MEMÓRIAS DO CONTADOR DE CASOS



Tio Nelson e Tia Regina no lançamento do livro Memória Tropeira, em 19 de janeiro de 2015.


contação de caso é um exercício e requer habilidades. Hoje, tratamos da história de um contador de casos: Nelson José da Costa (1941-2022), mais conhecido como Nelson Firmino (nosso tio querido).

Vicente José da Costa e Maria Cândida de Paiva tiveram e criaram doze filhos. Todos trabalharam em jornadas pesadas na lida da terra, a cuidar das plantações, do gado e atividades das entressafras. Desde pequeno, Nelson acompanhou o pai nas frentes e apreendeu logo os segredos da vida do homem do campo. Porém, ele se sentia atraído por uma profissão, queria ser militar. Estudou e se preparou para o concurso. Teve aprovação. Mas seu pai não permitiu que ingressasse na vida militar. Dizia que essa profissão era para quem não tinha vocação e precisava ser “adestrado”. Nenhum filho de Vicente José da Costa ingressou nessa carreira, porque tinha habilidades. Nelson contava esse caso sempre. No início havia um ponta de tristeza, mas logo se tornou um homem da terra e para a terra, exatamente como o pai. Casou-se com sua amada Regina e se estabeleceu na Várzea da Gualter. O que conquistou foi através do cultivo e dos cuidados com tudo da terra.

              

Nelson e Regina no lançamento do livro Memória Tropeira, em 19 de janeiro de 2015.

Ouvimos os casos do Nelson Firmino. Ele investiu na habilidade de narrar. Expunha o tema, apresentava a introdução, desenvolvia o enredo e logo concluía. De acordo com o espectador, dosava na entonação. Acompanhava atentamente o receptor. Cada caso era como se fosse uma redação. Claro, que num contexto de linguagem coloquial. Como receptor, – aprendi a acompanhar o desenvolvimento de suas narrativas e me colocava como se fosse um avaliador do ENEM-Exame Nacional do Ensino Médio – ao concluir a contação, não havia como deixar de dar a nota 10 imaginária.

Para escrever, narrar, ouvir requer prática e metodologia, como diz a Professora Sônia Queiroz. Nós precisamos ser mais escutas de nossos idosos, não somente para o aprendizado, mas principalmente para afinar as relações humanitárias e afetivas. Quando um idoso conta um caso, precisamos ouvir atentamente, para que ele se sinta prestigiado e inserido num contexto sociocultural.

        

Nelson na homenagem ao irmão Nonoca - Festa do Carro de Boi e Tropeiros, 2016.

Nos encontramos em diversos momentos, alguns de grande alegria e outros de imensurável tristeza. Num dos mais alegres foi quando recebeu homenagem durante o lançamento do livro Memória Tropeira – lá estava com sua amada Regina. Outro momento especial foi na Festa do Carro de Boi e dos Tropeiros – promovida pelas famílias Costa e Zerlotini, quando prestaram homenagem (in memoriam) ao seu irmão Nonoca e à Regina. Estampado em seu rosto havia um misto de alegria e de amargor ao mesmo tempo. Estávamos lá, conversamos sobre as homenagens que eram reconhecimento da comunidade aos dois personagens significativos de sua vida.

              

Nelson na homenagem à sua amada Regina - Festa do Carro de Boi e Tropeiros, 2016.

Seguiu a trilha de seu pai, não só na lida com a terra, mas também na vida de confrade da Conferência de São Vicente de Paula, onde atuou por quase sete décadas. Com geada, chuva ou sol, saia da Várzea do Gualter e participava da conferência dominical. No seu velório, presenciamos a despedida de um confrade, o Sr. Hildo Rosa, companheiro dos trabalhos dedicados aos menos favorecidos. Nelson foi um homem de fé e de presença firme em todas celebrações.

Quando Regina adoeceu, passou a viver com Valéria, que acabou a cuidar dos dois. Nossa gratidão à essa filha por ter zelado dos pais já na idade avançada e nas adversidades da saúde abalada pelo tempo. Prima Valéria: – seu bom espírito cristão fez a diferença!

A contação de casos agora é apenas memória, muitos parabéns para quem parou e pôde ouvir as narrativas fabulosas construídas por Nelson Firmino, o contador de casos de Tiradentes.

Comentários

  1. Nelson e Regina, dois queridos! Fizeram parte da minha história...

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    1. Thelma, muito obrigado por sua presença aqui. Esses tios foram muitos queridos por nós familiares e por muitos tiradentinos. Abraço amigo

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  2. Obrigado tio Luiz, texto fabuloso que tocou minha alma, tio Nelson e tia Regina viveram em nossas memórias. Gratidão por compartilhar conosco ❤🙏🥰😘

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    1. Bruna, muito obrigado por sua presença e comentário aqui. Esse casal partiu e deixou muitas saudades. Naquela vida simples que viveram era cheia de sabedoria e de muitos cuidados de um para com o outro. Abraço

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