SEXTA-FEIRA
DA PAIXÃO, COM FÉ E TRADIÇÃO
Antigamente,
tudo era muito respeitoso. Este sempre foi um dia especial, de reverência, de
introspecção, de respeitabilidade. Não se varria a casa. As matriarcas não
penteavam os cabelos. Não se ligava o rádio. Não podia trabalhar. Tinha que se
manter o silêncio. Tudo era rompido só com o som das matracas, tocadas nos
adros das igrejas.
A benzedeira Dona Erci, na Sexta-Feira
da Paixão. Fotografia: Luiz Cruz.
Manjericão
verde e flor de algodão, usados no preparo do xarope.
Fotografias:
Luiz Cruz.
A
meninada acordava com o dia ainda escuro e partia para as fazendas para buscar
leite. Todo a produção leiteira era distribuída para quem chegasse à porteira
da fazenda. E o leite rendia, para fazer panelada de arroz doce, cremoso, com
folha de limão capeta e ao final salpicado com canela em pó. Doce de leite mole
e de cortar. Ambrosia, o mais autêntico manjar dos deuses.
Depois, era buscar rosmaninho, limpar o Passo da Paixão (o que nossa mãe cuidava, era o Passo da Cadeia), arrumar as jarras com manjericão do verde e roxo. Jogar as folhas do rosmaninho no chão e na frente do Passo da Paixão. Tudo isso foi acabando, principalmente depois que a Paróquia de Santo Antônio e a Irmandade dos Passos tomaram as chaves dos zeladores dos Passos da Paixão.
A benzedeira Dona Erci, na Sexta-Feira da Paixão. Fotografia: Luiz Cruz.
A benzedeira Dona Erci, na Sexta-Feira da Paixão. Fotografia: Luiz Cruz.
A benzedeira Dona Erci, na Sexta-Feira da Paixão. Fotografia: Luiz Cruz.
Mas
nem tudo está perdido. Hoje, saímos para registrar as BENZEDEIRAS que ainda
atuam em Tiradentes. Dorna Erci Silva Paiva, moradora do bairro Cascalho, uma
das personalidades mais lindas e carismáticas da cidade é benzedeira. Hoje é o dia
em que ela recebe em sua casa muitas crianças e adultos para serem benzidos. É
Dia da Paixão de Cristo e o melhor para limpar o corpo e a alma de todas as
energias negativas.
Dona
Erci tem a benzeção como uma dádiva e a compartilha com todos que batem à sua
porta. E ela só benze com o Terço – a invocar Nossa Senhora e com as plantas
poderosas.
Os irmãos Paiva, na cozinha, no preparo do xarope. Sexta-Feira da Paixão. Fotografia: Luiz Cruz.
Os irmãos Paiva, na cozinha, no preparo do xarope. Sexta-Feira da Paixão. Fotografia: Luiz Cruz.
O preparo do xarope no fogão à lenha. Sexta-feira da Paixão. Fotografia: Luiz Cruz.
No bairro Cuiabá, moram os nossos primos queridos, os Paiva, que conseguem manter a tradição em produzir o tradicional xarope com as plantas, sementes, flores, frutos e mel, tudo preparado em longo processo de cocção. A fé, a dedicação, a tradição e o poder das plantas de uso medicinal – tudo associado ao dia da Paixão de Cristo. O xarope deve ser tomado neste dia, para tratar dos problemas pulmonares, especialmente das bronquites, agudas ou crônicas.
A benzedeira Nayara Nascimento com o
Terço e as plantas, Sexta-Feira da Paixão. Foto: Luiz Cruz.
Nayara Nascimento e a orquídea Cattleya loddigesii, Sexta-feira da Paixão. Fotografia: Luiz Cruz.
A benzedeira Nayara recebendo o pessoal para ser benzido. Sexta-feira da Paixão. Foto: Luiz Cruz.
Ainda
no bairro Cuiabá, Nayara Nascimento prepara o xarope, receita passada de
geração em geração. Nayara aprendeu com a mãe, a saudosa Dona Maria José, a
coletar as plantas, preparar o xarope e fazer a benzeção. Dona Maria José atuou
por décadas consecutivas como benzedeira e felizmente deixou a filha preparada
para dar continuidade na preparação do xarope, manter-se firme como benzedeira
e assim poder propiciar melhores condições para o corpo e a alma das pessoas
que chegam à sua casa para serem benzidas.
As
pessoas que têm fé e acreditam na potência da benzeção e no poder das plantas tradicionais
de uso medicinal associados ao Dia da Paixão de Cristo, podem e devem procurar
estas pessoas iluminadas, Dona Erci – no bairro Cascalho; no bairro Cuiabá Dona
Martinha e Dona Nayara.
Que
estas benzedeiras recebam muitas bençãos para continuar a compartilhar suas
dádivas com todos que têm fé e que precisam.
Uma
abençoada Sexta-Feira Santa para todos!
Luiz
Antonio da Cruz
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