SANTA CRUZ DE MINAS – MARCO AURÉLIO, PRESENTE!

 

Marco Aurélio, no Encontro de Congados de Tiradentes, 29 de julho de 2018. Fotografia: Luiz Cruz.

 

Joguei meu chapéu para cima.

Meu chapéu parou no ar.

Gritei Nossa Senhora.

Meu chapéu tornou voltar.

 

Ponto de Congado


Conheci o saudoso companheiro Marco Aurélio no início da década de 1990. Logo que a SAT – Sociedade Amigos de Tiradentes arrematou em leilão judicial um dos bens do Espólio Joaquim Ramalho, o terreno Maria Joana. A SAT construiu uma guarita em ponto estratégico da propriedade para manter um vigia, especialmente no período da seca e evitar a propagação de incêndios florestais. O presidente da SAT era o britânico e engenheiro John Parsons, que projetou e orientou as obras da guarita. A pequena edificação em pedra ficou pronta e não havia candidato para tal função. Até que surgiu o nome de Marco Aurélio. Assisti o encontro dos dois – John e ele. A comunicação entre ambos foi difícil. Marco Aurélio não conseguia compreender exatamente o que faria em seu posto de trabalho. Como engenheiro, John orientou o contratado para elaborar um Caderno de Campo e como fazer as anotações diárias de tudo que ocorria na propriedade Maria Joana: os riscos de incêndios, a presença de gado na área, os motoqueiros que circulavam, a ação de lenheiras, os usuários das cachoeiras, o pessoal que montava acampamento e até mesmo as ameaças que ocorriam aos turistas. Mensalmente Marco Aurélio apresentava o seu Caderno de Campo e recebia o seu salário. Infelizmente, a SAT acabou desarticulada e a guarita solidamente construída em pedra fora depredada, conseguiram destruir até o seu piso.


   

Guarita edificada pela SAT – Sociedade Amigos de Tiradentes, onde Marco Aurélio trabalhou. Fotografias: Luiz Cruz.

 

Posteriormente, no Conselho Municipal de Política Cultural e Patrimônio de Santa Cruz de Minas encontrei novamente com Marco Aurélio. Conselheiro assíduo, cortês, compenetrado, acompanhava todas as reuniões com muita atenção e quando pedia a palavra fazia suas ponderações, sempre a contribuir com os conselhos locais.


                                           

Diário do Comércio, São João del-Rei, nº 230, 14 de dezembro de 1938.

 

Festa de Santa Cruz

 

Domingo próximo, as 10 e meia horas, haverá missa campal no povoado de Santa Cruz, celebrada pelo Pe. José Bernardino de Siqueira, Vigário de Tiradentes.

Após haverá a Festa do Congado, com dansas e cantos característicos.

Haverá também leilão de prendas. Abrilhantará as festas a

“Orquestra Ramalho”, de Tiradentes.

 

Marco Aurélio saudando o Capitão Zé Carreira, Largo do Sol, Tiradentes, 2018. Fotografia: Luiz Cruz.

 

Há registros da atuação de congados em Santa Cruz desde a década de 1930, quando era pároco em Tiradentes o vigário José Bernardino de Siqueira, que nascera em Itapecerica-MG, onde a Festa do Rosário sempre foi uma das mais expressivas de Minas Gerais. Marco Aurélio teve participação ativa na vida cultural de sua cidade, tinha orgulho em se integrar aos eventos, mas em especial aos ternos de congado. Ele compunha os cortejos com uma seriedade imensurável. Fazia de sua participação um acontecimento. Saudava a Mãe do Rosário como filho exemplar, seguia a orientação do capitão na condução do cortejo e não havia pessoa melhor para levar a bandeira do terno. Foi congadeiro respeitado por todos. Tive o privilégio de registrar o seu encontro com o Capitão Zé Carreira, do Terno de Congado de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, de Coronel Xavier Chaves – um momento especial. Os encontros de congados do Campo das Vertentes constituem-se forte expressão cultural regional, em diversos deles esteve presente o nosso saudoso Marco Aurélio, firme e a honrar a Senhora do Rosário.

O Congado de Nossa Senhora do Rosário e o de São Miguel foram “inventariados” pela Prefeitura de Santa Cruz de Minas, através do Conselho Municipal de Política Cultural e Patrimônio, ou seja, são reconhecidos como bens culturais e identitários da localidade, de acordo com a Superintendente de Cultura Laine Lopes.

Infelizmente, Marco Aurélio vivenciou momentos difíceis e perdeu o controle da diabetes, que acabou vitimando-o. Sua vida foi marcada pela simplicidade, mas também por seu senso de humanidade, por onde passou deixou impressa sua presença, sua força e sua fé.

 

Referências:

CRUZ, Luiz Antonio da Cruz. Serra de São José – Educação Patrimonial, Santa Cruz de Minas. Tiradentes: Mandala Produção, 2016.

PASSARELLI, Ulisses. Os Congados em velhas páginas. https://docs.google.com/file/d/0BxXKiVqD6BMdczFIQUM3dnpyZUk/edit?resourcekey=0-zz8iwNJ8FHChmTwY3Txu9A

PASSARELLI, Ulisses. Congados de Santa Cruz de Minas. https://folclorevertentes.blogspot.com/2013/05/os-congados-em-velhas-paginas.html













Comentários

  1. Viva o trabalho de bravos. Viva as tradições. Viva Santa Cruz e o Congado.

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    1. O Congado é sempre resistência. Santa Cruz de Minas está sempre apoiando o seu Congado e por isso merece parabéns. Obrigado pela presença aqui.

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