FESTA DE SANTA CRUZ - 03 DE MAIO 

 

Se sois justo, haveis de ter cruz, porque Cristo era justo, antes a mesma justiça, e tinha a sua. Se sois pecador, haveis de ter cruz, porque o mau ladrão era pecador, e estava crucificado. E se sois penitente, também haveis de ter cruz, porque o Bom Ladrão era penitente, e a cruz era a maior parte da sua penitência.

 

Padre Antônio Vieira, Sermão da Exaltação da Santa Cruz,

Convento da Anunciada, em Lisboa, ano de 1645. 

 

No calendário litúrgico da Igreja, nesta data se comemorava a festa da Inventione Sanctae Cruci, isto é, a data em que Santa Helena, a mãe do imperador Constantino, encontrou a Cruz (em latim: inventio, onis - que significa “descoberta”), ao escavar o lugar onde Jesus Cristo fora sepultado em Jerusalém, fato ocorrido a 3 de maio do ano 326). Esta foi a verdadeira Cruz, que se encontra, desde então, na Basilica Sanctae Crucis, no bairro Laterano, em Roma.

Na reforma do calendário litúrgico, depois do Concílio Vaticano II (1962-1965), a comemoração da Santa Cruz de 03 de maio teve transferência para o dia 14 de setembro, dia que a Igreja comemora a Exaltação da Santa Cruz, pois foi no dia 14 de setembro do ano 335, que se consagrou a Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém. Com a reforma litúrgica, após o Concílio Vaticano II, as duas festas, a do dia 03 de maio e a do 14 de setembro foram unificadas numa única comemoração, isto é, no dia 14 de setembro, com o nome de Exaltação da Santa Cruz. A Santa Cruz representa o triunfo de Cristo sobre a morte, sendo por isso exaltada nestes dias.


                                

Fotografia de Luiz Fontana, 3 de maio de 1929, Missa Campal na Ponte de Antônio Dias. Acervo: IFAC/UFOP.

Porém, nas principais cidades de origem setecentistas mineiras, como Mariana, Ouro Preto, São João del-Rei, Tiradentes, Diamantina, Serro e outras, as comemorações do Dia de Santa Cruz ocorrem no dia 3 de maio, apesar da mudança do calendário. Nestas localidades mais tradicionais, no dia 2 de maio se enfeitam as Cruzes das portas das casas e segundo a lenda, na madrugada de 2 para 3 Nossa Senhora passa e abençoa a casa e a família. 

Há localidades em que se celebravam a Santa Missa junto à uma Cruz, conforme o registro do fotógrafo Luiz Fontana, da década de 1920, da celebração na Ponte de Antônio Dias, também conhecida como Ponte dos Suspiros ou Ponte Marília de Dirceu, sobre o Ribeiro do Sobreira. Essa ponte é uma das mais belas e imponentes de Minas Gerais do período colonial, sua construção fora arrematada em 11 de outubro de 1755, pelo mestre construtor Manuel Francisco Lisboa – o pai do Mestre Aleijadinho.

A fotografia de Luiz Fontana é um importante registro a comprovar a forte devoção à Santa Cruz, em Minas Gerais.

 


                       Cruz da Ponte de Antônio Dias, 3 de maio de 2025, Ouro Preto. Fotografia: Walquir Avelar.

 

Cruz sobre ponte, 3 de maio de 2025, Ouro Preto. Fotografia: Walquir Avelar.

 

Em Ouro Preto, até o presente as Cruzes sobre as pontes são enfeitas com papéis coloridos, a Cruz do Alto das Cabeças também recebe esta ornamentação anualmente. Em Mariana, na Cruz da pracinha em frente à Capela de Sant’Ana, neste ano, recebeu ornamentação toda branca e ganhou destaque na Paisagem Cultural marianense.


Cruz da pracinha em frente à Capela de Sant’Ana, Mariana, 2025. Fotografia: Luiz Cruz. 

 

Em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, Dona Helena, mãe do professor e pesquisador Alex Bohrer, renova a ornamentação de sua Cruz. Ela que é Helena, presta sua homenagem à Santa Helena, que encontrara a autêntica Cruz de Cristo, no dia 3 de maio.

 

Cruz ornamentada por Dona Helena, Cacheira do Campo, Ouro Preto, 2025. Fotografia: Alex Bohrer.

 

Em Tiradentes, a Cruz do Carteiro, no alto da Serra de São José, teve sua ornamentação renovada, com papel de seda colorido.


Cruz do Carteiro, Serra de São José, Tiradentes, 2025. Fotografia: Luiz Cruz.

 

Em Portugal e em outros países do mundo existe a tradição de se realizar festas e romarias em torno de Santa Cruz nestas datas, bem como ornamentar fontes e cruzeiros com flores, verduras e plantas aromáticas para proteger as pessoas dos males que andam à solta por aí e que podem afligir o corpo e a alma.

Cruzes, ornamentadas com papel crepom, pela artesã Dona Jacqueline Faria, 2025. Fotografias: Luiz Cruz.


O mês de maio está quase terminando, mas o devoto de Santa Cruz ainda pode enfeitar a sua Cruz da Porta. Caso não tenha habilidades ou tempo, em Tiradentes pode-se encontrar as cruzes ornamentadas com papel de seda, papel crepom, com fuxicos e outros materiais, produzidas pelas artesãs Dona Lilia Fonseca, Dona Carmelita Costa, Dona Erci Paiva e Dona Jacqueline Faria. Enfeitar a Cruz é uma tradição que herdamos dos portugueses; o tempo passa e este costume já perdura cerca de 17 séculos. 

                                                                                                                                Luiz Antonio da Cruz


Referência:

Ouro Preto Cidade em Três Séculos – Bicentenário de Ouro Preto – Memória Histórica [1711-1911]. 2ª edição atualizada. Ouro Preto: Liberdade, 2011.







Comentários

  1. NO Serro a primeira celebração a santa cruz é feita pela irmandade do Rosario que tem um cruzeiro na praça a frente da igreja . Durante todo o mes de maio, na area urbana e na area rural , sao enfeitados e festejados os cruzeiros.

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