um potencial turístico respeitável. Há que
ressaltar a importância da Fazenda do Váu, onde se cria o jumento da raça Pêga.
Estas fazendas são encantadoras, pela arquitetura, pelos bens integrados, pela
história e a memória dos fazeres – claro, ainda, pela importância delas nos
aspectos econômicos.
Fazenda do Capão, Lagoa Dourada-MG.
Fotografia: Luiz Cruz, 2011.
Fazenda do Engenho Velho, Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2011.
Fazenda do Váu e Adriano Pinto a mostrar capa de tropeiro desta propriedade. Fotografias: Luiz Cruz, 2011.
Fazenda do Váu e a criação de jumento da raça Pêga. Fotografias: Luiz Cruz, 2011.
Recentemente, a cidade acabou mais conhecida pelo seu famoso rocambole de doce de leite, com as receitas tradicionais de famílias locais. É a Capital Nacional do Rocambole, reconhecida através da Lei 14.646, de 03/08/2023. Quem passa por Lagoa Dourada não resiste, a parada é para degustar uma fatia generosa de rocambole e ainda levar um bem embalado para os queridos. Montado na hora, fresquinho, o cliente pode experimentar recheios diferentes, como o doce de goiaba, chocolate e outros sabores. E a iguaria consegue manter as receitas familiares, gerar empregos e movimentar a economia.
Rocambole de doce de leite. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Porém,
muito além do rocambole, Lagoa Dourada tem os seus elementos arquitetônicos que
se destacam na paisagem e abrigam acervos importantes, como a Matriz de Santo
Antônio, a Capela de Nossa Senhora do Rosário, a Capela de Nosso Senhor do Bom
Jesus de Matosinhos e as demais capelas rurais. Sob a liderança dos párocos
comprometidos com as questões patrimoniais e o povo lagoense, estas edificações
têm recebido atenção e ações de restauração e conservação.
Em
2010, fomos convidados pelo padre José Walter Silva de Carvalho a conhecer a
Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos e ficamos maravilhados com a
ornamentação do templo, mesmo em situação precária e com intervenções inadequadas.
Na ocasião, o pároco nos revelou que seu grande sonho seria conseguir recursos
para restaurar a edificação e devolvê-la à comunidade com todo o seu esplendor.
Retábulo-mor da Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, com repinturas. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2010.
Padre José Walter das Silva de Carvalho,
na Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz
Cruz, 2010.
Fachada frontal da Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2016.
Esta
capela encontra-se no topo de uma colina, em destaque na paisagem da cidade. A
edificação pioneira deve ter sido da primeira metade do século XVIII, mas por
falta de manutenção, a situação de conservação acabou comprometida, arruinada.
Em 1905, foi demolida e seu retábulo-mor esteve armazenado inadequadamente,
inclusive exposto às águas pluviais, mas em 1911 foi reconstruída pelo
empreiteiro italiano Augusto Buzatti. Ao longo do tempo, recebeu intervenções
danosas, como as repinturas, que acabaram por deixar apenas vestígios da
policromia e minúsculos fragmentos de douramento original. Além das goteiras,
os elementos estruturais do retábulo-mor barroco foram drasticamente atacados
pelos insetos xilófagos – os cupins.
Detalhe do retábulo-mor da Capela do
Senhor Bom Jesus de Matosinhos, com repintura e resquício de douramento.
Fotografia: Luiz Cruz, 2021.
Coluna do retábulo-mor da Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos com repinturas e a presença de insetos xilófagos. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2021.
Interior da Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, durante a obra de restauração. Fotografia: Luiz Cruz, 2021.
Lagoa
Dourada teve a sorte e o privilégio em poder contar com a presença do restaurador
e pesquisador Carlos Magno de Araújo para estudar e propor as intervenções
adequadas, com seriedade, principalmente maturidade profissional e ética. – E o
resultado? – Não poderia haver melhor!
Para a
realização das obras, a liderança do atual pároco, padre Adriano Tércio Melo de
Oliveira, tornou-se elementar, mas também a mobilização do povo de Lagoa
Dourada e o apoio da Prefeitura, através do Conselho Municipal de Patrimônio.
O restaurador e pesquisador Carlos Magno de Araújo durante as obras da Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Fotografia: Luiz Cruz, 2021.
Com a
edificação devidamente restaurada, ganhou o Patrimônio Cultural de Lagoa
Dourada, de Minas e do Brasil, porque a igreja teve seu esplendor recuperado e
se tornou mais um dos orgulhos da comunidade, que se empenhou para a obtenção
dos recursos e promoveu a apropriação do bem com sua ampla significação.
Tivemos o prazer em registrar a entrega das obras ao povo lagoense, foi uma
beleza de festa, com expressividade, devoção e comprometimento com a história e
a cultura local. A programação festiva iniciou no dia 28 e terminou no dia 30
de dezembro passado, com a celebração de missas, concertos, exposição,
palestra, procissão e Te Deum Laudamos, com a participação das irmandades
do Santíssimo Sacramento e do Senhor dos Passos e da comunidade – tudo
abrilhantado pela banda da Sociedade Musical Lyra Lagoense e Coro e Orquestra
de Câmara Santa Cecília. O Patrimônio Imaterial concedeu toda magnitude para a
ocasião e mais uma vez tivemos prova de que o povo de Lagoa Dourada sabe fazer
bem e bonito.
Benção da imagem do Senhor Bom Jesus de Matosinhos e procissão, inauguração das obras de restauração da Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Missa Festiva da inauguração da Capela do Senhora Bom Jesus de Matosinhos. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Padre Adriano Tércio, concelebrantes e integrantes da Irmandade do Senhor dos Passos, na inauguração das obras da Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Padre Adriano Tércio, concelebrante e integrantes do Coro e Orquestra de Câmara Santa Cecília, na inauguração das obras da Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, no dia da entrega das obras. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Realmente,
após a restauração, a igreja teve recuperada a sua exuberância, principalmente
do retábulo-mor barroco e o seu conjunto escultórico. No camarim se encontra a
cena do Calvário, o Cristo crucificado, Nossa Senhora das Dores, Santa Maria
Madalena e São João Evangelista – peças de grande proporção e impacto. Enquanto
nos nichos laterais estão as imagens de São João Evangelista e São Joaquim. Há
que se destacar que a boa solução do retábulo-mor, com talha de exímia
qualidade, os brotos e folhas de acanto, colunas, entablamentos e as formas de
volutas, trata-se do conjunto harmonioso.
Predela do retábulo-mor, com talha refinada. Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
As imagens
do retábulo-mor foram executadas por um autor desconhecido e denominado por Mestre
de Lagoa Dourada. A identificação deste conjunto ocorreu por acaso, quando o
restaurador e pesquisador Carlos Magno de Araújo esteve na igreja para
intervenção de manutenção. Além destas imagens, Lagoa Dourada possui o maior
conjunto de esculturas deste artífice – a imagem de Nossa Senhora do Carmo, de
um retábulo lateral da Matriz de Santo Antônio e as que ficam guardadas, por
motivo de segurança: Nossa Senhora do Rosário, Santana, São José, Nossa Senhora
da Lapa, São Roque e um Crucificado. Na ocasião da inauguração das obras da capela,
o conjunto de imagens foi exposto. Quem passou lá na ocasião, teve a rara
oportunidade para apreciar de perto o maior conjunto escultórico do Mestre de
Lagoa Dourada.
Provavelmente,
algumas destas imagens devem ter pertencido à antiga Ermida do Senhor Bom Jesus
dos Aflitos, datável de 1695; infelizmente, demolida.
Retábulo-mor da Capela do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, após a restauração. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Ermida do Senhor Bom Jesus dos Aflitos, datável de 1695. Demolida. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Acervo da Associação Comunitária da Ressaca.
O Mestre de Lagoa Doura
Desde
os primórdios de Minas Gerais, recebemos forte influência da cultura
portuguesa, inclusive da estratificação social e dos fazeres; ou melhor, para
se permitir, reconhecer, aprovar ou não a atuação dos artífices e suas obras. O
trabalho de um escultor não chegou a ser significativamente valorizado, ele
precisava circular para atender as demandas e aproveitar as oportunidades para
produzir:
Assim, os trabalhos de
escultura foram atribuídos a carapinas, marceneiros e, principalmente,
carpinteiros e entalhadores. Assinale-se, a propósito de santeiros e imaginários,
os quais, sem que também viessem a compor um ramo profissional, pelas suas
qualificações específicas, absorviam grande parte das encomendas provavelmente
destinadas a escultores. (BOSCHI, 1988, p.18).
Então,
os santeiros saíam e pousavam nas vilas e arraiais para oferecer os seus
préstimos, as suas habilidades e a atender aos contratantes. De certa forma,
para se compreender as obras de arte, torna-se necessário observar o modus
operandis de vida destes artífices:
A interpretação sobre a
inserção social dos oficiais mecânicos no espaço de Minas Gerais setencentista
e do início do oitocentos deve passar, necessariamente, por uma análise que
vise perceber, através de diversas fontes de pesquisa, a dimensão material da
construção da sobrevivência desses homens. (MENESES, 2013, p.68).
Certos
artífices que atuaram em Minas Gerais tiveram significativa mobilidade e
executaram obras em muitos lugares. Não foram tantos que ascenderam socialmente
e tiveram reconhecimento em vida; ao analisar seus testamentos post mortem,
apenas em poucos casos, fica claro que pelos bens listados, construíram
patrimônio pessoal significativo, a exemplo do pintor Francisco Xavier Carneiro
(1765-1840). Porém, “houve aqueles que trabalharam em troca de alimentação,
hospedagem e, em certas conjunturas, de modesto pro labore”. (BOSCHI,
1988, p.42).
Então,
frequentemente a se deslocar individualmente ou com suas oficinas, a
valorização do trabalho dos artífices dependia de circunstâncias, de acordo com
o status social, a repercussão de obras executadas e as condições dos
contratantes, geralmente as irmandades e as arquiconfrarias. Ainda, os
particulares que encomendavam suas imagens devocionais para as ermidas e para
os oratórios.
Do
universo de escultores de imagens sacras, o artífice Antônio Francisco Lisboa
(1737-1814) executou obra vasta e atendeu aos abonados comitentes da época,
especialmente as ordens terceiras franciscana e carmelita das principais vilas
do período colonial. Outros santeiros também tiveram reconhecimento, como
Valentim da Fonseca e Silva (1745-1813), nascido no Serro-MG, mas atuante no
Rio de Janeiro-RJ, onde faleceu; ou ainda José Joaquim da Veiga Valle
(1806-1874), nascido em Pirenópolis e que viveu em Goiás-GO. A mesma sorte não
tiveram tantos outros santeiros que por lacuna documental e por não assinarem
suas peças, acabaram no completo anonimato. Pelo Brasil afora, em inúmeras
edificações religiosas encontraremos belos conjuntos de imaginária, mas com a
autoria ignorada. Para facilitar o estudo e poder agrupar em conjuntos
escultóricos de possíveis autorias, a solução tem sido a denominação geral e
principalmente regional, como: Mestre do Sergipe, Mestre de Piranga, Mestre do
Cajuru, Mestre de Sabará, Mestre de Lagoa Dourada e outros. Mas é importante
ressaltar que a palavra “mestre” raramente apareceu na documentação coeva;
então, à época, o adjetivo mais usado foi mesmo “artífice”.
Conforme
salientado por Sylvio de Vasconcellos, os primeiros artífices a atuarem no
território mineiro foram os emigrados, até a formação de escultores nativos. É
neste contexto sociocultural que alocamos o escultor que executou o conjunto do
Calvário de Cristo da Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, de Lagoa
Dourada, denominado por Carlos Magno de Araújo por Mestre de Lagoa Dourada.
Conjunto de imagens atribuídas ao Mestre de Lagoa Dourada. Acervo: Paróquia de Santo Antônio. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Sua
atuação deve ter sido na primeira metade do século XVIII e nos legou
expressivas obras já identificadas de sua fatura e outras ainda devem ser
localizadas, a partir do momento em que informações sobre sua tipologia
construída ao longo do tempo for mais conhecida.
Antes
mesmo da execução de uma imagem devocional, o artífice precisava dominar certos
conhecimentos básicos, como reconhecer tipos específicos de madeiras e suas
fibras, as ferramentas adequadas, a iconografia de cada santo e os seus
componentes identitários, a história de vida dos santos, a atualização dos
estilos, espacialidade e volumetria, compreender bem as propostas dos
contratantes, em geral as irmandades. O escultor trabalhava com a madeira e o acabamento,
ou seja – a policromia, estofamento e esgrafito, ficavam sob a responsabilidade
de outro artífice. Em certos casos, a encarnação, a pintura das partes de pele,
rosto, braços, mãos, pernas e pés, poderia ser executada por outro artífice,
porque cada etapa necessitava-se de habilidades e domínios técnicos distintos.
Raros foram os nossos artífices que executavam as imagens, faziam a policromia
e a encarnação, a exemplo do santeiro José Joaquim da Veiga Valle (COELHO,
2017, p.233).
A cena do Calvário de Cristo de Lagoa Dourada, com o crucificado e os três personagens aos pés da cruz é de imponência e podemos apreciar a tipologia característica do Mestre de Lagoa Dourada. O Cristo tem os cabelos organizados em mechas sequenciais, com feixes isolados, estriados, com as terminações mais deslocadas para a frente da figura, outras para trás, com as terminações em caracóis. O nariz é reto e parte do meio das sobrancelhas, o desenho labial é bem definido, com as colunas do filtrum labial evidenciadas. Os bigodes nascem das abas do nariz, finos e se avolumam. A barba cerrada se conforma por feixes modulados, sequenciais, com maior prolongamento no queixo, onde também formam caracóis. A tez é bem clara, tanto que quase se confunde com o branco dos tecidos. A cor da pele alva contrasta acentuadamente com os tons em vermelho do sangue. Solução bastante particular, que nos induz a achar que o próprio escultor tenha executado tal policromia.
Detalhe do Crucificado. Cena do
Calvário, Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Lagoa Dourada-MG.
Fotografia: Luiz Cruz. 2023.
Detalhe da escultura de Nossa Senhora, em vestes da época, com o chapéu com queixal e véu.
A indumentária de Nossa Senhora das Dores apresenta contraste nos tons, com o tecido a cair mais reto, com pregas e movimentação contidas. Ela está vestida como uma “senhora” daquele período. Segundo a pesquisadora Beatriz Coelho, ela veste um chapéu com queixal, amarrado por trás, ou seja, que cobre parte do queixo. Geralmente, as senhoras colocavam a touca, depois o chapéu e por último o véu, afixado com alfinetes. O artífice precisava ter conhecimentos diversos para convencer os comitentes e serem contratados para a execução das imagens devocionais, que se destinavam ao culto e à persuasão os fiéis.
Partes dos componentes da indumentária
que uma “senhora” usava no tempo da crucificação de Cristo. Touca e Chapéu com queixal.
Disponível em: https://archives.carmeldelisieux.fr/pt/au-carmel-du-temps-de-therese/le-style-de-vie/habit-de-carmelite/
Toda característica escultórica do artífice encontramos nos
personagens desta cena. Os escultores mais demandados, como foi o caso de
Antônio Francisco Lisboa, desenvolveram suas tipologias, com as quais tornaram
suas obras inconfundíveis, exatamente como as do santeiro da antiga Villa Rica.
Seus Cristos têm variações, tanto nas obras em madeira quanto nas esculpidas em
elementos rochosos, mas em cada obra podemos detectar imediatamente o seu
conjunto de estilema, como por exemplo os bigodes que saem das narinas, a deixar
o filtum exposto, bem como o queixo em montículos, onde se enrolam os tufos de
barba, principalmente na imagens dos Passos da Paixão, de Congonhas-MG.
Cada
escultor desenvolveu suas características, no caso dos cabelos e barbas as
soluções podem ganhar expressividade e corroborar para a dramatização das
imagens, a exemplo do detalhe da Piedade, de Antônio Francisco Lisboa, do
retábulo-mor do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté. Ou ainda do
Crucificado de Veiga Valle, em que o santeiro criou solução para a saída dos
bigodes, eles partem depois do filtrum labial, totalmente isolados.
Cabeça de Cristo, detalhe da imagem de Nossa Senhora da Piedade, de autoria Antônio Francisco Lisboa. Santuário de Nossa Senhora da Piedade. Caeté-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2017.
Cristo em Agonia. Autor Veiga Valle. Coleção particular. Goiânia-GO.
Fotografia: SALGUEIRO, 1983, Fig. 60.
Nas imagens do conjunto da Matriz de Santo Antônio de Lagoa Dourada, encontraremos as soluções aplicadas nas esculturas do Calvário, como no São João Evangelista, imagem retabular, mas com os cabelos organizados em mechas, estriados, a terminar com os caracóis. A escultura do padroeiro, o Bom Jesus, fica na mesa do altar, em exposição; sua tez alva e os cabelos em caracóis tornam a peça facilmente identificável. O São José tem os cabelos terminando em caracóis e a barba também; os bigodes partem das abas do nariz. A imagem de Nossa Senhora do Carmo e sua indumentária, do retábulo lateral da Matriz se assemelha bastante com a Senhora das Dores do Calvário. O Crucificado apresenta as mesmas soluções anatômicas e principalmente o cabelo estriado com as pontas em caracóis. Tudo muito bem definido e a evidenciar as características das peças do Mestre de Lagoa Dourada.
Outra
solução presente nas esculturas é cintura, marcada com cinto e laço, para ajudar
a definir as dobras e propiciar certa movimentação na indumentária, conforme se
constata nas imagens de Maria Madalena, do Calvário, nas duas santas do
retábulo de São Miguel e Almas, de Tiradentes e na imagem do Menino Deus, do
Conjunto da Sagrada Família, de Cachoeira do Campo, Ouro Preto.
Escultura de São João Evangelista, imagem retabular, feita para ser apreciada frontalmente, mesmo assim o santeiro deixou sua marca, as soluções do cabelo. Mestre de Lagoa Dourada. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2021.
Detalhe da imagem do Senhor Bom Jesus, com a tipologia do Mestre de Lagoa Dourada. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
Nossa Senhora do Carmo, em seu retábulo,
Matriz de Santo Antônio. Mestre de Lagoa Dourada. Lagoa Dourada-MG. Fotografia:
Luiz Cruz, 2023.
Exatamente
como atuaram os demais escultores em Minas Gerais, o Mestre de Lagoa Dourada
circulou por vilas e povoados a atender as demandas das irmandades, das
confrarias e de particulares. Veja o quadro as imagens e localidades, onde já
foram identificadas suas esculturas devocionais:
IMAGENS ATRIBUÍDAS AO SANTEIRO MESTRE DE LAGOA DOURADA |
||
Imagem |
Edificação |
Cidade |
1.São Bartolomeu |
Igreja de São Bartolomeu |
São Bartolomeu / Ouro Peto |
2.Bom Jesus de Matosinhos |
Matriz de Santo Antônio |
Ouro Branco |
3.São Tomé |
Matriz de São Tomé |
São Tomé das Letras |
4. Conjunto Sagrada Família |
Matriz de Nossa Senhora de Nazaré |
Cachoeira do Campo / Ouro Preto |
5. Conjunto Sagrada Família |
Igreja de Nossa Senhora do Desterro |
Marilândia / Itapecerica |
6.Santa Luzia |
Matriz de Santo Antônio |
Tiradentes |
7.Santa Bárbara |
Matriz de Santo Antônio |
Tiradentes |
8. Nossa Senhora do Livramento |
Capela de Nossa Senhora do Livramento |
Livramento / Prados |
9. Nossa Senhora do Serrote |
Matriz de Nossa Senhora da Glória |
Caranaíba |
10. Nossa Senhora do Rosário |
Igreja do Rosário |
Resende Costa |
11. São Benedito |
Igreja do Rosário |
Congonhas |
12. Santa Ifigênia |
Igreja do Rosário |
Congonhas |
13. Crucificado |
Igreja do Rosário |
Congonhas |
14. Crucificado |
Coleção Angela Gutierrez / Museu do Oratório |
Ouro Preto |
15. Crucificado |
Coleção Particular |
Tiradentes |
Fonte: ARAÚJO, 2024. Adaptação:
Luiz Cruz.
As
esculturas que se encontram em acervos distintos, fora de Lagoa Dourada,
apresentam as mesmas características, como as estruturas anatômicas, a
indumentária com pregas retas e movimentação contida, certos detalhes na
cintura ou presilhas e acentuadamente os cabelos organizados em ondas,
estriados e com as pontas a terminar em caracóis. A policromia é contida, às
vezes com o emprego de cores mais fortes, como na imagem de Nossa Senhora do
Serrote, de Caranaíba, e desprovida dos esgrafitos em ouro e prata, mas solução
bastante comum na imaginária contemporânea do período de atuação desse
santeiro.
Conjunto
Sagrada Família, Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, Cachoeira do Campo / Ouro
Preto. Mestre de Lagoa Dourada. Fotografia: Alessandro Dias, 2023.
Imagem de Nossa Senhora do Serrote, Matriz de Nossa Senhora da Glória. Caranaíba-MG. Mestre de Lagoa Dourada. Fotografia: Arquivo Carlos Magno de Araújo, 2010.
Em
Tiradentes, na Matriz de Santo Antônio, no retábulo colateral de São Miguel e
Almas, nas peanhas laterais se encontram as imagens de Santa Bárbara e Santa
Luzia, obras atribuídas ao Mestre de Lagoa Dourada. Esta igreja está aberta
diariamente para a visitação, fechada apenas nas segundas para a limpeza e
manutenção. Portanto, as duas esculturas são facilmente apreciadas.
Enquanto em Ouro Preto, cidade reconhecida como Patrimônio da Humanidade, pode-se conhecer, no Museu do Oratório, Coleção Angela Gutierrez, um Crucificado, da fatura do Mestre de Lagoa Dourada, com o conjunto de estilema do santeiro.
Detalhes das imagens de Santa Barbara e Santa Luzia, retábulo de São Miguel e Almas, Matriz de Santo Antônio. Tiradentes-MG. Obra atribuída ao Mestre de Lagoa Dourada. Fotografias: Luiz Cruz, 2024.
Crucificado. Museu do
Oratório – Coleção Angela Gutierrez. Ouro Preto-MG. Fotografias: Catálogo do
Museu e Arquivo Carlos Magno de Araújo.
Bom
Jesus de Matosinhos é devoção bastante arraigada em Minas Gerais e o exemplo
mais expressivo é o Santuário de Congonhas, reconhecido como Patrimônio da
Humanidade. Seu campo de obra atraiu os mais requisitados artífices da capitania,
dentre tantos Antônio Francisco Lisboa e Manoel da Costa Ataíde. Mas o
retábulo-mor deste santuário abriga apenas o Crucificado, em imagem de enorme proporção
e no trono está uma escultura de Santana e tocheiros. Situação semelhante é a
do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de Conceição do Mato Dentro, que
tem imponente imagem inserida em retábulo de forte impacto visual, mas em
edificação nova. Em São João del-Rei, existiu uma igreja desta devoção, com
apenas o Crucificado no retábulo-mor, como nos dois exemplos acima. Porém, foi
demolida para a construção de novo templo e pouco se salvou dos seus bens
integrados, como os retábulos. A imagem do orago foi preservada.
Retábulo-mor do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Congonhas-MG.
Fotografia: Luiz Cruz, 2017.
Retábulo-mor do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Conceição do Mato Dentro-MG.
Fotografia: Luiz Cruz, 2017.
Desde os primórdios das Minas, os impressos circularam e chegaram aos mais recônditos povoados, seja através dos missais, bíblias ou registros de santos. Há a possibilidade do Mestre de Lagoa Dourada ter se inspirado em um destes impressos, pois sua composição assemelha-se à uma gravura de missal circulante durante todo o século XVIII, em edições distintas. Em uma delas, assinada por “Silva”, ao pé do Crucificado aparecem as três figuras, Nossa Senhora das Dores, Madalena e São João Evangelista. No Calvário do Mestre de Lagoa Dourada, Madalena figura ajoelhada e com o braço a passar por trás da cruz, a dar ideia de abraçá-la, solução muito próxima à da gravura do Missale Romanum.
Calvário, Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Mestre de Lagoa Dourada. Lagoa Dourada-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2023.
A
composição do Calvário da Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, de Lagoa
Dourada, é excepcional, por ser com imagens imponentes, de forte impacto e ter
autoria de único santeiro, o Mestre de Lagoa Dourada, com sua tipologia
imagética bem definida.
Em Tiradentes, na Matriz de Santo Antônio, no Consistório da Irmandade do Senhor do Passos, na parede fundeira, encontra-se retábulo volumoso, com estrutura do estilo D. João V. Nele está a cena do Calvário, com duas imagens ao pé da Cruz, Nossa Senhora das Dores e São João Evangelista, esculturas procedentes do século XVIII, porém com as vestes mais estilizadas e com repinturas. Enquanto o Crucificado, com vastas barbas e cabeleira natural, deve ser mais recente, provavelmente do início do século XIX; a autoria de ambas imagens é desconhecida. Este conjunto se encontra em precária situação de conservação, principalmente em decorrência das águas pluviais ao longo do tempo. Ainda em Tiradentes, na Capela de São João Evangelista, outra cena do Calvário está no retábulo-mor, com esculturas de porte significativo, mas apenas dois personagens aos pés da cruz, como na composição do Consistório da Irmandade dos Passos. A autoria destas imagens retabulares também é ignorada. Esta capela pode ser visitada nos finais de semana.
Retábulo do Consistório da Irmandade de Nosso Senhor dos Passos, com o Calvário. Matriz de Santo Antônio. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2017.
Retábulo-mor da Capela de São João Evangelista, com o Calvário. Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Calvários
com os três personagens ao pé da cruz encontraremos mais frequentemente em
oratórios, tanto de igrejas quanto particulares. Bom exemplo é o que pode ser
apreciado na sacristia da Capela da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora
do Carmo, em São João del-Rei. O conjunto escultórico deste oratório é
primoroso e de origem portuguesa. Esteve repintado e recentemente passou por
intervenção de restauração, executada pelo restaurador e pesquisador Carlos
Magno de Araújo. A policromia original ficou integralmente preservada.
Para
melhor compreensão da produção escultórica do Mestre de Lagoa Dourada será
necessário um projeto para estudar detidamente suas obras e poder construir uma
possível cronologia. Há possibilidade de se encontrar referências nos arquivos eclesiásticos
que possam elucidar dúvidas sobre a obra, a atuação, a mobilidade deste
santeiro e ainda se atuou junto a uma oficina. Dentre algumas imagens
identificadas, certas apresentam soluções mais ingênuas e outras com mais
amadurecimento, como se pode constatar nos Crucificados a ele atribuído,
principalmente no da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, de Congonhas, obra
provável da sua maturidade.
Oratório com o Calvário, Crucificado, Nossa Senhora, Maria Madalena e São João Evangelista, conjunto de origem portuguesa, século XVIII. Sacristia da Capela da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, São João del-Rei-MG. Fotografia: Luiz Cruz, 2024.
Crucifixo de banqueta. Obra de plena maturidade do Mestre de Lagoa Dourada. Capela do Rosário. Congonhas-MG. Fotografias: Arquivo Carlos Magno de Araújo, 2024.
Em 2024, a Diocese de São João del-Rei e a Paróquia do Senhor Bom Jesus de Matosinhos celebram os 250 anos desta devoção na cidade. Para tal foi encomendada uma imagem do Crucificado. Fomos visitá-la em exposição na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar para apreciá-la; como São João del-Rei sempre foi terra de santeiros de exímia qualidade, indagamos sobre a autoria da peça. Ninguém sabia. Até que encontramos a informação, tal imagem foi impressa em 3D. Portanto, em miniatura, mas idêntica à original da antiga igreja demolida na década de 1970. A impressão de imagens pode ser a solução para os amantes e colecionadores de arte, é só mandar imprimir cópias e assim assegurar a integridade dos acervos das igrejas, já tão depauperados.
Imagem do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, impressa em 3D e detalhe do folder da programação dos 250 anos desta devoção em São João del-Rei-MG. Fotografias: Luiz Cruz, 2024.
A
impressão de esculturas rotineiramente poderá ser processo lento; enquanto
isso, o ideal é programar visitas para conhecer os tesouros de Lagoa Dourada e
agora com a Capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos restaurada em com todo o
seu esplendor barroco recuperado, tem-se oportunidade para apreciar as obras do
Mestre de Lagoa Dourada, que poderão ser mais conhecidas e divulgadas. Enfim,
chegou a hora de se encantar com o trabalho deste mestre da arte de esculpir e
policromar imagens devocionais.
Luiz
Antonio da Cruz
Agradecimentos: Carlos Magno de Araújo, Maria Clara
Caldas Soares Ferreira, Padre José Walter Silva de
Carvalho, Angela Gutierrez, Beatriz Coelho, Adriano Pinto, Valmir
de Paula Santos, César Augusto Perillo Fernandes, Maria José Boaventura, Pedro
Luiz Carvalho Lopes da Cruz, Edgar do Nascimento Teixeira, Alessandro
Dias, Padre Adriano Tércio Melo de Oliveira, Maria Imaculada de Rezende Faria e
ao povo de Lagoa Dourada.
Referências:
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https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/08/03/sancionada-lei-que-declara-lagoa-dourada-a-capital-nacional-do-rocambole#
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descobrem imagens do século XVIII. Peças se encontram em igreja de Lagoa
Dourada Minas Gerais. Em 23/01/2010. Disponível em: https://saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/667
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Parabéns pelo texto didático, cuidadoso e de especial relevância.
ResponderExcluirMuito obrigado pela leitura e registro, nosso Patrimônio Cultural é rico. Cada cidade tem suas histórias, mas Lagoa Dourada tem histórias e encantamentos. Abraço
ExcluirParabéns, Luiz, pelo texto criterioso, muito interessante!
ResponderExcluirMárcia, muito obrigado por sua presença aqui. Precisamos iluminar muitos aspectos do nosso Patrimônio, as vezes tão perto e ao mesmo tempo sem visibilidade para um público maior. Produzir este texto foi um grande prazer. Abraço
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