TIRADENTES – 1718-2023. Aniversário da Cidade.


       

Na Câmara de São José, o Imperador e a Imperatriz “deram a beijar suas augustas mãos”. 

Fotografia: Luiz Cruz.


No dia 19 de janeiro de 1831, a Vila de São José, que completava mais um aniversário de emancipação, recebeu a visita do Imperador Pedro I, com grande pompa. Antes de atravessar a Ponte do Cuiabá, sobre o Rio das Mortes, parou para se preparar para a entrada triunfal na vila, que celebrava 131 anos de autonomia política-administrativa.

Breve publicaremos trabalho referente à antiga Ponte do Cuiabá, sobre o Rio das Mortes. Aguarde.

 

VIAGEM

DO

Imperador D. Pedro I a Minas-Geraes

1830-1831

 

DIA 19 DE JANEIRO DE 1881

Na villa de São-Jozé

 

                       


Revista Trimestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Tomo LX, Parte I, Rio de Janeiro, 1897, p. 318-383.

Acervo: IHGB-RJ. Mapa: 1939, detalhe.

 

A’s 10 horas e três quartos da manha de hontem chegaram Suas Magestades Imperiaes à ponte do Cuiabá, na proximidade da villa de São-Jozé, vindo acompanhados do ouvidor da comarca, de grande numero de oficiaes militares da segunda linha, tanto d’essa villa como da do São João d’El-Rei, e de uma companhia de cavalaria da segunda linha, para servir-lhes de guarda, que as Suas Magestades Imperiaes na caza do cobrador dos direitos de passagem, e se prepararam para fazer a sua entrada, a qual  se verifica depois do meio-dia, por entre uma inumerável multidão de pessoas de todas as classes, sexos e idades, que incessantemente repetiam vivas a Suas Magestades Imperiaes e Constitucionaes, a Sua Magestade a Imperatriz, à imperial família, à religião, à constituição, o que  também fez um corpo de tropa de infantaria da segunda linha, que se achava formada em uma praça da villa comandada pelo seo major.

         Dirigidos os passos à igreja matriz entraram n’ella Suas Magestades Imperiaes debaixo de palio, levado pelos membros da câmara municipal, e assistiram ao Te-Deum debaixo do docel, que lhes estava destinado na capela-mor ao lado do Evangelho. Findo este acto religioso, que se celebrou com a pompa talvez superior ao que podia esperar-se, foram Suas Magestades Imperiaes conduzidas debaixo do mesmo palio até a caza da residência do reverendo vigário, que estava decentemente preparada para sua pouzada.

Immdiatamente Suas Magestades Imperiaes dignaram receber o cortejo da câmara municipal, que pelo seo presidente lhes fez as solicitações, a que Sua Magestade o Imperador houve por bem responder: Agradeço muito os sentimentos que acaba de patentear-me a câmara municipal d’esta villa de São-Jozé, deram a beijar suas augustas mãos, tanto aos membros da câmara, como a todas as mais pessoas que as tinham acompanhado, que se apresentaram para esse fim.

Em todo o dia os repiques de sino, os fogos do ar e os vivas, que continuamente se repetiam diante das janelas da caza em que estavam Suas Magestades Imperiaes e Constitucionaes, a quem nos deo a independencia, a religião, aos povos brazileiros, seguio com o mesmo festejo e alegria pelas ruas da villa, Sua Magestade o Imperador deo audiência a todas as pessoas que tiveram alguma couza a requerer-lhe. Fez distribuir pelos necessitados avultadas esmolas, e recebeo felicitações que a câmara municipal de São-João d’El-Rei lhe enviou com uma deputação de dois de seos membros.

            Passaram Suas Magestades Imperiaes bem a noite, hoje partiram para a villa de São-João d’El-Rei pelas horas da manhan, acompanhadas de um grande numero de pessoas.

       Senhor. A Camara Municipal da Villa de São-Jozé do Rio das Mortes, com o maior respeito e submissão, se apresenta a Vossa Magestade Imperial para lhe tributar a mais sincera homenagem.

       A câmara se dirige aos omnopotentes Deos do Universos e com os votos mais fervorosos lhe suplica queira felicitar a Vossa Magestade Imperial e toda a Familia Imperial, concedendo-lhes em abundancia os bens mais preciozos e saudaveis  até o feliz complemento dos dezejos de Vossa Magestade Imperial: este é o maior desvello que acompanha esta municipalidade, pois conhece, que a felicidade não só d’esta província, como todo o Imperio Brazileiro, consiste na posse em que estamos de Vossa Magestade Imperial como nosso Imperador, verdadeiro constitucional e perpetuo defensor, a d’esta felicidade tem este município uma avantajada porção pela adhezão que com gosto tributa a Vossa Magestade Imperial; e si o impossível Senhor, nos veda de podermos comparecer pessoalmente para rendermos  a Vossa Magestade Imperial aquella humilhação que tão justamente lhe é devida, nós o fazemos pela pessoa do capitão Matheus Furtado de Mendonça, de viva  voz, em nome  de todos os povos d’este termo, aprezentar os nossos dezejos, assim como as nossas vantagens; o que com razão esperamos, confiados na benigna e alta proteção de Vossa Magestade Imperial; e por este bem que tanto apetecemos, o Grande Distribuidor dos bens eternos lhe queira prosperar a saude e vida, como nós apetecemos para o complemento dos dezejos d’esta população e de todo o Imperio.

Villa de São-Jozé, em sessão ordinaria de 13 de Janeiro de 1831. João Antonio de Campos, Gervazio Ferreira de Alvim, Antonio Jozé Moreira, Severino Eulogio Ribeiro de Rezende, Matheus Furtado de Mendonça, Manoel Pereira dos Santos Viana, Jozé Esteves de S. Francisco.

Obs.: Transcrição do texto original, de 1897. Agradecimentos a Valmir de Paula Santos.


Referência:

http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/grandes_formatos/SVOP%20-%20019/896.jpg

Revista Trimestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo LX, Parte I, Rio de Janeiro, 1897, p. 318-383.

Comentários

  1. O nome correto é Gervázio Pereira Alvim, ele casado com Francisca Cândida de Resende, genro do inconfidente pai, José de Resende Costa. Em Entre Rios, há parentes que têm carta do inconfidente filho para Gervázio, instruindo sobre as melhorias da cultura do café. è gente da família dos Campolina. Já li a carta. Eu tenho talheres de prata que pertenceram à Francisca Cândida, estilo D.Maria I, herança da Fazenda dos Campos Gerais.
    Segundo a tradição oral, D. Pedro I foi até a Faz. dos Campos Gerais, em Resende Costa, em sinal de agrado à família tão perseguida. Em 1809, o inconfidente filho, de volta ao Brasil, era o que hoje chamamos de Ministro da Fazenda. A Família Resende recebeu, no século XIX, mais de 30 títulos de nobreza, inclusive o do Marquês de Valença. Um deles fundou a Fazenda Santa Genebra, em Campinas, modelo até hoje. O Frei Veloso, da família do Tiradentes, na volta do exílio, "fundou" o Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.
    O rico Matheus Furtado de Mendonça havia delatado alguns conjurados, como muitos, jamais foi perdoado pelos vizinhos e sua descendência acabou empobrecida e ignorante. Ele foi um dos mais cruéis senhores de escravos da região. A tradição oral preserva histórias horríveis sobre ele.

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  2. Não sou anônima, sou Cida Chaves, sou Fraga, estudo a inconfidência mineira.

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  3. Cida Chaves, muito obrigado por sua presença aqui, mais ainda por suas observações. A grafia apresentada acima está exatamente como a da Revista. Precisamos registrar esses aspectos da história e da cultura. Abraços

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