A dama centenária das artes visuais
Cidade iluminada, 1957, óleo sobre tela. Acervo: Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte-MG.
Arte é, pois, antes de tudo, transbordamento
de vida interior. É uma vocação, um chamado.
Maria Helena Andrés, Vivência e Arte.
Centenária é o título da exposição da artista Maria Helena Andrés, idealizada
para registrar sua centésima primavera. Está em cartaz até o dia 5 de fevereiro
de 2023, na Galeria de Arte do Centro Cultural Unimed-BH Minas – Rua da Bahia,
2.244, Lourdes, em Belo Horizonte, com entrada franca. A curadoria impecável da
mostra ficou a cargo de Marília Andrés e Roberto Andrés. Então, programe-se e
vá conferir essa importante retrospectiva dessa artista mineira.
Casamento na roça, óleo sobre madeira, 1950. Acervo Euler e Iara
Rolim. Fotografia: L. Cruz.
Maria Helena Andrés nasceu em Belo Horizonte, em 1922, no ano
que em São Paulo se realizou a Semana da Arte Moderna. Ainda na adolescência
começou a desenhar e bem jovem estudou com o pintor carioca Carlos Chambelland
(1884-1950); posteriormente, a partir de 1944, passou a frequentar a Escola do
Parque, que acabou por se tornar a Escola Guignard – UEMG. Ela se formou nessa
escola e teve oportunidade de aprender e conviver com o magistral artista
Alberto da Veiga Guignard (1896-1962). Ao longo do tempo, construiu sólida
trajetória dedicada às artes visuais, a trabalhar com pintura, desenho,
gravura, escultura e fotografia. Realizou diversas exposições individuais no
país e no exterior, participou de inúmeras coletivas e bienais. Enveredou-se
profundamente no universo das artes e tornou-se arte-educadora; da construção
de seu aprendizado e suas experiências no Brasil e em outros países, publicou
obras importantes, como Vivência e Arte, editado em 1966. Numa
trajetória que nos lembra outra grande dama das artes, Fayga Ostrower, que
também tanto produziu e compartilhou seus conhecimentos.
Amarílis Coelho, Maria Helena Andrés, Edith
Behring e
Alberto da Veiga Guignard, 1954. Fotografia:
acervo MHA.
Maria Helena Andrés, em Entre Rio de Minas, 2008. Fotografia: Luiz Cruz.
Na mostra Centenária, organizada cronologicamente, observa-se o desenvolvimento da obra da artista e educadora. Cor e linha – a partir destes dois elementos, toda produção visual se desenrola, a perpassar pelas várias fases desenvolvidas, do figurativo ao abstrato. Da pintura que apresenta uma cena de casamento rural a uma escultura em chapa de aço, executada em 2022. Com a linha, Maria Helena André construiu um conjunto de obra admirável e a cor a preencher, iluminar, dialogar com a estrutura.
Primeiro
livro publicado pela artista, 1966. Acervo: Luiz Cruz.
Uma de
suas obras se encontra em um dos lugares mais emblemáticos de Minas Gerais, o
Santuário Basílica de Nossa Senhora da Piedade – a padroeira de nosso Estado, na
Serra da Piedade, em Caeté. Trata-se de uma pintura em azulejos, datada de
1996, da fase mais religiosa da artista.
Azulejaria, 1996. Santuário Basílica de Nossa Senhora da Piedade.
Serra da Piedade, Caeté. Fotografia: Luiz Cruz.
Em Entre Rios de Minas, onde a família Andrés tem propriedade, na
Barrinha, Maria Helena Andrés desenvolveu sólidos laços tanto com a cidade
quanto com a comunidade. Lá, o IMHA – Instituto Maria Helena Andrés, instituído
em 2005, executou diversos projetos. Um deles foi o Ponto de Cultura, a
integrar, fomentar e potencializar a produção cultural da localidade e seu
entorno. Outra ação foi a criação do Festival de Inverno de Entre Rios de Minas,
que propiciou à região experiências diversas com as mais variadas manifestações
da Arte e da Educação – atualmente, realiza-se na cidade o Mutirão Cultural,
inspirado no festival, promovido pela prefeitura e apoiado pelo Grupo Amigos da
Cultura.
Primos que
participaram de várias oficinas do Festival de Inverno de Entre Rios de Minas,
2008. Fotografia: Luiz Cruz.
O Festival de Inverno de Entre Rios de Minas teve papel relevante ao oferecer
experiências e vivências artísticas às crianças, jovens e adultos da cidade e da
região. O tema da terceira edição desse evento foi dedicado à “nossa cidade,
nossa história, nossa identidade cultural”. Com certeza muitas sementes foram
plantadas e agora se percebe resultados positivos dessas ações.
Maria Helena Andrés com crianças participantes de uma das oficinas do Festival de Inverno de Entre Rios de Minas, 2008. Fotografia: Luiz Cruz.
Casamento na roça, estampa da camiseta do 3º Festival de Inverno de Entre Rios de Minas, 2008.
Atualmente, o IMHA está sediado no Condomínio Retiro das Pedras, em
Brumadinho-MG, e atua como OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público. Desenvolve projetos dedicados às artes visuais, educação, música e
arquitetura.
Ao longo dos anos, tivemos o prazer em encontrar e participar de várias
atividades com Maria Helena Andrés em Entre Rios de Minas, onde é respeitada e
muito admirada por todos. Tivemos o privilégio em registrar um trabalho ainda
em construção do Grupo Bordadeiras de Quinta, para homenageá-la em seu CENTENÁRIO
de VIDA. O risco, a linha, o ponto, o espaço vazio e o espaço cheio. Mais que
um trabalho, uma delicadeza, um mimo, um afeto, bordado por mão delicadas e
prendadas – que com a linha foram construindo a trama, de uma história de vida
e de amor.
O escritor João Guimarães Rosa, em Grande Sertão Veredas, afirmou
que “viver é perigoso”. E pode ser mesmo! Mas a VIDA é bela, principalmente
quando é toda permeada e dedicada às artes e à educação, às tramas de linhas e à
gama de cores infinitas. A VIDA é uma bênção, principalmente quando se chega
aos cem anos, a produzir, criar, inovar e incorporar novas linguagens à uma obra
já tão rica e tão vasta. Maria Helena Andrés é uma dádiva para todos nós!
Sem título, 2022, escultura em chapa de aço. Acervo MHA. Fotografia: Luiz Cruz.
Luiz Antonio da Cruz
Referências:
https://imha.org.br/
Andrés, Maurício.
Minha vida de artista. http://mariahelenaandres.blogspot.com/2016/01/. Visitado em 15/01/2023.
ANDRÉS, Maria
Helena. Maria Helena Andrés: depoimentos. Belo Horizonte: C/Arte,
1998.
ANDRÉS, Maria
Helena. Vivência e Arte. Rio de Janeiro: Agir, 1966.
RESENDE, Elson de
Oliveira. De Bromado a Entre Rios de Minas, ...sua arte, ...sua história. Tiradentes:
Mandala Produção, 2021.
Que bela homenagem à D Helena, Luiz! A cultura e a arte em Entre Rios de Minas tiveram grande impulso após as ações aqui realizadas pelo Instituto Marina Helena Andres. Parabéns pela escrita primorosa e poética. Gratidão pela menção às Bordadeiras de Quinta, grupo da qual muito me orgulho em fazer parte. 🙏
ResponderExcluirMuito obrigado pelo retorno, isso é muito importante. Dona Maria Helena Andrés sempre foi presença luminosa em Entre Rios de Minas. Quando vi aquela caixa com o bordado em homenagem à artista, fiquei emocionado; vocês tiveram uma ideia brilhante e recriaram uma obra prima, digna do centenário da homenageada. Muitos parabéns para todas as integrantes do Grupo Bordadeiras de Quinta. Abraço
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