BEATA NHÁ CHICA E O

RIO DAS MORTES PEQUENO

 

Deus nosso Pai, vós revelais as riquezas do vosso Reino aos pobres e simples. Assim agraciastes a Bem-Aventurada Francisca de Paula de Jesus, Nhá Chica, com inúmeros dons: Fé profunda, Amor ao próximo e Grande Sabedoria. Amou a Igreja e manteve uma terna devoção à Imaculada Conceição. Por sua intercessão, concedei-nos a graça de que precisamos (pedir a graça). Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

 

Oração da beata Nhá Chica

https://www.santuarionhachica.com.br/ora%C3%A7%C3%B5es-a-beata-nh%C3%A1-chica

 

Santo Antônio e a Beata Nnhá Chica,trevo do distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno. São João del-Rei. Fotografia: Luiz Cruz. 

 

Francisca de Paula de Jesus nasceu no distrito do Rio das Mortes Pequeno, distrito de São João del-Rei, em 1810 e faleceu em Baependi, em 14 de junho de 1895. Era filha e neta de escravizados, que ficora órfã de mãe aos 10 anos, juntamente com o irmão Teotônio com 12 anos – os dois cresceram e viveram em Baependi, sob a proteção de Nossa Senhora da Conceição.

O distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequenos é uma ocupação muito antiga. É importante destacar que a Irmandade de Santo Antônio foi instalada em 1722, sua instituição datada da segunda década do século XVIII conforme consta do “Compromisso da Irmandade de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno Sendo o Juis O Capitam Pedro da Silva Anno de 1722”. Na segunda folha do livro há um desenho de uma cruz, com a seguinte anotação: “feito por Antonio Marques de Moura, grátis”. (DECIS/UFSJ, Agosto/2004). 

   



Sítio Arqueológico da Igreja Velha, onde Nhá Chica foi batizada e o Rio das Mortes Pequeno. São João del-Rei. Fotografia: Luiz Cruz.


Sítio Arqueológico Igreja Velha, local do batismo de Nhá Chica. São João del-Rei. Fotografia: Luiz Cruz.

 

 O Rio das Mortes Pequeno ocupava área bem próxima ao rio, em caminho que ligava São João del-Rei a Lavras do Funil – atual município de Lavras. Edificaram uma capela dedicada a Santo Antônio a poucos metros das margens do rio. Nessa edificação, que contava com o retábulo-mor, com a imagem do orago e os retábulos laterais dedicados à Nossa Senhora do Rosário e a São Miguel. Conforme registrado, foi nessa capela que se realizou o batizado de Francisca de Paula de Jesus, popularmente conhecida como Nhá Chica:

 

Francisca – aos vinte e seis dias de abril de mil e oitocentos e dez na capela de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, filial de São João del Rei, de licença do Reverendo Joaquim Alves batizou e pôs os Santos Óleos a Francisca, filha natural de Isabel Maria, e foram padrinhos Ângelo Alves Francisca Maria Rodrigues todos daquela Aplicação.

O Coadjutor Manoel Ant. de Castro

 

Nnhá Chica não foi alfabetizada. Com a mãe Isabel Maria aprendeu a rezar e a cultuar Nossa Senhora da Conceição, a quem devotava orações diárias, principalmente às 15h. Junto a sua modesta casa, em Baependi, construiu uma capela dedicada à sua devoção. Gostava de ouvir as palavras sagradas e sempre pedia alguém para ler os textos religiosos para ela. Não se casou e se dedicou às orações, à caridade e ao aconselhamento dos que a procuravam. Era chamada de Mãe dos Pobres, por socorrê-los com orações, acolhimento e suprimentos. Tornou-se conhecida e muitos peregrinos, de origens diversas, dirigiam-se à Baependi para receber suas orações e bençãos.

A beatificação de Nhá Chica ocorreu no dia 14 de maior de 2013, em Baependi, onde viveu e construiu a igrejinha. A cerimônia de beatificação foi presidida pelo prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, o cardeal Ângelo Amato, que anunciou a data de 14 de junho como a Festa Litúrgica em memória de Nhá Chica – a primeira preta e leiga brasileira declarada beata pela Igreja Católica.

Francisca de Paula de Jesus faleceu a 14 de junho de 1895 e se completam 130 anos de sua passagem. Hoje, no Rio das Mortes ocorre intensa programação, com alvorada festivas, missa solene e às 19h, a procissão com a imagem de Nhá Chica que percorrerá as ruas do distrito.

Já em Baependi, no Santuário de Nossa Senhora da Conceição, segundo a Secretaria de Turismo local, a cidade deve receber pelo menos 20 mil romeiros, que passarão para agradecer e pedir graças à beata Nhá Chica – a santa dos pobres.

O distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno é um lugar muito privilegiado, pois em dois dias consecutivos celebra o dia do padroeiro Santo Antônio e logo o da padroeira a beata Nhá Chica. A comunidade se organiza e promove comoventes festejos.

Boa oportunidade para se chegar ao distrito é fazer o Caminho de Nhá Chica, partindo de São João del-Rei, seguindo pelo sopé da Serra do Lenheiro – que compõe bela paisagem. Trechos do trajeto são ensolarados e outros com sombra. A primeira parada é onde nasceu a beata e deve seguir para se chegar às ruínas da Igreja Velha, onde ela foi batizada. É um sítio arqueológico, local de concentração de peregrinos e de orações. Árvores cresceram e protegem os vestígios. Há ainda a replica da pia do batizado de Nhá Chica. O caminho está bem-sinalizado para a devida orientação do peregrino. 

   


                               

Roteiro do Caminho Peregrino de Nhá Chica, bem sinalizado. São João del-Rei. Fotografias: Luiz Cruz.


Sítio Arqueológico Igreja Velha, Capela de Nhá Chica. São João del-Rei.Fotografia: Luiz Cruz.

 

Chegar ao sítio da Igreja Velha é uma benção. Este lugar sagrado nos transmite serenidade, acolhimento e nos sentimos bem, com uma energia altamente positiva. Lá foi edificada nova capela, agora dedicada à beata Nhá Chica. Tudo ali se encontra em harmonia, religiosidade, devoção, arqueologia, meio ambiente, cultura, lazer e entretenimento. 

   


Cruzeiros dos Martíros, Rio das Mortes Pequeno. São João del-Rei. Fotografias: Luiz Cruz. 

 

No Rio das Mortes Pequeno encontramos belíssimos Cruzeiros dos Martírios, um deles é o Cruzeiro do Ataio (Atalho), que marca o caminho antigo de São João del-Rei para Lavras.

A Matriz de Santo Antônio, erguida após a grande enchente que destruiu a Igreja Velha teve obras e se construiu uma nova torre sineira. Seu interior é singelo, mas a imagem do padroeiro é muito linda e no dia 13 estava no andor enfeitado com flores e pães. A missa das 10h, foi presidida pelo vigário, com a participação de centenas de crianças que formaram um belo coro. Ao final teve a benção e distribuição dos tradicionais pães de Santo Antônio. Com tanta criança participando e cantando, essa celebração deve ter deixado o santo lisboeta bem feliz.



 

  

Matriz de Santo Antônio, o andor, o coral de crianças e os pães de Santo Antônio. São João del-Rei. Fotografias: Luiz Cruz.

 

Ao lado da Matriz, vive o senhor Antônio Carneiro, um congadeiro, que por meio século saiu no Congado de Nossa Senhora do Rosário do Rio das Mortes. Este é o mais antigo congado do Campo das Vertentes e de Minas Gerais, ainda em atividade, com mais de 300 anos de existência. A festa de Congado acontece no mês de outubro juntamente com a Festa de Nossa Senhora do Rosário.

Antônio Carneiro é o cartão de visitas da localidade, todo orgulhoso de sua história, nos apresenta as fotografias antigas do distrito, dos seus antepassados e para nossa alegria nos leva para a cozinha para acender o fogão à lenha e aquecer a manhã gelada do dia 13 de junho. Conta casos e fala de sua profunda devoção a São Bento e à Nossa Senhora do Rosário. Figura ímpar, parece que Antônio Carneiro fugiu de uma das páginas escritas por João Guimarães Rosa e se instalou definitivamente naquela casa repleta de histórias e memórias.

 

Fotografia antiga do centro do distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes. Fotografia: acervo de Antônio Carneiro. São João del-Rei. 

 

Antônio Carneiro e sua fotografia antiga do distrito do Rio das Mortes.São João del-Rei. Fotografia: Luiz Cruz.

 


Guarda de Congado de Nossa Senhora do Rosário do distrito do Rio das Mortes;Antônio Carneiro é o terceiro da fila da direita. Ele em sua casa, com os instrumentos do congado. São João del-Rei. Fotografias: Luiz Cruz.

 

Em Mariana, a Primaz de Minas Gerais, no dia 5 de junho deste ano, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, a Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, promoveu a Pastoral Afro-Brasileira, da Arquidiocese de Mariana. Um dos momentos mais bonitos ocorreu com a entradas as bandeiras dos santos e santas pretas que ocuparam a capela-mor da igreja. Lá estavam todos representados e homenageados, inclusive a beata Nhá Chica.

 

Pastoral Afro-Brasileira, Igreja de Nossa Senhora do Carmo, de Mariana.Bandeira dos santos e santas pretas do Brasil. Fotografia: Luiz Cruz.

 

O Dia de Nhá Chica, em São João del-Rei, é celebrado com feriado municipal, de acordo com a Lei Nº5,546, de 2019, em decorrência de sua beatificação ocorrida em 2013 e após o reconhecimento pela Igreja Católica de um milagre atribuído a ela.  

 

Luiz Antonio da Cruz

 

 



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