A escrita e o escritor

       

 Walter Sebastião, Bichinho, 2023. Fotografia: Luiz Cruz.

 

  

Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros. [...]

 

Carlos Drummond de Andrade, Mãos Dadas.

 

 

 

Escrever é sempre um desafio. A escrita é uma arte, exatamente como uma peça artística, uma escultura ou uma fotografia. Juntar letras, palavras, acentos, pontuação, sentidos, espaços, vazios, sinais para a compreensão ou para a subversão do entendimento. Como disse Drummond, “Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos.” Escrever é construir e desconstruir ao mesmo tempo, sempre na busca do mais polido, da precisão. A autora Clarice Lispector destacou: “É que, ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconsciente, eu antes não sabia que sabia.” E é ela mesma quem afirma, “creio na inspiração e creio no trabalho” – então, não é nada fácil, muito menos gratuito no processo de construção da escrita.

Escrever poesia é mais desafiante ainda, um poema lapidado pode se tornar uma verdadeira preciosidade, uma joia, uma obra de arte. Entre a escrita e o escritor – ou seja, entre o poeta e o suporte há um espaço invisível, onde se encontra o autor. E esse sujeito jamais aparece só, traz consigo suas vivências, leituras e livros, objetos, sonhos, pesadelos, assombrações, sensibilidades, amores e até mesmo os pavores...


                             

       Walter Sebastião na varanda de seu atelier, Bichinho, 2023.

Fotografia: Luiz Cruz.


É com grande alegria que a Mandala Produção publica seu primeiro livro de poesia: errante grafia (poemas), do poeta Walter Sebastião Barbosa Pinto, mais conhecido apenas como Walter Sebastião. Nascido em Juiz de Fora, formou-se em Comunicação Social pela UFJF e teve sua bagagem cultural estruturada na literatura e nas artes plásticas. Trabalhou no jornal Tribuna de Minas, de Juiz de Fora e posteriormente no jornal Estado de Minas, em Belo Horizonte. Sempre atuou como repórter do universo cultural, especialmente das artes visuais; logo se destacou por suas habilidades ao garimpar as informações em seus nascedouros.

Desde muito cedo escreveu, desenhou e pintou. Em 1978, publicou o seu primeiro livro de poemas: Primeiro Exercício de Tiro ao Alvo; depois vieram os outros, Um Peixe Rasura a Transparência do Aquário, de 1983; Alguns Desenhos – Poemas, de 1995; Certas Noites, de 2007. errante grafia (poemas) conforma-se um conjunto de 70 poemas e ilustrações do próprio autor.

 


  Walter Sebastião em sua casa, Bichinho, 2023. Fotografia: Luiz Cruz.

         


O poeta junto ao monumento ao inconfidente Vitoriano Veloso, Bichinho, 2023.

Fotografia: Luiz Cruz.

 

Atualmente vive no Bichinho, onde mantém sua casa, escritório e atelier. Walter Sebastião é um homem do mundo e conectado a muitos meios culturais, tanto do Brasil quanto do exterior. Na obra errante grafia (poemas) o escritor se revela em sua magnitude, de homem feliz, que ama o que faz e o local escolhido para viver. Ao mesmo tempo que se apresenta global é o mais autêntico cidadão do Bichinho, pois conhece todos os seus moradores e como ninguém se integrou bem ao cotidiano da comunidade, com os seus personagens e suas habilidades, suas crenças e devoções. Ainda, com a história inconfidente e com a história contemporânea desse povo. E consegue conviver bem até mesmo com o turismo, que as vezes é excessivo na localidade.

 

Aspecto do atelier do artista, 2023, Bichinho. Fotografia: Luiz Cruz.

 


Placa do Ateliê Walter Sebastião, Bichinho,2023. Fotografia: Luiz Cruz.


errante grafia (poemas) é obra que perpassa por muitos aspectos da VIDA e isso faz toda a diferença. É impregnada de humanidade! A partir da construção de versos com palavras que indagam ou de palavras inventadas, o leitor encontrará os mais variados temas da atualidade. Ou seja, a obra espelha além da sensibilidade do poeta e do artista, reflete toda a complexidade do cotidiano, através de sua percepção refinada. 



A obra apresenta também a nova fase da vida do autor, dedicada a intensa leitura de grandes nomes da literatura, de Tomas Antônio Gonzaga a Ezra Pound. Mas agora enfrenta os livros pelo prazer da leitura, para a luxúria e para o devaneio literário. E, vai a levar a jornada, sempre a alternar leitura, pintura, escrita...


O autor em seu atelier, Bichinho, 2023. Fotografia: Luiz Cruz.

 

Palavra e imagem. Walter Sebastião conecta a escrita com a profusão de objetos que coleta e armazena em seu atelier. E cada um é portador de significados que transcendem o próprio sentido, como lentes de óculos, bússolas, caramujos, fragmentos de vidros, plumas, detalhes de imagens sacras, flores, vidros, isqueiros e os próprios instrumentos de trabalho, como as penas, canetas, pincéis, crayons etc. Cada um circunspecto em sua materialidade, são autênticos cacos de memórias. Banais, mas ao serem indagados, nos contam histórias... Agrupa, reagrupa e a cada conjunto surge nova imagem, sempre a apresentar uma nova escrita visual. É nesse sentido que o autor desenvolve sua produção, ao fundir a arte da escrita e a arte visual. Do universal ao telúrico, das indagações existenciais, aos tormentos gerados pela xenofobia, homofobia e outras mazelas da atualidade. O autor e o artista estão em seu canto – (de onde se descortina ampla paisagem da Serra de São José) – a observar tudo e todos, num verdadeiro processo antropofágico, mas sem abrir mão do lirismo, como se observa nos versos do poema pra ti: “um passarinho alheio aos meus desejos/ veio, cantou e me jogou uma flor”. 

errante grafia (poemas) chega em bom momento, quando o Brasil volta a brilhar, a respeitar e ser respeitado. Nessa nova fase do país, nada melhor que termos mais um belo livro de poesia. O leitor agradece, arte e a cultura também.  

    

                               Walter Sebastião, Vermelho, Bichinho, 2022. Fotografia: Luiz Cruz.

 

Interessados em adquirir o livro errante grafia (poemas) devem enviar mensagem para o e-mail: walterp@uai.com.br

 

Luiz Antonio da Cruz

 

 Referências:

Clarice Lispector. Cadernos de Literatura Brasileira. Instituto Moreira Salles, 2004.

SEBASTIÃO, Walter. Alguns Desenhos (Poemas). Belo Horizonte: AP Cultural, 1995.

SEBASTIÃO, Walter. Certas Noites. Belo Horizonte: artes & ideias & ações, 2007.

SEBASTIÃO, Walter. errante grafia (poemas). Tiradentes: Mandala Produção, 2023.

 

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Publicações sobre patrimônio cultural e ambiental de Tiradentes e região - abordando o patrimônio material e imaterial.

Postagens mais visitadas.