UMA TRAJETÓRIA ILUMINADA
“Não somos políticos-partidários. Defendemos causas.
Somos a favor da razão, a favor do diálogo,
a favor da emancipação humana. Somos contra a
intolerância e contra a repressão”.
Adriana Rouanet,
Instituto Freitag-Rouanet
A cidade de Tiradentes
com os seus encantos materiais e imateriais atraiu a atenção de muitas pessoas,
algumas de grande expressividade intelectual, dentre elas Sergio Paulo Rouanet
e Bárbara Freitag. Os dois decidiram adquirir uma casa na Rua Direita, em 1990,
e aqui viver parte de suas vidas.
Hoje recebemos a notícia da partida de Sergio Paulo Rouanet (1934-2022) e o Brasil ficou mais pobre e menos iluminado. Rouanet percorreu longa jornada para se tornar um dos mais expressivos pensadores brasileiros: graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUC-RJ, em 1955, e fez o curso do Instituto Rio Branco no mesmo ano; em 1980, doutorou-se em Ciência Política, pela USP. Diplomata, pesquisador, autor, tradutor, antropólogo e filósofo, conferencista e professor na pós-graduação em Sociologia da UnB, do Instituto Rio Branco, visitante da UnB e da Universidade de Oxford. Desde 1992, Rouanet ocupava a cadeira 13 da Academia Brasileira de Letras.
Publicou as seguintes
obras: O homem e o discurso – arqueologia de Michael Foulcault, 1971; Imaginário
e dominação, 1978; Habermas, 1980; Édipo e o anjo – itinerários
freudianos em Walter Benjamin, 1981; Teoria crítica e psicanálise,
1983; Razão cativa, 1985; As razões do iluminismo, 1987 – livro que
reúne uma coletânea de ensaios que abordam a modernidade para descontruir a
pós-modernidade e resgatar a própria “modernidade”. Textos elementares para
entendermos a importância do período iluminista como um caminho de luz para a
modernização da VIDA, mas um percurso nada etério, sim estruturado na
ilustração. Um dos conceitos que aborda,
a “protopaisagem” nos induz a reflexão do que ocorre em nossa própria
Tiradentes, a descaracterização em consequência da ocupação desordenada. Ainda,
o tema tão caro e tão necessário para o Brasil de hoje, que é a “RAZÃO”. Além
dos livros, Rouanet publicou diversos artigos em revistas especializadas, como
a de Estudos Avançados da USP e no Caderno Pensar, do Jornal
Estado de Minas, dentre outros.
Em tempos tão difíceis e
de tantas obscuridades, o Brasil perde uma das figuras mais iluminadas da
contemporaneidade. Aqui em Tiradentes, Rouanet e sua amada Bárbara Freitag
(1941) – que é cientista social e também professora, tivemos o privilégio de
ver os dois circulando e a apreciar a cidade. Frequentaram assiduamente o
Instituto Cultural Biblioteca Largo do Ó e prestigiaram os eventos lá
promovidos. Sempre que podiam, estavam na plateia do Centro Cultural Yves Alves
para assistir palestras, concertos, apresentações.
Quando convidado, ele apresentou brilhantes conferências, como a do Seminário Basílio da Gama seu tempo e sua obra, ao abordar sobre o Iluminismo e José Basílio da Gama, ocasião em que nos revelou que era grande admirador da obra do poeta sanjosefense.
Em 2015, depois do lançamento
do livro Recortes de Memórias, Bárbara Freitag e Sergio Paulo me
convidaram para tomar chá e conversar sobre a publicação. Fui à casa da Rua Direita, conversamos
longamente sobre os ensaios e o processo de construção da obra. Foi um dos
momentos mais profícuos da minha vida, tratar da minha publicação com dois
grandes professores, autores e pensadores. A eles serei eternamente grato pela
generosidade e atenção daqueles momentos.
A última vez que me
encontrei com o casal Freitag-Rouanet foi no Largo das Forras e até fiz uma
foto deles. Ela me disse que estavam indo conversar com “Ele”, que a Capela do
Senhor Bom Jesus da Pobreza era a preferida do Rouanet na cidade. Aquela
edificação tão singular tem sua elegância e o que mais importa é a Fé.
Tiradentes fica mais
pobre sem o personagem Rouanet, o Brasil perde um espírito de luz. Mas quem
teve oportunidade de aproveitar aqui sua presença, com suas conferências ou suas
ponderações nos eventos culturais, com certeza tem boas lembranças. Como dizia
Walter Benjamin, nada melhor que a própria experiência.
A casa da Rua Direita, em
Tiradentes, abrigará o Instituto Freitag-Rouanet, com sua preciosa biblioteca
com cerca de 15 mil volumes, diversas fotografias e objetos que contam as histórias do casal.
De Tiradentes enviamos
nosso abraço forte e fraterno para Bárbara e seus filhos Marcelo, Luiz e
Adriana.
Meus sentimentos aos familiares e amigos que Deus de o conforto a todos
ResponderExcluirMuito obrigado. Bárbara e os filhos devem sentir profundamente essa perda. Abraço
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