Santuário Nacional de Aparecida, Aparecida-SP. Fotografia: Luiz Cruz.
Nossas mãos carregam flores, ó Maria,
pois é o que a Igreja oferece a todos os povos e nações,
flores que vencem toda maldade, violência, opressão.
Novena e Festa da Padroeira, 2022, p. 8.
Nem
somente de Barroco vive o homem. Visitar o Santuário Nacional de Nossa Senhora
Aparecida, Aparecida-SP, é experiência ímpar, de religiosidade, fé, devoção e sobretudo
de ARTE.
Tudo
começou em 1717, com João Alves, Domingos Garcia e Felipe Pedroso, os pescadores
que encontraram uma imagem no caudaloso Rio Paraíba do Sul. A pequena escultura
da Senhora da Conceição, em terracota, com 36 centímetros de altura, 2,5 quilos
e cor preta, logo se tornou conhecida como Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
Em 1745, a imagem ganhou capela primitiva construída em madeira até que, entre
1834 e 1888, construiu-se a sua igreja, a Basílica de Aparecida. Templo
elegante, solidamente edificado com elementos pétreos e refinada ornamentação.
Abriga um retábulo com Santo Afonso de Maria Ligório (1696-1787), o fundador da
Congregação do Santíssimo Redentor, popularmente conhecida como Redentorista, a
administradora do Santuário de Aparecida.
Interior da
Basílica de Aparecida. Fotografia: Luiz Cruz.
Ornamentação
da nave da Basílica Antiga. Fotografia: Luiz Cruz
Retábulo de
Santo Afonso Maria de Ligório, o fundador dos Redentoristas.
Fotografia: Luiz Cruz.
Entre
1952 e 1954, o Morro das Pitas teve intervenção de terraplanagem para abrigar a
nova edificação da basílica. Logo, em 1955, deu-se início então, à construção do
novo templo, com projeto do arquiteto Benedito Calixto de Jesus Neto
(1906-1972). Como toda obra de grande vulto, recebeu diversas doações e uma
delas foi a do mineiro de Diamantina, Juscelino Kubitscheck, que ofereceu a
estrutura metálica da Torre Brasília.
Arquiteto
Benedito Calixto de Jesus Neto, autor do projeto da Nova Basílica de Nossa
Senhora Aparecida. Fotografia: acervo do Santuário de Aparecida.
Desde
então, a Nova Basílica de Aparecida se encontra em obras, como todas as grandes
catedrais, levam-se décadas para sua conclusão, ou até mesmo séculos.
Altar-mor da Basílica
de Aparecida, durante a Romaria dos Padres do Rio de Janeiro. Fotografia: Luiz
Cruz.
Detalhes dos mosaicos das fachadas, inspirados no Livro de Êxodo. Autoria do padre Marko Ivan Rupnik, da Eslovênia. Fotografias: Luiz Cruz.
Chegar
à cidade de Aparecida é uma experiência boa, melhor ainda é adentrar os portões
do Santuário Nacional de Aparecida. Paisagismo, arquitetura e arte se
entrelaçam e conformam um ambiente para a fé e o culto à Senhora Padroeira do
Brasil. A ARTE é elementar para nos elevar e nos aproximar de Cristo e de sua
Mãe, e como disse ARGAN (2004), a ARTE nos persuade e nos captura. É
reconfortante estar na Casa da Mãe e poder constatar que esse é um lugar do
povo brasileiro. Sua espacialidade arquitetônica é ampla e bem iluminada,
através dos diversos vitrais coloridos, para sobressair a exuberante
ornamentação. São muitos os elementos da nossa fauna e flora a compor a
decoração. Lá estão o ipê amarelo, o guapuruvu e a araucária – que corre o
risco de extinção. Na imensa cúpula,
sobrevoam o tuiuiú, gavião, papagaio, arara, pavãozinho-do-pará e o colhereiro,
essa visão nos propicia a ideia de profundidade e liberdade. O mico-leão-dourado
lança um olhar para o devoto ou para o contemplador, é de súplica pela vida,
não só por sua espécie, mas para os inúmeros componentes dos biomas brasileiros,
que padecem com a devastação, os desmatamentos, os incêndios e a poluição dos
rios com esgoto e com o mercúrio, do garimpo clandestino.
Cúpula central da Basílica, com espécies da avi-fauna brasileira. Fotografia: Luiz Cruz.
Detalhe da
cúpula central da Basílica, com elementos da avi-fauna brasileira.
Fotografia:
Luiz Cruz.
Painel com as árvores
brasileiras, em destaque a araucária. Fotografia: Luiz Cruz.
Não há como deixar de observar, em toda sua magnitude, em todos os cantos, tanto do Santuário quanto da Cidade dos Romeiros, recebem cuidados e atenção. É tudo limpíssimo e por isso os milhares de romeiros respeitam e ajudam a manter a limpeza.
Espaço entre o teto e o telhado, acesso para visita à cúpula central da
basílica.
Tudo impecavelmente bem cuidado. Fotografia: Luiz Cruz.
O clero redentorista realiza profícuo trabalho para a Igreja e para os homens. Assistir à Santa Missa celebrada pelo arcebispo D. Orlando Brandes é mergulhar com ele na palavra de Deus e nos aproximar de todas as mazelas do Brasil. Um país tão rico e ao mesmo tempo tão miserável. A Igreja de Cristo sempre se posiciona ao lado dos economicamente desprotegidos, das minorias perseguidas, como os povos originários – os indígenas e os pretos pobres têm sido abatidos pelas polícias militares em suas comunidades. E ainda os quilombolas sempre ameaçados, os LGBTQIA+ e os das religiões de matriz afro-brasileira tão massacrados, principalmente nos anos do desgoverno do presidente inominável. É no Santuário da Mãe Aparecida que todos nós nos sentimos mais homens e mais iguais, nos direitos e nos deveres.
D.Orlando Brandes a
receber indigenas que compareceram ao Santuário para agradecer apoio e
ofecer-lhe um cocar. Fotografias: Luiz Cruz.
Outra
experiência positiva é percorrer o Caminho do Rosário, a Via Crucis,
e chegar até a grande cruz, marco do local onde os três pescadores encontraram
a imagem de Aparecida. O trajeto de 1.300m, liga o Santuário ao Porto de
Itaguaçu, com 20 cenas sobre o Novo Testamento e retratam os Mistérios do
Rosário: gozosos, dolorosos, gloriosos e luminosos; ou seja, as passagens da
vida de Cristo e da Sagrada Família. Mais de cem esculturas compõem o conjunto,
obras dos escultores paraguaios Blas Servín e Angela Servín. Além das rosas
brancas, muitas plantas ornamentais e árvores enfeitam o percurso, como
acácias, ipês, jacarandás, manacás, tamareiras, romãs e até as oliveiras. É um
caminho para rezar, refletir e contemplar a arte e a natureza, tudo bem
integrado.
Agora,
você pode embarcar e navegar pelo Rio Paraíba do Sul, percorrer o rio
caudaloso, exatamente como faziam os pescadores abençoados. É oportunidade para
se experimentar a mansidão de suas águas, contemplar a paisagem, agradecer as
bençãos recebidas e renovar sua fé.
Árvores floridas do Caminho do Rosário. Fotografias: Luiz Cruz.
Caminho do
Rosário, com cenas da Vida de Cristo, Santuário de Aparecida.
Fotografia:
Luiz Cruz.
Livro da Novena de Aparecida - 2022.
Enquanto
nos preparamos para o dia 12, Dia da Senhora Aparecida, fazemos a Novena da
Padroeira, que originalmente era dividida em três blocos dedicados ao Deus
Pai, ao Deus Filho e ao Espírito Santo. Nesse ano, a Novena enfatiza o processo
sinodal da Igreja – sínodo é palavra grega que significa “caminhar juntos”
(CATALFO, 2022). Através da novena, nos aproximamos da Igreja de Cristo, com
sua expressividade e encantamento, sobretudo com o amor da Mãe Aparecida por todos
os seus filhos. A cada dia, conhecemos um pouco dos bons exemplos de vida
cristã em defesa dos menos favorecidos, como Rodolfo Lunkenbein – salesiano e
mártir, assassinado no pátio da Missão, por defender os índios. Dom Oscar
Romero, fuzilado entre os doentes de câncer e enfermeiros, enquanto celebrava
uma missa. Padre Josimo Morais Tavares, da Comissão Pastoral da Terra Araguaia-Tocantins,
assassinado no prédio da Mitra Diocesana de Imperatriz-MA. Irmã Cleusa
Carolina, do estado do Espírito Santo, que ao defender os povos indígenas foi
brutalmente assassinada nas margens do Rio Paciá. Santa Dulce dos Pobres, que
enfrentou os poderosos e até a polícia da Bahia para defender os pobres e os
doentes. D. Aloísio Lorscheider – presidente da CNBB que enfrentou os desafios
para a redemocratização do Brasil, defendeu os direitos humanos e foi contra a
tortura praticada pela ditadura militar do Brasil. Dom Pedro Casaldáliga – incansável
defensor dos povos indígenas e dos povos oprimidos. Martin Luther King Jr. – o
mais importante líder dos movimentos pelos direitos dos pretos
norte-americanos, que disse: “Eu tenho um sonho” e por isso acabou assassinado,
em 1868. Por último o célebre D. Hélder Câmara, figura da primeira linha na
defesa dos direitos humanos, durante a ditatura militar – que tanto torturou
homens, mulheres e crianças; por suas atividades em defesa dos cristãos, fora
proibido de falar no Brasil. (2022, p.7,11,16,20,24,29,34,39,44).
Cruz que identifica o local próximo onde os pescadores encontraram a imagem de Nossa Senhora Aparecida, margem do Rio Paraíba do Sul, Aparecida-SP. Fotografia: Luiz Cruz.
Passeio
pelo Rio Paraíba do Sul, nas proximidades onde os três pescadores encontraram a
imagem da Senhora Aparecida. Fotografia: Luiz Cruz.
A Basílica
de Aparecida vista do Rio Paraíba do Sul, nas proximidades onde os pescadores
encontraram a imagem da Senhora Aparecida. Fotografia: Luiz Cruz.
A
fabulosa Novena e Festa da Padroeira – 2022 nos oferece momentos
sublimes de contemplação à Senhora Aparecida, mas nos subsidia para termos
posições mais coerentes com os ensinamentos da Igreja de Cristo, que sempre se
pauta pelos desfavorecidos, como é pregado pelos redentoristas. Lembre-se, o
Brasil entrou na lista dos países de famintos, o país colocou mais de 40
milhões de pessoas em companhia da FOME nos últimos anos. Milhões de
brasileiros estão a viver indignamente nas ruas. Perdemos investimentos na
Educação, Ciência, Saúde, Moradia, Urbanismo, Saneamento Básico etc – seis bilhões
de reais foram para o “orçamento secreto”, destinados à corrupção, para a compra
votos e enganar o POVO.
Quem é devoto da Mãe Aparecida, quem segue a verdadeira Igreja de Cristo, não pode concordar com esse desgoverno da MORTE. As lições de Aparecida nos foram dadas, como disse D. Orlando Brandes:
E para ser pátria amada
não pode ser pátria armada. Para ser pátria amada, seja uma pátria sem ódio.
Para ser pátria amada, uma república sem mentira e sem fake news. Pátria amada
sem corrupção. E pátria amada com fraternidade. Todos os irmãos construindo a
grande família brasileira.
Por
sua posição cristalina e em defesa dos cristãos, D. Orlando Brandes foi
achincalhado, inclusive por “católicos”. Os ensinamentos proferidos na Casa da
Mãe Aparecida são muitos, para que sejamos livres, tenhamos nossos direitos
assegurados e fiquemos unidos na fé. Há “católicos” convictos que ignoram as
orientações do Papa Francisco, da CNBB, do D. Orlando Brandes e se curvam em
apoio aos malafaias da vida ou de padres laranjas e fakes com um que apareceu
recentemente, referenciado como Kelmom. Até mesmo dentro da Igreja Católica temos
os padres conservadores e de formação capenga que apoiam o desgoverno – este
mesmo, que tem como ídolo o torturador-mor da ditadura militar. Esse mesmo a quem
creditamos a responsabilidade pela morte de quase 700 mil vidas pela Covid-19,
porque queriam propina das vacinas. Cada um escreve sua história, pode enganar
a si mesmo e a todos, só não pode enganar a Deus, pois ele sabe de tudo...
Em
tempo, como sempre fazemos, aqui na nossa rua, em frente à nossa casa, Bairro
Cascalho, Tiradentes-MG, rezaremos o “Terço”, no dia 11 de outubro, às 18h. No
Dia 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida, faremos nossas orações e pediremos
para que ela derrame suas bençãos sobre esse Brasil, tão injusto e tão
desigual.
Referências:
ARGAN, Giulio Carlo.
Imagem e persuasão. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
Novena e Festa da
Padroeira, Santuário Nacional Aparecida, 2022. ISBN 978-65-5527-192-8.
Obrigada por tão nobre expressão de Fé, Arte, empreendedorismo e dedicação aos devotos da Mãe Nossa Senhora Aparecida.
ResponderExcluirMuito obrigado pela leitura, presença e comentário. A Mãe Aparecida nos ampara e nos mostra os caminhos para a vida. Ela acolhe a todos, principalmente os menos favorecidos, por isso sua CASA é a casa do Brasil, com tantas belezas. Que ELA derrame suas bençãos sobre esse Brasil...
ExcluirObrigada Prof Luiz Cruz, sua aula de Fé e Amor ao próximo exalta o nosso povo e nossa Padroeira. Nossa Senhora Aparecida nos proteja nestes momentos difíceis e tristes que vivemos. Venceremos no voto e na fé de um futuro melhor mais justo e feliz.
ResponderExcluirMuito obrigado por sua presença aqui. A devoção à Nossa Senhora Aparecida é muito forte. O Santuário é um templo repleto de arte, para nos acolher bem. Nesses tempos de tantas obscuridades, precisamos nos manter firmes, vencer o ódio, a ignorância e a intolerância. Unidos no bem comum da Nação Brasileira, conseguiremos sair desse túnel sem fim...
Excluir