Arlindo
Daibert: presente!
[...]
a orthographia desta casa
de
século a século
novos
esteyos pede
e
por forros esteyras novas
e
ainda, alumna,
a
calligraphia do novo amo
Júlio Castañon Guimarães, A uma casa
em restauração
Parto, xilogravura, 1984, da série Grande Sertão e Veredas.
Arlindo Daibert.
Arlindo Daibert (1952-1993) nasceu, viveu, estudou e atuou em Juiz de Fora. Desenhista, pintor, gravador, ilustrador e professor que partiu prematuramente, no auge de sua produção artística. Não há como reforçar que foi um dos maiores desenhistas do país e de acentuado refinamento. Um artista que construiu trajetória surpreendente, a partir de sua terra natal conquistou paragens inimagináveis. Suas obras estão em diversos acervos públicos e privados, a comprovar sua expressividade e talento.
Em
1984, adquiriu uma casa na Rua Padre Toledo, no centro de Tiradentes. A partir
de então, integrou ao grupo de artistas da oficina da Casa de Gravura Largo do
Ó, juntamente com Lótus Lobo, Maria José Boaventura, Fernando Pitta, Leonino
Leão, Beth Cavalcanti e Luiz Cruz. Além de produzir gravuras, neste período
circulou por Tiradentes e fez muitos desenhos, alguns de rara beleza. A Casa de
Gravura trouxe à cidade diversos artistas, com eles ideias, inovações
artísticas e encontros com uma localidade privilegiada pela arte e pelo seu
patrimônio.
Sem título. Acrílica sobre tela, Arlindo Daibert. Acervo: André Colombo.
Arlindo
Daibert se tornou um dos colaboradores da SAT – Sociedade Amigos de Tiradentes,
fundada em 1980, que desenvolveu diversos projetos e um deles foi o “Obras
Emergenciais”, a realizar intervenções em certas casas, especialmente do núcleo
antigo da cidade. A SAT adquiria os materiais, realizava as obras e os
proprietários pagavam em parcelas, sem ajustes e de acordo com a situação de
cada um. Tal projeto evitou a ruína completa de vários imóveis e propiciou a
melhoria da qualidade de vida dos moradores. Uma das casas beneficiadas com o
projeto da SAT abriga atualmente o Martir – Mostra de Artes de Tiradentes, na
Rua Direita 44, aberto nos finais de semana. No Martir, há uma sala dedicada ao
Arlindo Daibert, com pinturas e desenhos, é oportunidade de conhecer e apreciar
a obra do artista que escolheu Tiradentes para morar e produzir seu trabalho.
Martir – Mostra de Arte Tiradentes, com sala dedicada ao artista visual
Arlindo
Daibert, em Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz.
Martir –
Mostra de Arte Tiradentes, com sala dedicada ao artista visual
Arlindo
Daibert, em Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz.
Martir – Mostra de Arte Tiradentes, com sala dedicada ao artista visual
Arlindo Daibert, em Tiradentes-MG. Fotografia: Luiz Cruz.
Daibert
foi colaborador também dos eventos culturais da cidade, em 1987, ministrou uma
oficina de xilogravura na programação do “Verão Cultural”. Nesta oficina,
jovens talentos natos descobriram a arte da gravura, dentre eles Bolão Divino,
que foi premiado em salões de arte. Foi em Tiradentes que Arlindo se inspirou
para algumas de suas obras para Grande Sertão e Veredas, de João
Guimarães Rosa. Por isso, o conjunto de ilustrações esteve exposto aqui por
duas vezes e com muito sucesso.
Acervo: Luiz Cruz.
Homem
das Letras e das Artes, em Cadernos de Escritos, livro organizado por
Júlio Castañon Guimarães, compreendemos um pouco do processo criativo do
artista ilustrador:
JF 10.5.81
Domingo de calor. Dia das
Mães. Me preparo para mais um desenho: a morte da mãe(!) Transformo meu tédio
quotidiano num exercício de humor... negro, naturalmente!
(mais tarde) Continuo trabalhando
na urna funerária. O projeto é engraçado: a igaçaba que enfeita minha sala
coroada por dois anjos barrocos que seguram flores pintadas à la Ataíde.
Aplico aos desenhos o raciocínio de desregionalizar elementos e situações;
subverter as noções de tempo e espaço, o que caracteriza a narrativa. [...].
Arlindo Daibert, Caderno de Escritos,
1995, p.15.
A
partir da literatura, criou obra densa, impactante e contribuiu
substancialmente para a divulgação de obras e autores. No seu Caderno de
Escritos, registrou momentos do embate entre a palavra e a imagem, além de
incluir o que os escritores recorreram para a construção dos textos, inseridos
nas entrelinhas das narrativas.
Sem título. Desenho, grafite sobre papel. Acervo: André Colombo.
Sem título, desenho, técnica mista. Arlindo Daibert. Acervo: Luiz Cruz.
Arlindo
foi artista presente nas exposições montadas na Galeria de Arte do Instituto
Cultural Biblioteca do Ó, em Tiradentes, mas também em diversos salões de arte,
coletivas e individuais em tantas localidades brasileiras. A cada obra uma
indagação, da técnica, do fazer, da experimentação e também da crítica do seu
tempo – por isso sua produção transcende a momentaneidade e se torna presente e
necessária.
Agora, no mês de agosto, registramos o trigésimo ano de sua partida e ficamos na certeza de que Arlindo
Daibert marcou sua presença para sempre no cenário das artes visuais do Brasil.
Agradecimentos: ao
colecionador André Colombo, Instituto Cultural Biblioteca do Ó e Martir –
Mostra de Arte Tiradentes – Coleção Tadeu Bandeira.
Muito interessante!
ResponderExcluirMuito obrigado, Arlindo construiu uma bela história de vida. Abraço
ExcluirGrande artista!!! Saudade!!
ResponderExcluirObrigado pela presença aqui. Arlindo Daibert foi um grande artista, sensível e audacioso. Partiu muito cedo e deixou muitas saudades. Abraço
ExcluirArlindo Daibert ficou pouco tempo aqui, mas deixou sua linda marca.
ResponderExcluirAntônio Peixoto, obrigado por sua presença aqui e pelo registro. Arlin Daibert trabalhou incansavelmente, foi um artista com dedicação ímpar no fazer artístico. Seu legado é expressivo. Abraço
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