A Serra de São José é um Tesouro

 

Serra de São José,

fazemos parte de seu forte ser,

com amor e muita fé,

queremos te manter;

Axé!

 

Ruy José Válka Alves, Serra de São José.

 

Flor com folhas verdes

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Orquídea Zeuxine strateumatica, identificada na Serra de São José.

Tiradentes. Fotografia: Luiz Cruz.

 

 

Muito além de uma moldura natural do núcleo arquitetônico e urbanístico de Tiradentes, tombado pelo Iphan desde 1938, a Serra de São José é um ELEMENTO PATRIMONIAL PER SI – ou seja, individualmente, isoladamente, independente dos demais aspectos do seu entorno. Sua história geológica deve ter iniciado em torno de 1,8 bilhões de anos e esteve soterrada em significativa profundidade. Há cerca de 600 milhões de anos, com a pressão de elevadas temperaturas e a movimentação das placas tectônicas, o “mineral chamado cianita, que aparece nas rochas da Serra de São José é um indicador da profundidade em que essas rochas estiveram. O conjunto soerguido, erodido, as camadas da serra hoje aparecem inclinadas para o norte” (Casa da Serra-IEF-MG, Águas Santas, Tiradentes).


                     

Tiradentes vista do alto da Serra de São José. Fotografia: Luiz Cruz.

 

Composta por dois biomas, a Mata Atlântica e o Cerrado, com diversos ambientes, a Serra de São José abriga exuberante biodiversidade. É rica em recursos hídricos e contemplada por fabuloso conjunto de sítios arqueológicos – dos mais significativos de Minas Gerais. Vincula-se à população do seu entorno de modo afetivo e se tornou ao longo do tempo espaço para a cultura de subsistência, também para o lazer e o entretenimento.


Campo de terra

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No bloco rochoso da Serra de São José, pode-se observar diversas camadas

de sua formação geológica. Trilha do Carteiro, Tiradentes. Fotografia: Luiz Cruz.

 

Montanha de pedras

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No bloco rochoso da Serra de São José, pode-se observar diversas camadas

de sua formação geológica. Trilha da Biquinha, Prados. Fotografia: Luiz Cruz.

 

A Serra de São José abriga as unidades de conservação ambiental administradas pelo IEF-MG, a APA São José e o REVS-Refúgio Estadual de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José. Extremamente importante para a vitalidade da biodiversidade das UCs da serra é a proteção da sua área de amortecimento; infelizmente, na atualidade, sofre severo impacto ambiental promovido pela especulação imobiliária e devastação sob os auspícios da Prefeitura e da Câmara Municipal de Tiradentes.

 


Vegetação da área de amortecimento da Serra de São José. Fotografia: Luiz Cruz.

 

Nas UCs da Serra de São José e na área do entorno, ou seja, de amortecimento, ocorre uma rica diversidade de plantas, várias delas ainda sem estudos. Merece enfatizar que muitas manchas de matas fora dos limites das UCs da serra foram preservadas e ganharam expressividade, principalmente após a amenização dos incêndios florestais.

Na minha caminhada de 11 de agosto de 2025, na Trilha do Carteiro, fiz um registro inédito de treze indivíduos de uma orquídea ainda desconhecida na área. Mobilizei os meus amigos orquidófilos espalhados por cidades mineiras, a pedir ajuda para a identificação da planta. Allehandro José dos Santos – estudante de Ciências Biológicas e bolsista do Laboratório de Botânica da UFSJ-Universidade Federal de São João del-Rei, conseguiu identificá-la, a Zeuxine strateumatica, popularmente conhecida como “orquídea soldado” e “orquídea de gramado”. Trata-se de micro orquídea, de hábito terrestre, que prefere temperaturas frias a quentes. Tem um rizoma com uma haste carnuda ereta, de cor marrom pálido, ligeiramente esverdeada, com folhas lineares e afiadas. Floresce entre o inverno e o início da primavera. A flor é branca, bem alva, com o labelo amarelo.

Trata-se de orquídea difundida a partir da Ásia e presente em poucos países. No Brasil, seu registro é recente, foi identificada por três pesquisadores: Luiz Menini Neto, Marcelo Rodrigues Miranda e David Cruz, em Caraguatatuba (SP), em 2009. Mais recentemente, registrada no Paraná e Santa Catarina. Na Serra de São José e para Minas Gerais, o nosso registro é o primeiro dessa espécie.

 

Países em que ocorrem a orquídea Zeuxine strateumatica, inclusive o Brasil.

Fonte: https://www.picturethisai.com/pt/wiki/Zeuxine_strateumatica.html. 

 

Caixa de planta

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Zeuxine strateumatica identificada na Serra de São José, Tiradentes. Fotografias: Luiz Cruz. 

 

O Herbário da UFSJ ainda não tinha sido contemplado com essa espécie, a Zeuxine strateumatica. Dos treze indivíduos da espécie, coletei dois e destinei ao Laboratório de Botânica da UFSJ, para a montagem da exsicata da planta – exsicata é uma amostra de planta coletada, prensada, desidratada em uma estufa, com temperatura elevada, mas apropriada para o material; posteriormente são fixadas em suportes padronizados, com as informações sobre o vegetal: coletor, identificação do material, data da coleta e local. As exsicatas são montadas para fins de estudos botânicos, armazenadas adequadamente em herbários, para serem preservadas por muitos anos.


A Zeuxine strateumatica no Laboratório de Botânica da UFSJ. Análise microscópica.

Fotografias: Allehandro José dos Santos.

  

Uma imagem contendo texto, jornal, muitos, coberto

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 A Zeuxine strateumatica no Laboratório de Botânica da UFSJ. Preparo da excicata. Fotografias: Allehandro José dos Santos.

 

A Zeuxine strateumatica no Laboratório de Botânica da UFSJ. Preparo da excicata, na estufa. São João del-Rei. Foto: Allehandro José dos Santos. 

 

Excicata da orquídea Zeuxine strateumatica, Laboratório de Botânica da UFSJ, São João del-Rei. Fotografia: Allehandro José dos Santos.

 

É necessário destacar que recentemente, diversos estudantes graduandos e pós-graduandos da UFSJ e do IFMG Campus São João del-Rei desenvolvem pesquisas na Serra de São José. Os trabalhos acadêmicos são elementares para a Ciência, o conhecimento, o desenvolvimento tecnológico e também para a proteção das espécies que se tornam conhecidas e estudadas.

Proteger a Serra de São José e sua área de amortecimento é fundamental para a proteção de diversas formas de vida, como a espécie que acaba de ser identificada aqui pela primeira vez, a orquídea Zeuxine strateumatica.

 

Luiz Antonio da Cruz

Professor, doutor e mestre em Arquitetura e Urbanismo pela EAU- UFMG,

prestou estágio pós-doutoral em História, pela Fafich-UFMG; pós-graduado em

Administração e Manejo de Unidades de Conservação pela UEMG-U.S.Fish.

 


Agradecimentos a Allehandro José dos Santos, Luiz Fernando Nascimento, Elton Bello Reis, 

Ricardo Ribeiro Resende, Maria José Boaventura, Carolina Abreu, Zé Maurício e Álvaro.

 

Referências:

ALVES, Ruy José Válka. Field Guide to the Orchids of the Serra de São José. Tropicaleaf, 1991.

CRUZ, Luiz Antonio da. Serra de São José – Educação Patrimonial. Tiradentes: Mandala Produção, 2016.

https://reflora.jbrj.gov.br/reflora/listaBrasil/ConsultaPublicaUC/BemVindoConsultaPublicaConsultar.do?invalidatePageControlCounter=1&idsFilhosAlgas=&idsFilhosFungos=&lingua=

Comentários

  1. Parabéns pela sua dedicação tanto ao nosso patrimônio natural e cultural! Viva sempre a linda Serra de São José!

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  2. Parabéns pela sua dedicação tanto ao nosso patrimônio natural e cultural! Viva sempre a linda Serra de São José!
    Anderson Perdigão Faleiro

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Anderson, muito obrigado por sua presença aqui. A Serra de São José representa um potencial gigantesco, para a geodiversidade, biodiversidade, cultural e para um turismo mais consciente, mais sustentável. Estamos aqui na resistência e a cada dia ficamos mais encantados com essa serra fabulosa. Abraço fraterno.

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  3. Esse é o primeiro registro dessa espécie em nossa serra. Apesar de sua beleza, a presença dela aqui não ocorreria de forma natural.

    Trata-se de uma planta nativa da Ásia, e o mais provável é que tenha chegado ainda em forma de semente, misturada a tapetes de grama importada utilizados em projetos paisagísticos próximos à serra. À primeira vista pode parecer inofensivo, mas a introdução de espécies exóticas é uma das principais causas da descaracterização de nossas vegetações nativas.

    Hoje, por exemplo, não é difícil encontrar espécies de Pinus, Agave e até mesmo Kalanchoe nas áreas das Unidades de Conservação (UCs) da Serra de São José. Entre as orquídeas, essa situação também não é novidade: exemplares de Oeceoclades maculata, nativa da África, são facilmente identificados entre a serapilheira de locais mais sombreados.

    A invasão de espécies vindas de outros continentes altera, pouco a pouco, a composição da vegetação local, muitas vezes reduzindo as populações nativas por competirem pelos mesmos recursos.

    Por isso, ao pensar em um projeto paisagístico próximo a áreas de vegetação nativa, evite plantar espécies exóticas sem planejamento. Um projeto que valorize plantas nativas, além de mais barato, será certamente muito mais ecológico.

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    1. Allehando, muito obrigado por seu apoio, atenção e presença aqui. Suas observações são pertinentes. Seria interessante que os proprietários dos grandes jardins particulares do entorno da Serra de São José se preocupassem com as espécies exóticas que ocupam os espaços de suas propriedades, que com certeza podem proliferar e até chegar às UCs da Serra. A asiática "Zeuxine strateumatica" está numa área bastante restrita e é de difícil observação, por enquanto. Ao contrário, a orquídea africana "Oeceoclades maculata", também conhecida como "orquídea-monge" e "orquídea-malhada-africana" já pode ser observada em algumas trilhas da Serra de São José. No momento, a grande preocupação é a dispersão do "Pinus", plantado no entorno da Mineração Omega, dali se dispersou e atualmente já são mais de 3.500 indivíduos, a comprometer gravemente a vegetação nativa. A UFSJ desenvolve pesquisa sobre essa espécie, que por enquanto se encontra mais na área da serra, no município de Santa Cruz de Minas. "Pinus" é a árvore que passarinho não pousa e em caso de incêndios florestais, facilita a propagação do fogo. Allehandro, sua presença aqui foi uma boa contribuição. Gratidão!

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