DONA HIPÓLITA - BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA 1822-2022


      

Sítio Arqueológico da Fazenda Ponta do Morro, Trilha do Pé da Serra (Estrada Parque),

Prados-MG, em 7/9/2022. Fotografia: Luiz Cruz.


Dia da Independência, no 7 de setembro de 2022, percorremos a Trilha do Pé da Serra (Estrada Parque) e chegamos até o Sítio Arqueológico Fazenda Ponta do Morro, onde viveu Dona Hipólita Jacinta Teixeira de Melo (1748-1828), para que nessa data tão marcante, pudéssemos homenagear essa brava inconfidente, que enfrentou o poderio de Portugal e visou a INDEPENDÊNCIA DO BRASIL.

Afinal, quem foi essa ilustre personagem que merece ser lembrada em efeméride tão expressiva para o país? – Dona Hipólita Jacinta era filha de Pedro Teixeira de Carvalho e Clara Maria de Melo. Seu pai ocupou o posto de capitão-mor da Vila de São José del-Rei – a atual Tiradentes e dele herdou valioso patrimônio. Mulher letrada e de certa cultura, casou-se com o coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes (1750-1794), que foi chefe de um Regimento de Cavalaria Auxiliar; por ter conspirado, foi preso e acabou deportado para Bié, umas das 18 províncias de Angola.

O casal viveu na Fazenda Ponta do Morro, no sopé da Serra de São José, ponto estratégico e utilizado para a comunicação entre os conjurados de Vila Rica e os da Comarca do Rio das Mortes. Da fazenda, Dona Hipólita mandava bilhetes para o Vigário Toledo, em sua casa na Rua do Sol, em São José. Provavelmente, o Alferes Tiradentes esteve nessa propriedade, pois segundo mapeamento realizado pela historiadora Cida Chaves, o líder inconfidente circulou por diversas fazendas da região, sempre a percorrer os caminhos internos.

Como fazendeira e mulher letrada, ela tinha noção das consequências do que seria “crime de lesa majestade” e mesmo assim se envolveu profundamente com o movimento, que na Comarca do Rio das Mortes ganhou projeção e o apoio de fazendeiros, mineradores, comerciantes e do clero.

Após a denúncia do traidor Joaquim Silvério dos Reis, Padre Toledo tomou conhecimento da prisão do Alferes Tiradentes, no Rio de Janeiro, ocorrida a 10 de maio de 1789, comunicada ao Vigário de São José através de recado recebido de Dona Hipólita:

Tiradentes foi preso no Rio. Quem não é capaz para as coisas não se meta nelas. É melhor morrer com honra que viver em desonra. Quem não reagir será preso. Convoquem a tropa do Serro e façam um viva ao povo!

Ela foi uma mulher excepcional para o seu tempo, não somente por sua bravura, mas especialmente por sua perspicácia, como se pode constatar no texto acima, também:

Por sua participação, na Conjuração Mineira, Dona Hipólita teve os seus bens sequestrados pela Coroa Portuguesa, inclusive os recebidos da herança paterna. Após longo processo, conseguiu resgatar e reaver quase todo o seu rico patrimônio. Somente ela recebeu tal pena, mas através de suas habilidades e influência conseguiu reverter a severa punição.

A inconfidente se destacou também por sua generosidade, conforme registrado em seu Testamento, datado de Ponta do Morro, 30 de julho de 1827 e assinado Hipólita Jacinta Teixeira. Esse documento teve publicação nos Autos de Devassa da Inconfidência Mineira, v. 9, p. 429-437 e merece ser revisitado sempre, para que possamos compreender essa personagem ímpar da história do Brasil.

             

Trilha do Pé da Serra (Estrada Parque), Prados-MG, em 7/9/2022. Fotografia: Luiz Cruz.

 Infelizmente, por mais expressiva que tenha sido, a história de Dona Hipólita Jacinta Teixeira de Melo caiu no esquecimento. Poucos pesquisadores se dedicaram a estudar sua trajetória. Lamentavelmente, a Fazenda Ponta do Morro fora demolida em 1929 e seus materiais vendidos. Restou apenas o Sítio Arqueológico, mas severamente prejudicado, pois retiraram tudo possível. Convidados por Yves Alves, visitamos o sítio na década de 1980, quando ainda subsistiam elementos rochosos da edificação, como soleira, soco e lá ainda se encontravam diversas árvores frutíferas como as jabuticabeiras e as mangueiras do pomar.

Preservar a memória de Dona Hipólita é preservar a história da própria mulher brasileira, que não foge à luta e se posiciona diante dos desafios.

Nesse 7 de setembro de 2022, quando celebramos o Bicentenário da Independência, torna-se necessário ressaltar a importância da mulher na vida política do Brasil. Estamos às vésperas das eleições e precisamos votar pela reconstrução do nosso país. Basta de desgoverno! Basta de genocídio! Basta de corrupção! Basta de devastação! Prepare-se para votar, delete todos os políticos que trocaram os direitos do cidadão por emendas parlamentares do orçamento secreto. Escolha um que possa representá-lo condignamente, caso seja possível, vote numa mulher, mas não nessas presidenciáveis que os nomes começam com “S”, pois elas votaram para a aprovação de projetos contra a “MULHER” e as minorias. Não vote em político que apoiou o golpe contra a presidente Dilma, porque foi a partir desse fato contra a Democracia que o Brasil começou a rolar ladeira abaixo e a apodrecer diariamente. Lembre-se, lugar de religioso é na igreja e de militar no quartel. Vote em político com espírito “cristão” e tenha certeza de que para chegarmos até aqui, muitos colocaram suas vidas em risco, como Dona Hipólita, muitos perderam tudo e até suas vidas. Não há como esquecer do nosso próprio Alferes Tiradentes que recebeu a pena capital e teve sua cabeça exposta em Vila Rica, exatamente por idealizar um Brasil independente.

                                                                                                                                 Luiz Antonio da Cruz


Referências:

Autos de Devassa da Inconfidência Mineira. Brasília: Câmara dos Deputados, 1977, v. 9.

COELHO, Ronaldo Simões. Hipólita, a mulher inconfidente. Belo Horizonte: Armazém de Ideias, 2000.

CHAVES, Maria Aparecida Fraga da Silva. Desvario Inconfidentes. Bauru: Academia Baurense de Letras, 2022.

CRUZ, Luiz. A inconfidente e sua cidade. Tiradentes-MG, 2005.

HIPÓLITA (Antologia Histórica). Prefeitura Municipal de Prados, 1999.

VALE, Dario Cardoso. Memória Histórica de Prados. Belo Horizonte: 1985.





Comentários

  1. Ainda restam vestígios importantes na Fazenda da Laje, de D. Hipólita, em Resende Costa. Fazenda vizinha da Fazenda de José de Resende Costa onde, a tradição oral conta, o Joaquim Silvério dos Reis foi convidado a participar da conjuração. As Fazendas eram vizinhas, também a casa do Padre Toledo. Ali havia muitos encontros. O Joaquim José, Tiradentes, passava lá antes de se dirigir às Fazendas em Lagoa Dourada, em especial à Faz. Piaui de sua irmã caçula, casada na importante e culta família dos Ferreira da Fonseca. Existe um mapa sobre estes caminhos do Tiradentes.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. O comentário acima é da pesquisadora Cida Chaves, de Coronel Xavier Chaves, a quem sou grato por ter recebido uma cópia do mapa de seu trabalho, que localiza as fazendas setecentistas e os caminhos percorridos pelo Alferes Tiradentes. Com certeza, apesar do tema ser bem antigo, ainda estamos diante vasto campo a ser pesquisado. Muitas informações serão encontradas e deverão ser divulgadas. Ainda preciso agradecer à pesquisadora pelo livro a mim enviado e que foi inspirador para a produção do texto acima. Cida, adorei os presentes, gratidão.

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