ENSAIO FOTOGRÁFICO & MEMÓRIA

No dia 7 de junho de 2022, completou-se mais um ano que o artista visual Fernando Antônio Rocha Pitta Sampaio (1953-2006) partiu, quando vivenciava a plena maturidade e a bela produção de Arte. Segundo a artista Maria José Boaventura, Fernando Pitta escolheu um dia bonito para morrer, pois a 7 de junho de 1848, em Paris, nascera o pintor Eugène-Henri-Paul Gauguin. Segundo Boaventura, Pitta teve algumas similaridades com Gauguin, especialmente na construção dos ambientes para a produção artística.

Fernando Pitta e os gêmeos, 1981. Foto: Luiz Cruz.

Em 1980, eu já morava no Rio de Janeiro, enquanto que em Tiradentes se iniciava a implantação dos projetos urbanísticos criados pelo paisagista Roberto Burle Marx, elaborados a partir de solicitação de Dona Maria do Carmo Nabuco. Os projetos foram executados com o apoio do Ministério do Turismo/Embratur e contemplaram os seguintes largos:  do Chafariz, das Mercês, do Sol, das Forras, além dos cemitérios da Matriz de Santo Antônio e o de Nossa Senhora das Mercês.


Gauguin, Autorretrato, óleo sobre tela, 1896. Acervo MASP – SP. Foto: Luiz Cruz.

Logo circulou a notícia que todas as árvores seriam subtraídas para o plantio de espécies nativas. As casuarinas (Casuarina equistifolia – espécie que tem distribuição natural na Austrália) foram plantadas no Largo do Sol no final da década de 1930, já tinham grande porte, algumas retiradas nas décadas de 1950 e 60, para as adequações do paisagismo.

              

 Fernando Pitta entre os troncos das casuarinas, 1981. Foto: Luiz Cruz.


Ann e os gêmeos entre as casuarinas e no Largo do Sol. 1981. Fotos: Luiz Cruz.

Em 1981, no meu trabalho, no Rio de Janeiro, recebi ligações de tiradentinos a pedir socorro para as árvores. Como tinha compromissos, só poderia viajar no final de semana e quando cheguei a Tiradentes, no sábado, todas árvores tinham sido derrubadas na sexta-feira. Fiquei no Largo do Sol a assistir as pessoas a passar para se despedir das velhas casuarinas, afinal, boa parte da população cresceu e envelheceu como elas mesmas. Tentei fotografar os meus concidadãos, mas nenhum quis ser registrado naquele momento. Então, fui à casa do casal Fernando e Ann, que morava na esquina do Largo do Sol e os convidei para um ensaio fotográfico em protesto ao corte das árvores. Entre os galhos das casuarinas registrei os dois, mais os filhos gêmeos Matheus Rocha Pitta e Thiago Rocha Pitta. Os meninos bem novinhos, que pareciam anjos barrocos que fugiram da talha joanina da capela-mor da Matriz de Santo Antônio.

                                        

Ann entre os troncos de casuarina, 1981. Foto: Luiz Cruz.

Assim, ficou registrada a primeira manifestação em defesa de um patrimônio em que os gêmeos participaram. Aqui, eles sempre acompanharam tudo que ocorria na cidade. Hoje, Thiago e Matheus são artistas bem conceituados, que desenvolvem trabalhos expressivos e participam de exposições no Brasil e no exterior. Com certeza nossa querida Tiradentes foi inspiração para a larga produção artística de Fernando Rocha Pitta e claro, também, de seus filhos artistas visuais.

Comentários

  1. Saudades do meu querido primo Fernando. Albert Rocha Pitta

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Alberto, o Fernando partiu muito cedo e deixou muitas saudades.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Publicações sobre patrimônio cultural e ambiental de Tiradentes e região - abordando o patrimônio material e imaterial.

Postagens mais visitadas.